terça-feira, 20 de julho de 2004

Copacabana: O que é isso?
 
Eu não me sinto bem em Copacabana. Nossa, um carioca dizendo isso, o que vão pensar? Como não tenho nenhum destaque na cena nacional, fico mais à vontade para desabafar sobre o que o bairro mais famoso do Brasil me proporciona. De ruim.
 
Turistas proliferam-se, e em pouco tempo você ouve uns 3 idiomas que não o português. Natural, sendo o lugar mais propagandeado no mundo, junto a Ipanema e sua garota. Artificiais moradores, uma vez que são temporários, deslocando Copacabana do cenário nacional. Dentro da minha cidade, do meu país, me sinto expulso, quase exilado. Uma saudade de casa estando em casa, é estranho.
 
E há o barulho, muito barulho, como se vive ali? Só nos andares superiores dos prédios, individualizando-se do contato social ao fugir da poluição sonora. Mil ônibus a mil, multidão em eufemismo dominando a calçada. Calçada democrática, que abriga as melhores joalherias, academias e os meninos de rua e suas famílias, mais os doentes cuja única opção é esmolar para brasileiros e gringos. A gente, com pressa, não pode se deter. Não quer se deter, o que é pior. Sinto-me pior constatando isso.
 
Copacabana não tem "cara" de nada, tendo "cara" de tudo. Um prédio comercial e suas heterogêneas salas, as plurais lojas de rua, as mosaicas bancas de jornal com suas carnes lânguidas à mostra no bairro protagonizado por 70% de idosos. Um "mix" em cada esquina, transfigurante, indecifrável por quem passa. Que desconforto ao não encontrar refúgio em nada familiar, simples.
 
O que é, afinal, Copacabana? Não sei, não há como saber ou definir, e talvez seja isso que me incomode. Diante dessa incógnita social-geográfica, a gente não relaxa. Precisa ficar o tempo inteiro decifrando, a distração por aqui não passa, um desejo de estar num cantinho longe dali, com a pessoa amada, emerge.  A impessoalidade de Copa nos isola em conjunto.
 
Desculpem moradores e admiradores. Mas é uma impressão pessoal, produzindo opinião sensível, sincera, sensata. Copacabana hoje é mitologia, aquele lugar de honras a deuses e lendas melhores que a realidade, de passado esfuziante versus presente decepcionante. O lugar dos deuses não é lugar pra nós. Prefiro sumir, e rápido.