quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Podia ter saído na Piauí...

Escrevi a matéria abaixo e mandei como colaboaração para a seção "Esquinas", da revista Piauí, em agosto de 2007. Infelizmente, não foi publicada. Mas resolvi disponibilizá-la no Lessa27 e, por que não?, colocá-la no hall de entrevistas do blog.


Protestantismo em série
Tarzan e Homer Simpson professam Calvino e processam a FOX

Homer Simpson é protestante. Freqüenta a igreja aos domingos, tem a Bíblia como regra de fé e prática, e orienta-se pela ortodoxia calvinista. Tem noção de quem o ouve e o admira. Tem noção de que, quando fala, possui aprovação quase unânime. Ao ser passado pra trás, fez questão de ser ainda mais protestante. Há alguns meses protesta contra a FOX, a casa que o convidou para entrar há 18 anos. Nada disso foi levado em consideração quando Homer alcançaria o seu momento máximo. Na verdade, para muitos, Homer Simpson ficou mudo. Waldyr Sant’anna, o dublador que melhor encarnava o espírito do personagem do desenho de Matt Groening, usando somente suas cordas vocais, foi tirado da produção do filme e do seriado dos Simpsons, após entrar em litígio com a FOX. Ah, e Waldyr é presbiteriano.

A produtora e distribuidora de filmes norte-americana lançou as temporadas em DVD da série, mas não pagou os devidos direitos a Waldyr. Ele não teve escolha senão entrar na justiça contra a FOX, que por sua vez tirou o dublador do filme, que é considerado um dos arrasa-quarteirões do ano em bilheteria. Waldyr já tinha gravado o trailer e os teasers do filme, disponíveis no YouTube dois meses antes da estréia.

“Os Simpsons – o filme” é um dos poucos lançamentos internacionais que chegam aos cinemas brasileiros com muito mais cópias dubladas do que legendadas. Não apenas por ser desenho animado, mas também porque boa parte dos fãs prefere as vozes em português. E muito desse sucesso deve-se à voz de Homer, isto é, de Waldyr. Por esses acasos que enriquecem reportagens pelo mundo (inclusive esta), um detalhe: Waldyr não era o indicado para o papel. “Quando vieram escolher as vozes brasileiras dos Simpsons eu dirigia filmes para a VTI Network, uma empresa do ramo de dublagem, e uma senhora da FOX americana, após ter percorrido alguns estúdios em São Paulo testando vozes, veio ao Rio, para o mesmo trabalho, chegando até a VTI”, explicou Waldyr em entrevista antiga, disponível na internet. Por determinação da empresa, ele acompanhou a visita da dita senhora, e por falar inglês transmitia aos atores aquilo que ela pretendia extrair deles em termos artísticos, traçando um pouco do perfil de cada personagem. “Num determinado momento um ator que fazia o teste para o Homer não havia acertado a inflexão de voz, e eu fui mostrar a ele a maneira mais adequada ao perfil do Homer, não bastando a voz grave , mas sim falar como se tivesse um ovo na boca”. Ela gostou do som que Waldyr fez, e na mesma hora gritou: “That’s it, you are Homer Simpson! You are perfect! Ok, it’s enough for me, you are the Homer! ( É isso , você é o Homer. É perfeito. Para mim já basta, Você é o Homer)”.

Desde então, Waldyr continuou dublando outros desenhos, mas era só você ouvir o narrador de Sheep na Cidade Grande, parar o trânsito e gritar: “É o Homer!”. Mas Waldyr se mostrou versátil: ele já dublava Eddie Murphy em “Um tira da pesada”, com uma voz bem diferente de Homer, por exemplo. Desde 1958 Waldyr faz dublagens – “fiz os Tarzans todos” – e ele aproveita o assunto do litígio para chamar a atenção para o poder dos telespectadores contra as distribuidoras e suas imposições. “O que a FOX fez não foi apenas uma agressão a mim, mas a toda a classe de dubladores. E quem faz o sucesso de qualquer programa de TV é o seu público, que é um público consumidor daquele produto”. Alguns parecem ter entendido o recado, pois caçaram as cópias legendadas de “Os Simpsons – o filme” só por não ser a voz de Waldyr nas dubladas. Pessoas que ainda nem ouviram a nova voz, ou seja, não chegaram sequer a comparar, pois para eles Homer é Waldyr, Waldyr é Homer. No “Oscar da Dublagem”, realizado anualmente, foi só ele aparecer no palco para a platéia berrar “Homer! Homer! Homer!”. Em retribuição, ele saúda a todos com a voz de...

Waldyr é presbiteriano, uma das denominações mais tradicionais da igreja protestante no mundo. Embora more na Urca, freqüenta a Igreja Presbiteriana da Tijuca. Seu rosto é de uma morenice quase indiana, e o sorriso é aberto com dentes que, de fato, parecem desenhados. Ao atender ao telefone, nunca diz alô, e sim “Diga!”, num timbre de voz que já lembra o de Homer. Ele explica que o fato da família Simpson ser protestante o ajudou a se adaptar ao seriado. Mas e as críticas ácidas à religião? Ele não se incomoda, acha que “eles satirizam situações, sem outra intenção a não ser a de transformá-las meramente em sátiras”. O que pareceu incomodar Waldyr, mesmo, foi o episódio em que os Simpsons vêm ao Rio de Janeiro. Perguntado se ainda dublava Homer na época, ele responde, seco: “Felizmente, não”. A polêmica antes da exibição no Brasil foi tamanha que a FOX, antes de transmitir o fatídico episódio, exibiu outros três em que os Simpsons visitavam África, Austrália e Japão, com sarcasmo afiado. Nos intervalos, um comunicado oficial da FOX dizia que a responsabilidade pelo conteúdo era da turma de Matt Groening, criador da série. No episódio do Brasil, os Simpsons vêm ao Rio e Homer é seqüestrado por um táxi pirata, uma apresentadora de programa infantil é sexy demais para crianças e Bart é engolido por uma cobra numa floresta amazônica ao lado do Pão de Açúcar. “Amazônia no Rio é demais!”, devem ter pensado as autoridades do setor de turismo.

Carlos Alberto, o dublador escolhido para o filme (e para o seriado), parece bom, mas depois de um tempo, o espectador parece cansar da voz, que em alguns momentos esganiça. Com Waldyr não era assim, a piada era metade do roteirista e metade do dublador. A opinião dele sobre o substituto: “excelente pessoa e um bom profissional aprovado e escolhido pela FOX”. E o filme, assistiu? “Não."

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Engenhoso!

Foi um daqueles dias em que eu, despreocupadamente, resolvi alugar um documentário para assistir. Há muitos na minha galeria dos "não-alugados", e o filme sobre a vida do escritor José Lins do Rêgo foi o escolhido da vez. Para quem nunca leu nada de sua obra é uma convocação a mergulhar no mundo do menino de engenho.

Vladimir Carvalho, um dos melhores documentaristas brasileiros, é do estilo em que o entrevistador (no caso, ele) aparece no filme, fazendo com que cada entrevista seja automaticamente convertida em conversa fraterna e espontânea. Até o ambiente do lugar Vladimir consegue captar nas filmagens, sem prejudicar os objetivos de sua pesquisa sobre Zé Lins.

As alterações de humor, a relação com a memória pessoal e familiar, a desenvoltura nas letras a partir do encontro com Gilberto Freyre e a obsessão pelo Flamengo estão relatadas. E muitas histórias e observações de seus amigos e contemporâneos, demonstrando como a obra de Zé Lins é melancolicamente autobiográfica.

Nada se compara ao depoimento longo de Thiago de Melo, grande amigo do escritor e que esteve com ele nas horas finais, no hospital. A capacidade do poeta em descrever os acontecimentos, alternando tragédia e comédia, e sempre deixando à tona sua sensibilidade perante o drama de Zé Lins é de comover qualquer um.

O engenho de Zé Lins é da galeria dos documentários nacionais que revela parte da história e da cultura brasileiras por meio de seu objeto de pesquisa - no caso, sujeito de pesquisa: José Lins do Rêgo, paraibano, flamenguista, romancista que marcou a literatura. Méritos a Vladimir Carvalho por nos permitir o acesso a tanto conhecimento sobre nosso Brasil.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


Engodo eleitoral - parte 1


Nem bem assumiu a Prefeitura e Eduardo Paes já descumpriu uma das promessas de campanha, que era não aceitar indicação política para os cargos do secretariado. Ok, Duda só acatou a idéia após Gabeira fazer sucesso com ela desde o princípio. Mas acatou. E agora, um verdadeiro desacato à autoridade - no caso, dele mesmo.

Fora isso, Duda também acusou Gabeira de, ao receber apoio de Cesar Maia, fazer com que o prefeito "saia por uma porta e entre por outra" no novo governo.

Pois Duda escolheu Ruy Cesar Miranda para a Secretaria Especial Copa do Mundo e Olimpíadas 2016. Quem é Ruy Cesar? Ele cuidou do Pan 2007 (carro chefe do terceiro governo de Cesar Maia) e até junho era secretário do prefeito.

O cinismo volta à tona, escancarado. E vem mais por aí...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Chico Caruso rules!


Da esquerda para a direita: Aécio Neves e Paulo Lacerda (prefeito de BH); Cabral e Paes; Serra e Kassab (prefeito de SP); e Lula e Luiz Marinho (prefeito de São Bernardo do Campo).