quinta-feira, 7 de abril de 2011

Life goes on!


Agora que foi confirmado o show de Paul McCartney no Rio, resolvi contar como foi minha experiência na apresentação de São Paulo, no ano passado. Até então, tinha esperado 20 anos por esse momento.

Explico: em 1990 minha mãe trabalhava na Prefeitura, como assessora de uma secretaria. Quando Paul veio ao Maracanã, ela ganhou ingressos para o show. Eu, que cursava a quarta série do primário e tinha 10 anos, já gostava dos Beatles.

Se outras crianças pediam brinquedos de aniversário ou de Natal, daquela vez pedi pra ir ao show com ela. Três anos antes, passamos um literal aperto ao ver a chegada de Papai Noel no Maraca. E preocupação de mãe às vezes é grande demais: com receio de me levar na muvuca (foram mais de 184 mil espectadores), ela me deixou em casa rangendo os dentes e foi ver seu ídolo da juventude - embora ela preferisse o George.

O episódio virou um folclore na família. Enquanto meu gosto pelos Beatles só aumentava e se refinava, as brincadeiras de que minha mãe tinha me causado um trauma (e que eu nunca a havia perdoado) possuíam um pequeno fundo de verdade. Ela também teria ficado traumatizada posteriormente, cheia de remorso.

No entanto, o tempo passou, hoje sustento minha casa com o suor do meu rosto, sou dimaior e... Paul McCartney resolveu estender sua turnê ao Brasil! Não conseguia acreditar, já que sempre houve boatos de sua vinda, nunca confirmados.

Lá fui eu pra São Paulo, com ingressos comprados pra pista (a maior muvuca, mãe!), sabendo que não haveria nenhum remorso futuro. Só mesmo Paul McCartney para me fazer enfrentar a fila gigantesca no entorno do Morumbi, ficar um total de cinco horas em pé para depois voltar de madrugada ao Rio.

E valeu muito a pena. Grandes sucessos dos Fab Four, do Wings e da carreira solo de Paul, ótima banda, um sonho realizado. Já posso dizer a meus filhos que vi os Beatles ao vivo!

Fico me perguntando se teria ido ao show de 2010 caso tivesse comparecido em 1990. Provavelmente sim, não dá pra comparar as fases de minha vida, com suas correspondentes vivências de Beatles.

Porém de certa forma a negativa materna só acentuou minha disposição em ver Paul McCartney ao vivo de qualquer jeito. E o que é melhor: Macca afirmou que foi o show mais inesquecível do ano, e um dos melhores de sua carreira. E eu estava lá!

A prova de que o perdão não tem nenhum fundo de mentira: adorei gravar, com minha câmera, Paul cantando a música dos Beatles preferida de minha mãe: "Yesterday". E é a primeira canção deles que conheci, provavelmente graças a mamãe.

Ou seja, apesar do show de 1990, o gosto pelos Beatles pode ser creditado a um milagre feito pela santa de casa. É paradoxal: eu teria ficado tão revoltado com minha mãe se ela própria não gostasse dos Fab Four desde antes de eu nascer?

Na ironia que põe fim a qualquer trauma, agora podemos dizer juntos: EU FUI!