terça-feira, 13 de fevereiro de 2007


Carta à redação do jornal Expresso

Os tablóides pioram a vida do povo. Abusam do sensacionalismo e fazem um discurso cujo tom exacerbado desvia a atenção do que realmente importa: os fatos em si, a reflexão sobre eles, e a devida contextualização. Aliás, o mínimo de contextualização só existe até onde convém. A barbárie cometida por ladrões que arrastaram pelas ruas um menino preso no cinto de segurança serve como exemplo.

Abro o Expresso de hoje (08/02/2007), que fala da prisão dos ladrões. Destaco algumas frases:

"Isso não pode ser gente" (manchete);

"Dois desalmados foram presos...";

"Um deles é maior. Se condenado, sai da cadeia em 5 anos. O outro é menor e não fica mais de 3 anos internado. Isso é justiça, meu Deus?";

Depois de narrar novamente o passo-a-passo do episódio, desde o roubo até deixarem o carro com menino pendurado do lado de fora, segue:

"Mesmo assim, devem ficar pouco tempo na cadeia (...) Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor X. poderá pegar no máximo três anos";

Sendo assim, o que nos resta? Pena de morte, claro. Afinal, não têm alma e não são gente. E, além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente é um atraso de vida para o cidadão injustiçado.

Assim é construído o discurso. O Estatuto só é evocado quando "alivia" a pena de bandidos menores de idade. Quase ninguém lembra que ele traz uma legislação que protege filhos que apanham dos pais ou sofrem qualquer tipo de abuso. E que a ressocialização em instituições - onde o menor X. ficará por três anos - é prevista para todo o tipo de menor, não apenas para os bárbaros (que não existem aos milhares. A intensidade de um ato bárbaro é que é explorada de maneira sensacionalista para dar essa impressão).

NÃO ESTOU DEFENDENDO OS LADRÕES. Defendo um jornalismo responsável que trate assuntos sérios de maneira séria, sem reducionismos e desrespeito para com os envolvidos. A violência no Rio de Janeiro foi banalizada por veículos como Expresso, Extra, Meia Hora e outros pelo Brasil. Mas eles revelam a face mais rasteira de uma mentalidade que permeia entre seus "irmãos maiores": os jornalões de classe média encampam o mesmo discurso simplista, que não aborda o contexto da violência, apenas protestam contra o incômodo em volta de seus castelos usando dos meios de comunicação que dispõem.

Com esse tipo de jornalismo, famílias como a de João Hélio continuarão sendo vilipendiadas: pela violência física e pelos por seus "pseudo-porta-vozes" mercantilistas de pautas.

Marcos André Lessa
Jornalista