domingo, 14 de setembro de 2008


Pois é, Sandy casou. Lembrei de uma crônica de EXATOS três anos atrás, que republico agora. A cerimônia teve poucos famosos e foi fechada à imprensa. Será um indício de mudança?

Sandy estava num outdoor (14/09/2005)

Sandy estava num outdoor, chamando a atenção para uma propaganda, como sua fama a guia. Pulava sobre um automóvel, e eu da janela de meu ônibus (na condição de passageiro e não de proprietário, obviamente) reparei pela primeira vez em seu sorriso. Não vi se era bonito ou sincero, somente reparei. O ônibus fez a curva e meu raciocínio seguiu junto.

Sandy saiu daquele outdoor e foi pra casa. Foi ver TV, ouvir música, ler alguma revista, tirar uma soneca depois do almoço. É uma Sandy diferente da Sandy da propaganda? Vai saber... Mas ela não pode colocar os pés fora de casa. Nada de ataque de fãs, nada disso. Sandy sai de casa, porém condicionada. Sandy é uma máquina.

Sandy não pode acordar de mau-humor e assim sair de casa, ou triste por algum outro motivo pessoal. As capas não dormirão no ponto, e estamparão o diagnóstico: "Sandy em depressão". Sandy não pode brigar com o namorado (não poderia sequer namorar, ao menos como a Sandy de dentro de casa), pois as capas exortarão: "Sandy e Fulano: será o fim?". Sandy não pode falar palavrão, não pode desabafar diante da possibilidade de uma câmera. Sandy precisa sorrir pra pular no automóvel.

Sandy faz shows, sessão de fotos, vai cumprir o contrato global e surgir alguns minutos na telinha, Sandy convocada para a telona, Sandy suspeita de silicone, Sandy Lolita quase nua, Sandy talvez na carreira independente, Sandy címbalo sexual-midiático, Sandy a boa filha, Sandy a inspiração, Sandy e a Melissinha, Sandy e as crianças, os adolescentes, os adultos.

Sandy volta pra casa. Extenuada? Vai saber... Sandy deve adorar colocar os pés em casa e ser a Sandy que sempre sonhou, que ironicamente é a Sandy real, a Sandy que nunca estaria nas capas. Não por ser má pessoa, mas por não ser a máquina que todos precisam e almejam encontrar a cada 15 minutos de fama, renováveis. Sandy olha no espelho e vê espinhas, olheiras e a maquiagem desfeita. Sandy deve sorrir um sorriso diferente do outdoor e deitar na cama que, por enquanto, não possui uma câmera à espreita. Sandy no Big Brother? "Interessante, ainda não havíamos pensado nisso...".

Sandy, a máquina, violenta todo dia a Sandy normal, com o consentimento de seus pais, seu irmão (máquina, idem), sua conta bancária, seus luxos e sua obrigação em se dizer feliz, para alegria do mercado editorial mais rentável. Sandy normal é... normal demais, mito de menos. Sobreviva o mito, tripudiando da humanidade. Sandy humana perde feio, deve doer, mas segura o sorriso até chegar em casa.

Pela primeira vez reparei no sorriso de Sandy. Não julguei nada, sequer sei dizer se era bonito, feio ou oportuno. Mas reparei. Sandy sorrindo é triste, pois não oculta a máquina. Sandy não está sozinha nesse mundo canino que se quer de fadas, o que é um consolo para a Sandy de dentro de casa. Migalha de consolo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

“Prefeito não é síndico, nem xerife"

Foi um dia midiático para Chico Alencar. Após passar pela sabatina que o jornal O Globo tem feito com os candidatos a prefeito do Rio, ele foi para outra entrevista coletiva: com blogueiros e veículos de comunicação da imprensa alternativa, para a qual o Lessa27 foi convidado. Na ocasião, ele falou sobre o chamado “voto útil da esquerda”, o desafio de ser prefeito mesmo sem maioria parlamentar e a necessidade do carioca se “reencantar com a cidadania”. Veja os principais pontos da entrevista:

JANDIRA FEGHALI E O "VOTO ÚTIL"

Sempre que sou indagado sobre a conversa fiada do voto útil [de esquerda], que a Jandira [Feghali, candidata pelo PC do B] começou a puxar recentemente, eu me pergunto: voto útil contra quem? Contra os aliados dela? Ela tem que conversar sobre isso com o Eduardo Paes,do PMDB, com o PRB e o PT, todos sócios do PC do B no governo federal. Não com a gente.

CANDIDATURA PRA VALER OU PRA MARCAR POSIÇÃO?

É pra valer. Olha aqui [Chico puxa um bloco de anotações espesso, só com anotações à mão], durante a campanha fui recolhendo pontos muito concretos da vida do Rio. Número de servidores de cada secretaria e seu orçamento, cada rubrica utilizada para pagamento, expectativa de receita, montante do ISS, que arrecada mais que o IPTU, da questão urbana, de saúde, transporte, educação. Tudo isso fora o que a gente já tinha pensado antes. Eu me sinto muito preparado em matéria de conhecer a cidade e encaminhar as soluções dos seus problemas, envolvendo a população.

DIÁLOGO COM GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAL: A POSTURA DO PSOL NÃO O ISOLARIA NA PREFEITURA DO RIO?

Não, primeiro porque o cargo de prefeito do Rio é uma instituição da república federativa brasileira. Não é um quartel em que o presidente manda no governador e o governador, no prefeito. São expressões político-administrativas autônomas. E eu vejo até como vantagem não ser dependente do governo estadual nem do governo federal. Aí você faz uma relação aberta e transparente: não tem troca de favores, não há acertos políticos, você coloca os interesses públicos na mesa, diretamente. Como convivi muito na vida política tanto com Lula quanto com Sergio Cabral, mesmo com divergências, vai ser muito boa a minha relação com eles. Quanto ao presidente, espero fazer ele ter saudades do PT “pré-delubiano” [referência a Delúbio Soares, tesoureiro do PT em meio aos escândalos do mensalão]. E ele pode ter certeza que a relação comigo, ao contrário de muitos outros, vai sair muito mais barata para os cofres públicos.

GANHANDO A PREFEITURA SEM A MAIORIA PARLAMENTAR NA CÂMARA DOS VEREADORES. COMO GOVERNAR?

Queremos fazer o máximo de vereadores, mas não temos a ilusão de que vamos ser maioria na câmara. Agora, vivendo e aprendendo com meus dois mandatos de vereador e de deputado federal pelo Rio: a grande falha do governo Lula foi desmobilizar a força social de mudança quando tomou posse. E aí ele ficou cada vez mais prisioneiro do agronegócio, da ortodoxia financeira... Porque o seu governo não estimulou a mobilização da população e se afastou dos movimentos sociais.

No nosso caso, a gente vai fazer uma prefeitura de tensão, sim. Os vereadores têm instinto de sobrevivência: quando eles percebem que alguma proposta da prefeitura avança nos interesses sociais, com as galerias cheias [da câmara, onde as pessoas podem assistir as sessões], eles mudam convicções rapidinho. Luiza Erundina, prefeita de São Paulo com minoria parlamentar e a turma malufista querendo derrubá-la. Numa semana havia 10 mil pessoas cercando a câmara, e aí ela sobreviveu com mais força política ainda. Vai haver tensão, mas eu sei dialogar também. No entanto, todo governo que tem uma postura firme pelas maiorias sociais encontra resistências. E nós vamos fazer um governo permanentemente mobilizado na sociedade.

COMO VAI ACONTECER ESSA PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO SEU GOVERNO?

Vamos mobilizar os conselhos populares que já existem: as associações de moradores, conselhos escolares, conselhos distritais, conselhos de saúde, e fazer um novo Plano Diretor Urbano da cidade, que já caducou desde 2002. Sem isso, a iniciativa privada toma conta, como é o caso dos transportes. Em 2009 queremos fazer um Congresso da Cidade com todos esses conselhos, possibilitando a “atomização do poder”. Claro que alguns vereadores vão reclamar, vão se sentir desprestigiados na sua representação... Mas representação não é delegação, nenhum vereador é eleito pra substituir a população. A Constituição garante que ela participe por meio dos representantes ou diretamente.

Precisamos promover um reencantamento com a cidadania. É importante que o povo se sinta protagonista, tenha consciência cidadã, e isso não é mais estimulado pelos partidos, que hoje são máquinas de atuação meramente eleitoral pra conquistar votos. Estão cada vez mais na TV e no rádio, causando a despolitização da política e a falta de democratização da democracia.

QUAIS AS PIORES HERANÇAS DE CESAR MAIA?

Em primeiro lugar, o apequenamento do poder público. O processo de privatização de todas as instâncias da vida carioca. Hoje em dia parece inconcebível o governo fazer uma obra sem entregá-la para a iniciativa privada. Em segundo lugar, a desmobilização política. César Maia assumiu como prefeito da lei e da ordem, em 1993, com uma administração técnica, burocrática, vertical e não resolveu os problemas da lei e ordem como os conservadores querem, criminalizando a pobreza e afastamento dos pobres da vida da cidade. E o governo atual estimulou o desencanto com a política.

CAMELÔS E VANS: LEGALIZAÇÃO

Quanto às vans, temos que fiscalizar tomando cuidado, porque muitas dessas linhas pertencem a máfias que mandam matar. Com o Plano Diretor Urbano contemplando os transportes, dá pra planejar isso. Quanto aos camelôs, é preciso diferenciar: há muitos intermediários das máfias coreana e chinesa, como em São Paulo, e outros que são ambulantes devido ao desemprego. A lei 1876/92, de minha autoria, prevê a regulamentação, a fiscalização, a determinação de um espaço para o trabalho dos camelôs. Eu não acho bacana você não ter calçada pra passar, mas não queremos aquela repressão, aquela guerra que já se viu. É preciso contemporizar, sem ser leniente com os criminosos nem deixar a cidade intransitável.

CANDIDATOS SUSPEITOS, PARTIDOS CÚMPLICES

Os grandes partidos têm nanismo moral. Eles acolhem em seus quadros candidatos ligados com milícias e bandidagem em geral, é a captura do Estado por essa gente. E o Álvaro Lins, do PMDB, ex-chefe de polícia do Rio, foi preso. O Natalino só foi expulso do DEM depois de ir pra cadeia. O Jorge Babu, do PT – partido do presidente da república – é envolvido com milícias, corre o risco de perder o mandato. Mas o irmão é candidato com a mesma plataforma política e base eleitoral e continua concorrendo! Não há um “controle de qualidade” por parte dos partidos políticos, que são cúmplices com isso em troca de 20 mil votos... Isso é gravíssimo.

SÍNDICO OU XERIFE? LÍDER POLÍTICO

A revitalização de Bogotá [capital da Colômbia], citada como bom exemplo, foi comandada pelo prefeito Antonio Mocas, que era um filósofo. E isso foi feito com reencantamento cidadão, transparência absoluta, honestidade. Conseguiu fazer com que a população de Bogotá pagasse um imposto adicional para projetos sociais determinados. Sempre se quer apenas as propostas técnicas. O Globo deu uma matéria, analisando meu programa eleitoral na TV, com a manchete “Caveirão faz Chico prometer sem poder cumprir”. Como se eu dissesse que vou barrar os Caveirões. Eu quero ter voz ativa contra essa política genocida do governo do estado, o prefeito pode participar do Gabinete de Segurança Pública. O prefeito não é síndico, não é xerife, não é dono de casa, ele é um líder político. Tem que falar do governo Bush, da América Latina, das grandes questões sociais.

domingo, 7 de setembro de 2008

Há injustiça no mundo (*)

O ano era 2002. Centenário de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, de quem sou grande admirador. Na plenitude de meus 22 anos me desdobrei pra acompanhar todas as comemorações a respeito. Quase fui a Itabira, cidade natal do escritor mineiro.

Assisti a uma peça na qual o ator Marcos França interpretava Drummond. Excelente espetáculo, e ao final, dois livros seriam sorteados entre os presentes. A adrenalina subiu e meus olhinhos brilhavam: já, já, poderia aumentar minha coleção.

O primeiro sorteado estava ao meu lado. O ator ofereceu os dois livros, edição novinha, pro dito cujo escolher. Ele fez aquela cara de "tanto faz" e, aleatoriamente, pegou um. Minha raiva tentava permanecer dentro de mim, pra não causar escândalo.

Ali foi uma das situações em que percebi que há injustiça no mundo. Eu, um ardoroso e fiel fã de Drummond, perdia uma bela edição de seus livros para um sujeito que parecia ter ido forçado à peça e nem fazia questão de levar aquele trambolho pra casa. A poeira já deve ter tomado conta do objeto do sorteio.

O show de João Gilberto, no Teatro Municipal do Rio, foi outra dessas situações. Eu, que sempre gostei de bossa nova - especialmente Tom Jobim e João Gilberto - estava diante de uma ocasião única: o show do baiano era único mesmo, e sabe lá quando ele vai sair da toca pra cantar de novo?

Pois os míseros ingressos acabaram em pouquíssimo tempo (e custavam as córneas!). Sem chance de ver ao vivo outro "Drummond".

Aí é inevitável saber das notícias sobre o show. A penca de convidados (eufemismo pra "penetras da moda") era maioria. E duvido que Naomi Campbell seja uma das admiradoras ferrenhas do criador da bossa nova. Aliás, soube que ela mandou torpedos SMS durante a performance de João e saiu 40 minutos antes de acabar.

Não vou entrar no mérito de quais outros convidados mereciam ou não estar ali, pra não prejulgar. De repente uma dessas "modelatrizes", políticos e artistas obscuros acompanham João Gilberto tanto quanto eu, como vou saber?

Mas que é injusto, é. Vender uma pequena quantidade de ingressos, também. Perder meu lugar pra celebridades, idem. Há injustiça no mundo!

Um dia eu dou o troco.

(*) Publicado tardiamente em virtude da tentativa (bem-sucedida?) de escrever sem ressentimento.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Por que será?

Conforme noticiado no Destak, Clodovil pode perder o mandato de deputado federal por infidelidade partidária.

Considerando que Clodovil não é o primeiro a fazer isso, e que o estilista-parlamentar apresentou uma emenda para diminuir o número de deputados... tá explicado.