sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Marrentinho, ouça a voz da experiência!

Um dos melhores quadros que o Casseta e Planeta já produziu foi o Tabahara Futebol Clube. O grupo de humoristas conseguiu representar bem todos os tipos da cultura do futebol, amador ou profissional. Lá estava tudo o que se via na TV, nos estádios e nas peladas com os amigos.

Eu ria muito quando o personagem Wanthuirson (Beto Silva) dizia para o Marrentinho Carioca (Bussunda): "Marrentinho, ouça a voz da experiência...". Um clássico dos conselhos dos veteranos de futebol. Sem contar que o Marrentinho era claramente inspirado no grande craque - e malandro - Romário.

Semana passada o América-RJ voltou a ser campeão, 27 anos depois. Triunfo construído durante o ano com a liderança de Romário como gestor de futebol do clube. Mas no jogo do título ele decidiu entrar em campo por alguns minutos para homenagear o pai, seu Edevair. Devido à promessa, o jogo até foi transmitido pela TV.

E durante a partida Romário me ensinou muita coisa para a vida, em apenas um lance.

É fato que o Baixinho, sempre avesso a treinos e agora com 43 anos, não tem pique pra correr nem por alguns minutos. Mas além de continuar batendo muito bem na bola, tem ótimo senso de colocação.

Num dos lances em que o América ia ao ataque, ele saiu da grande área (sua especialidade) e ficou livre pra receber a bola, de maneira tão simples e óbvia que o meio-campista não fez outra coisa: passou.

Em nenhum momento do jogo Romário deu vexame ou tentou fazer o que não mais conseguiria. Como no lance acima, se deslocou no ritmo e no momento que pôde, sem forçar a barra. Romário só vai "na boa". E aí veio a epifania.

Principalmente no cotidiano de trabalho, em que interajo com muita gente, muita hierarquia e (como em todo lugar de labuta) com muitas vaidades, saber se deslocar em meio a tudo isso requer destreza. Mas o segredo de Fátima, revelado por Romário, é só ir "na boa".

Ir "na boa" pode significar ficar quieto mesmo que você tenha algo a dizer a todo momento. É se bastar como coadjuvante enquanto os pavões necessitam tanto abrir suas asas. É dar pequenos passos motivados por grandes ambições - que nem todos precisam ficar sabendo quais são.

Assim como Romário, é confiar no seu taco quando você pode jogar sinuca sem susto, não ter marra quando você não se garante. É saber o momento de se recolher e de entrar em campo, de chamar a atenção e de sumir do mapa. É ficar andando boa parte do tempo para dar o pique quando ninguém espera, em direção ao gol, cirurgicamente.

Portanto, é melhor mesmo eu ouvir a voz da experiência ecoada por Romário, exposta num simples deslocamento de área. Até porque, quem sabe eu não sou tantas vezes um Marrentinho? Fala sério...