sábado, 8 de outubro de 2016

O discurso do medo e o idioma do ódio são universais

Semana passada tive uma desagradável surpresa: um amigo que faz ótimas análises políticas e produzia uma das melhores coberturas jornalísticas da campanha do Rio cansou.

Ele, que não abandona o equilíbrio e mantém a coerência em seus argumentos, sabendo que corre o risco de desagradar em tempos extremos, capitulou. Muito ódio em forma de comentário e boato atrás de boato que ele já tinha se esmerado em desmentir.

E eu o entendo perfeitamente. Quanto mais nos odiamos, mais quem fatura com esse ódio se dá bem. Se não vivemos em paz, é porque uns poucos que ganham com isso nos atiçam uns contra os outros. Cada um sabe do seu limite, e meu amigo tinha chegado no dele.

Pra minha felicidade (e a de muitos outros), ele voltou. Triste ver que precisamos nos esforçar tanto pra sermos justos e moderados, por vezes nos sacrificando em nível pessoal. Triste ver laços se rompendo por pessoas e partidos que não dão a mínima para cada um de nós.

Discordar é humano. É normal, possível, e desde criança sabemos disso. Mas chegou-se a um ponto de surdez coletiva e deliberada que se traduz em ódio, calcado em medo. Se o outro vencer (eleição, discussão, o quer quer que seja), é a hecatombe.

Nos últimos tempos vejo o mesmo tipo de postura e comportamento de tudo que é lado. Vejo reacionários à esquerda e à direita, alterando seu discurso orwellianamente. Vejo insensibilidades e atrocidades com justificativas ideológicas na ponta da língua, mesmo que o contexto seja o exato oposto da eleição passada. Estamos de olho nessa prostituição cínica que mói quem só quer viver em paz, e não ser devotos eternos de uma causa ou um dogma, com os inocentes úteis deixados pelo caminho.

Portanto, meu amigo, bem-vindo de volta. Vai continuar sendo difícil, e você sabe disso. Espero, daqui do meu cantinho poder te ajudar a desarmar os ódios e deixar nus todos os reis que "se acham", e que acham que somos mera massa de manobra para suas agendas escusas (porque quando vêm à luz não fica uma, meu irmão).

"Porque nos últimos tempos o amor se esfriará de quase todos", li num livro bem antigo. Não quero arredar pé da aldeia gaulesa do "quase".