segunda-feira, 7 de abril de 2008

A flama, a chama, e os inflamados chamam a atenção

As Olimpíadas de Pequim são o mais constante alvo de protestos contra o desrespeito aos direitos humanos na China. A ameaça de boicote por parte de chefes de governo europeus, a manifestação dos Repórteres Sem Fronteiras (contra o desrespeito à liberdade de imprensa), e agora o apagão forçado da tocha.

A discussão da vez é se o esporte é um meio legítimo para manifestações do tipo. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Artur Nuzman, é contra o boicote, por considerar um prejuízo à carreira dos atletas que se preparam há anos para os Jogos.

O jogo EUA x Irã aconteceu na Copa de 2002 apesar do contexto político extremado entre os dois países. Se ali foi louvada a não-interferência dos fatores externos na esportividade, por que seria mais aceitável uma postura, fruto de atitude política, que traz conseqüências aos atletas - como um boicote?

O protesto dos atletas nas Olimpíadas de 1968, com as luvas pretas nas mãos, aconteceu com a prova já encerrada e os dois corredores já tendo ganhado a competição por seus méritos. Perderam as medalhas por causa disso. Justo ou não? A leitura geral dos organizadores do esporte é que a política não pode se misturar.

Mas o que parece motivar os manifestantes atuais é que, como qualquer outro país, a China estará capitalizando (em todos os sentidos) em cima do sucesso dos Jogos de Pequim, com toda a visibilidade planetária. E assim, questões não resolvidas (ou mal-resolvidas) como a violência no Tibet e o desrespeito aos direitos humanos serão solenemente ignoradas quando o mundo inteiro estará de olho na pujança chinesa.

Aliás, cada país assina um termo comprometendo-se a respeitar (ou resolver) várias questões humanitárias e sociais. Isso é sério? A China, pelo visto, não poderia então realizar os Jogos. É o money envolvido no globalizado e lucrativo esporte mundial...

Então, a lei que parece valer é: se o esporte denuncia os descaminhos políticos, não pode misturar. Mas se for pra aproveitar a mobilização e a simpatia mundiais que o esporte proporciona - e por tabela mascarar realidades - pode.

O importante é competir... com o quê?