Talvez você não o conheça. Mas se você me conhece, recomendo o artigo que segue.
Repórter policial por mais de 30 anos, Geraldo passou por jornais como a Última Hora, O Globo, revista Manchete e foi editor de um marcante programa de TV: o Documento Especial, com reportagens urbanas e qualidade cinematográfica.
Eu, que desde minha 8a. série já queria ser jornalista, pude conhecer Geraldo quando trabalhei na Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Cultura do Rio. Ele já tinha mais de 50 anos e como tantos outros de sua geração, não conseguia mais emprego nas redações. A tal lógica burra do capitalismo: manda embora os mais velhos por terem maiores salários, e assim cortar custos. Desprezam a experiência e o conhecimento que os então demitidos acumularam e ainda tentam manter a qualidade do produto. Impossível.
Geraldo foi um instrumento de Deus para confirmar minha vocação jornalística. Ouvindo suas histórias (também falava em tom de reportagem) e lendo seus livros (era especialista em sistema prisional, ganhou o prêmio Jabuti em 2001) fui conhecendo-o melhor. E me conhecendo também. Ao conversarmos e ao ouvi-lo, vi que era aquele espírito de repórter que eu também possuía. Mesmo que nunca trabalhasse numa redação, eu seria jornalista sempre. Assim como Geraldo era, independente de seu momento.
Também foi um pai para mim, um orientador, alguém a me inspirar, que investia em minha carreira jornalística com conselhos e estímulos. "Pô, Lessa, você vai fazer 22 anos mas tem estrada de 40!", disse-me Geraldo há 4 anos.
Deixamos de nos ver por mais de 2 anos, e ao nos reencontrarmos ele descobriu que tinha câncer de estômago. Tentou os tratamentos tradicionais e um alternativo em Cuba. Não resistiu, falecendo em 20 de junho passado.
Há pouco soube que em algum país do Oriente (Japão ou China, não lembro), quando alguém morre, é feito um desfile em praça pública. Todos os familiares e amigos se vestem com as melhores roupas, dançam e cantam as músicas mais alegres, chamam a atenção dos passantes. Depois dos mais animados que abrem o desfile, vem o caixão. E após ele mais gente cantando e dançando. Em vez de lamentarem a morte recém-chegada, celebram a vida do que partiu. E que deixou saudade, marcas que serão para sempre lembradas.
Meu artigo celebra a vida de Geraldo Lopes. Permitindo-me um pouco de surrealismo, me multiplico em dez, cem, mil iguais a mim cantando e dançando na Av. Presidente Vargas, carregando o féretro. Paro o trânsito, os trabalhadores dos prédios olham e percebem que a celebração deve ser de alguém importante, num tempo em que a fama teima em ser inversamente proporcional ao diferencial das pessoas em nós.
As matérias de Geraldo são projetadas no céu, e todos suspiram nostalgicamente por um jornalismo que escrevia pensando em gente, e não em números. É um sentimento natural, uma vez que Geraldo não foi mais um. Foi um. E não foi pouco.
Repórter policial por mais de 30 anos, Geraldo passou por jornais como a Última Hora, O Globo, revista Manchete e foi editor de um marcante programa de TV: o Documento Especial, com reportagens urbanas e qualidade cinematográfica.
Eu, que desde minha 8a. série já queria ser jornalista, pude conhecer Geraldo quando trabalhei na Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Cultura do Rio. Ele já tinha mais de 50 anos e como tantos outros de sua geração, não conseguia mais emprego nas redações. A tal lógica burra do capitalismo: manda embora os mais velhos por terem maiores salários, e assim cortar custos. Desprezam a experiência e o conhecimento que os então demitidos acumularam e ainda tentam manter a qualidade do produto. Impossível.
Geraldo foi um instrumento de Deus para confirmar minha vocação jornalística. Ouvindo suas histórias (também falava em tom de reportagem) e lendo seus livros (era especialista em sistema prisional, ganhou o prêmio Jabuti em 2001) fui conhecendo-o melhor. E me conhecendo também. Ao conversarmos e ao ouvi-lo, vi que era aquele espírito de repórter que eu também possuía. Mesmo que nunca trabalhasse numa redação, eu seria jornalista sempre. Assim como Geraldo era, independente de seu momento.
Também foi um pai para mim, um orientador, alguém a me inspirar, que investia em minha carreira jornalística com conselhos e estímulos. "Pô, Lessa, você vai fazer 22 anos mas tem estrada de 40!", disse-me Geraldo há 4 anos.
Deixamos de nos ver por mais de 2 anos, e ao nos reencontrarmos ele descobriu que tinha câncer de estômago. Tentou os tratamentos tradicionais e um alternativo em Cuba. Não resistiu, falecendo em 20 de junho passado.
Há pouco soube que em algum país do Oriente (Japão ou China, não lembro), quando alguém morre, é feito um desfile em praça pública. Todos os familiares e amigos se vestem com as melhores roupas, dançam e cantam as músicas mais alegres, chamam a atenção dos passantes. Depois dos mais animados que abrem o desfile, vem o caixão. E após ele mais gente cantando e dançando. Em vez de lamentarem a morte recém-chegada, celebram a vida do que partiu. E que deixou saudade, marcas que serão para sempre lembradas.
Meu artigo celebra a vida de Geraldo Lopes. Permitindo-me um pouco de surrealismo, me multiplico em dez, cem, mil iguais a mim cantando e dançando na Av. Presidente Vargas, carregando o féretro. Paro o trânsito, os trabalhadores dos prédios olham e percebem que a celebração deve ser de alguém importante, num tempo em que a fama teima em ser inversamente proporcional ao diferencial das pessoas em nós.
As matérias de Geraldo são projetadas no céu, e todos suspiram nostalgicamente por um jornalismo que escrevia pensando em gente, e não em números. É um sentimento natural, uma vez que Geraldo não foi mais um. Foi um. E não foi pouco.