terça-feira, 26 de setembro de 2006

Considerações sobre o silêncio



Hesitei por alguns instantes ao começar este artigo, talvez pelo próprio assunto e seu efeito em mim. Tenho olhado (ouvido?) o silêncio de uma maneira inédita em minha vida.

Para mim, o silêncio era, quase automaticamente, o mesmo que omissão. "Lavar as mãos", não fazer minha parte na realidade que estava ao meu alcance. Silenciar sempre significou deixar outros decidirem por mim, escolher o caminho mais fácil. Praticamente uma covardia.

Considerando que sou jornalista, isto é, profissional de Comunicação; considerando que sou uma pessoa comunicativa e desenvolvi razoável oratória e argumentação; considerando que desde os tempos de Colégio Pedro II considero-me politizado e com vontade de intervir nos contextos em meu redor... Como considerar o silêncio?

(Hesito, em silêncio, mais alguns instantes antes de continuar a escrever.)

Tenho percebido que o silêncio pode nos preservar. Pode nos oxigenar perante o bombardeio de ruídos de comunicação e o excesso de vozes e informações. Ele permite que possamos nos ouvir, ainda que estejamos em silêncio.

Passar pela experiência de opinar e sequer ser considerado pelo outro que pensa em direção contrária: isso é marcante. Perceber quando você apresenta argumentos sinceros, em busca de um consenso, e nada caminha para o que você propôs... Não seria hora de silenciar um pouco?

Silenciar facilita também nossa autocrítica. Diante da ansiedade constante em opinar, argumentar, marcar pública posição, dificilmente refletimos de onde vem tanta certeza. Se ela possui fundamento ou é apenas soberba "enlatada". No silêncio esses questionamentos surgem espontaneamente, acredite.

E convenhamos: ficar em silêncio é árduo. Raramente é nossa primeira opção. O silêncio, na maioria das vezes, é o que nos resta, quase nunca é uma decisão. É render-se à derrota de seus argumentos, é quando "nossa inteligência foi desprezada" - assim pensamos. Cônscios ou forçosamente, o silêncio é um exercício de humildade.

Óbvio que não estou renunciando ao debate ou ao diálogo. Afinal de contas, escrevi e publiquei este artigo. E a caixa de comentários abaixo não ficará desativada. Mas recomendo a prática do silêncio escolhido, tanto quanto a do debate franco e de questionamentos assumidos. Faz bem.

Somos seres complexos, e reconhecer essa condição é rumar ao simples, que sempre é genial e confortador. Não subestime o silêncio nesse processo.