Nunca uma expressão foi tão representativa da cultura de uma cidade - ou das autoridades constituídas perante ela, bem como seus prestadores de serviços. Quando uma grife carioca resolveu estampar "United Kingdom of Ipanema" nas suas peças, foi o ato falho de um certo insconsciente coletivo, que se revelou nos episódios dos "mini-apagões" dessa semana.
Ipanema, Leblon e Copacabana ficaram sem luz durante algumas horas no meio da semana. Nada comparado ao blecaute nacional do dia 10, mas o suficiente para a classe média-alta carioca estrilar. Estão no seu direito já que, proporcionalmente à renda, tiveram prejuízos como qualquer outro morador teria.
Mas eis que a Light resolveu pedir oficialmente desculpas aos moradores desses bairros. Não satisfeita, ainda ofereceu um gerador para 123 clientes da região enquanto a situação não se normalizava. Aí foi se desenhando o ato falho.
O jornal Extra, que é voltado para as classes média e média-baixa das Zonas Norte e Oeste da cidade, começou a estampar em suas capas cobranças explícitas para que a Light se desculpasse e oferecesse geradores para moradores da Tijuca, Engenho de Dentro, Méier, Campo Grande, Santa Cruz... E não faltaram histórias de leitores, devidamente cobertas pelo jornal logo em seguida, para deixar a céu aberto o "apartheid" da prestação de serviços (públicos e privados) para os cariocas.
Por essas e outras, a expressão United Kingdom of Ipanema cai tão bem. Assim como na Grã-Bretanha, um arquipélago formado por Inglaterra, Escócia, Gales e Irlandas, a cidade do Rio tem em Leblon (bairro do governador e dos artistas da Globo), Ipanema, Copacabana, Gávea, São Conrado e Barra da Tijuca (bairro natal do prefeito) seu Reino Unido.
O arquipélago aqui é social e psicológico: tenho certeza que, se fosse feita uma pesquisa a respeito entre os moradores dessas regiões, para eles o Rio de Janeiro não precisaria ir além dos limites do "Reino". Todo o resto poderia ser outra cidade, dando um upgrade no status de capital e cidade-estado que o Rio já teve.
Farei justiça: conheço várias pessoas que moram nesses bairros que não pensam assim (ou deixaram de pensar). Mas não se esqueçam que estamos falando de um universo de cerca de 400 mil moradores.
E a devoção a esse reino é tanta que a postura da Light lembra as cerimônias monárquicas em que os visitantes do castelo ajoelhavam-se diante do rei soberano, em reverência, respeito e temor. Um pouco de república democrática não faria mal a ninguém.
Ipanema, Leblon e Copacabana ficaram sem luz durante algumas horas no meio da semana. Nada comparado ao blecaute nacional do dia 10, mas o suficiente para a classe média-alta carioca estrilar. Estão no seu direito já que, proporcionalmente à renda, tiveram prejuízos como qualquer outro morador teria.
Mas eis que a Light resolveu pedir oficialmente desculpas aos moradores desses bairros. Não satisfeita, ainda ofereceu um gerador para 123 clientes da região enquanto a situação não se normalizava. Aí foi se desenhando o ato falho.
O jornal Extra, que é voltado para as classes média e média-baixa das Zonas Norte e Oeste da cidade, começou a estampar em suas capas cobranças explícitas para que a Light se desculpasse e oferecesse geradores para moradores da Tijuca, Engenho de Dentro, Méier, Campo Grande, Santa Cruz... E não faltaram histórias de leitores, devidamente cobertas pelo jornal logo em seguida, para deixar a céu aberto o "apartheid" da prestação de serviços (públicos e privados) para os cariocas.
Por essas e outras, a expressão United Kingdom of Ipanema cai tão bem. Assim como na Grã-Bretanha, um arquipélago formado por Inglaterra, Escócia, Gales e Irlandas, a cidade do Rio tem em Leblon (bairro do governador e dos artistas da Globo), Ipanema, Copacabana, Gávea, São Conrado e Barra da Tijuca (bairro natal do prefeito) seu Reino Unido.
O arquipélago aqui é social e psicológico: tenho certeza que, se fosse feita uma pesquisa a respeito entre os moradores dessas regiões, para eles o Rio de Janeiro não precisaria ir além dos limites do "Reino". Todo o resto poderia ser outra cidade, dando um upgrade no status de capital e cidade-estado que o Rio já teve.
Farei justiça: conheço várias pessoas que moram nesses bairros que não pensam assim (ou deixaram de pensar). Mas não se esqueçam que estamos falando de um universo de cerca de 400 mil moradores.
E a devoção a esse reino é tanta que a postura da Light lembra as cerimônias monárquicas em que os visitantes do castelo ajoelhavam-se diante do rei soberano, em reverência, respeito e temor. Um pouco de república democrática não faria mal a ninguém.