sábado, 4 de dezembro de 2010

A praia é pública, não é privada



A dona do nosso lazer

Esse foi o mote de uma campanha de educação dos banhistas que aconteceu há algum tempo no Rio de Janeiro. O cartaz contava com a imagem de um vaso sanitário recebendo o lixo que é jogado nas areias e no mar.

O slogan é um chiste preciso e abrangente: mostra que não podemos esquecer que a praia é um bem público, e por isso não podemos tratá-la como se fôssemos os únicos a usá-la depois que formos embora.

Infelizmente, o slogan permanece atual. Só que, além da atitude dos banhistas, ele diz respeito à mentalidade do poder público, da qual a gestão do Prefeito do Rio é apenas um dos expoentes. Tal situação também é um exemplo de como a lógica privatizante pode ser um tiro no pé da população - ao contrário do que e propagado por seus defensores.

Quem frequenta as praias do Rio sabe a importância dos postos de salvamento. Tanto para seu objetivo principal, com os guarda-vidas sempre a postos, como para o conforto dos banhistas. Ali também há banheiros e chuveiros.

Enquanto a Comlurb (companhia de limpeza urbana da Prefeitura) administrava os postos, ficavam sempre dois garis em cada posto. Regulavam a entrada dos usuários para não haver superlotação. Faziam todos passar pela catraca, permitindo que a administração saiba quantas pessoas usaram, facilitando até na fiscalização contábil (custa R$ 1,00 para usar o posto).

Os garis também só abriam os chuveiros quando as pessoas se posicionavam para tomar banho. Fechavam quando elas terminavam, evitando o desperdício e a falta d'água. E, seguindo o ofício, sempre mantinham o posto limpo, mesmo durante os dias movimentados.

Pois enquanto o choque de ordem fazia barulho pela cidade, a Prefeitura privatizou a administração dos postos da orla sem nenhum alarde. A empresa Orla Rio, que já tem a concessão dos quiosques, recebeu a dos postos, do Leme ao Pontal.

E o que se vê agora? Postos com água acabando antes do fim da tarde, por exemplo. O que dá pra entender quando você consegue usar um: não há mais nenhum cuidado. A pessoa designada pela Orla Rio apenas recebe o dinheiro. Todos vão entrando, com todos os chuveiros abertos ininterruptamente. Sem regulação e sem catraca, é um povaréu no cada-um-por-si dentro do posto.

Sem contar a sujeira. Nem sequer um rodo é passado no chão, ou a areia varrida. Quem quiser usar o chuveiro, tem que se aventurar na água suja antes de tirar a areia do corpo.

E aí eu te pergunto: por que privatizar, se o serviço era bem feito pela prefeitura? Qual a lógica de piorar um bom serviço no cartão-postal da cidade? Sem contar que a Orla Rio, quando teve o contrato prorrogado, tinha uma dívida de R$ 1,5 milhão com a Prefeitura (*). Como uma empresa inadimplente pode ser apta para ganhar uma licitação do próprio credor?

A orla carioca é um patrimônio ecológico e cultural da cidade. É claro que o Rio de Janeiro não se resume às suas praias, todas na Zona Sul. Mas esse pequeno exemplo dos postos de salvamento mostra como pensa nosso prefeito. E o silêncio (ou assentimento) em torno do assunto mostra como a imprensa e boa parte da população estão anestesiadas quando o assunto é o interesse público.

(*) - Conforme reportagem da Veja Rio

As aparências não enganam