sexta-feira, 9 de novembro de 2018

“QUERIDOS, E O FRIO?”

Foi a pergunta que enviei a um grupo que temos com amigos que se mudaram para o hemisfério norte. Sabendo que lá o inverno tem fama de rigoroso, estava preocupado com a adaptação deles.

Eles contam que o verão se foi e agora, já no final do outono, o dia escurece mais cedo, coisa à qual eles não estavam acostumados, nunca viveram isso. A temperatura também fica mais baixa a cada dia: 10 graus, 5 graus, 0 graus. A sensação térmica, principalmente quando surgem os ventos, é mais aguda que isso. A previsão para o final do ano é de -30 graus de temperatura.

Para lidar com isso, camadas e mais camadas de roupas para andar na rua; vitamina D para compensar a cada vez menor exposição ao sol; vitamina C para não gripar, diante dos ambientes fechados e da reclusão forçosa dentro de casa.

Nessa semana ligaram pela primeira vez a calefação. Até então não foi necessário, pois o apartamento é bem quente. Além disso, na cidade em que estão, há uma solução de arquitetura em função do clima: as casas são geminadas, o que faz com que as calefações não precisem ser colocadas no máximo. Por estarem próximas, se aquecem mutuamente e rápido, sem onerar mais um ou outro condômino.

Quem já mora no local recomenda que meus amigos passem o Natal com familiares em um local mais quente. Mais do que a temperatura física, diante da adaptação ao novo ambiente, pensam ser vital estar em dia com os laços e afetos que abrigam e esquentam emocionalmente.

“E como está aí no Brasil? Estamos preocupados”, eles me perguntam.

Conto que indo pro final do outono a sensação é de que o dia escureceu mais cedo, coisa à qual não estamos acostumados, minha geração nunca viveu isso. O frio parece aumentar a cada dia, com ventos autoritariamente fortes deixando-o ainda mais agudo. A previsão é que só piore.

Para lidar com isso, camadas e mais camadas de proteção para andar na rua, viver em público; vitaminas terapêuticas para compensar a cada vez menor exposição à luz e à razão - e para não adoecermos, diante dos ambientes fechados e da reclusão forçosa de tantas ordens.

Acionamos a calefação humana que mutuamente aquece, e porque mútua, não exaure ou sobrecarrega os demais. Temos buscado uma arquitetura social que nos reaproxime nesse sentido, sem onerar um ou outro concidadão.

Quem já passou por isso recomenda que estejamos cada vez mais juntos, resistindo ao frio um dia de cada vez. Diante da adaptação ao novo ambiente, pensamos ser vital estar em dia com os laços e afetos que abrigam e esquentam emocionalmente. E que vão nos sustentar não apenas no Natal.

Afinal, lá como cá, o verão há de chegar.