terça-feira, 4 de abril de 2006

O homem na corda bamba (*)

Está tenso. Tensiona os músculos e o espírito, e controla sua ansiedade para dar o passo seguinte. Ao mesmo tempo, preocupa-se em manter o equilíbrio. Qualquer passo em falso, verdadeira queda, derradeira morte. Não há rede de segurança, e ele precisa ignorar o abismo e lembrar-se dele, ao mesmo tempo. Avista o outro lado, quer chegar, mas precisa manter o ritmo.

Ao chegar perto, pensa em se apressar. Depois de tanta espera e suor, agora falta muito pouco. A tentação de se apressar é cada vez mais forte, mas ele sabe que se jogar pro alto toda a tensão administrada, atira-se abaixo. A ansiedade o envolve de tal forma que fica na dúvida se era mesmo pra ter seguido aquele caminho. " Era!" , ouve a confirmação em seu espírito.

O homem na corda bamba, personagem tão conhecido de quem já foi ao circo, volta a minhas memórias ao escrever esse editorial. Tentei observar o que ele agüenta lá em cima e fechando os olhos por um minuto, ao abrir me vi na corda. Meu medo de altura por companhia, pra deixar a situação mais dramática. Corda metafórica, sentimentos semelhantes ao de tantas fases de nossa vida.

Não sei que vozes o homem na corda bamba consegue ouvir durante sua exibição. Se o barulho da platéia o atrapalha, se pensa que nunca devia ter sido o que é. Mas ouvir " esse é o caminho, andai por ele" , na voz inconfundível do Espírito Santo, é tudo o que busco na minha corda. Quer dizer, vida. Acho que dá no mesmo.
(*) Originalmente publicado em 15/05/2005 no boletim dominical da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro

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