domingo, 26 de agosto de 2007

20 anos sem Drummond



- Mas o senhor não poderia ter esperado mais um pouquinho, pra gente se conhecer??


Como eu gostaria de ter conhecido esse velhinho... Acabei conhecendo-o de outra forma, quando me deparei com seus poemas e crônicas e tomei aquele susto de me ver ali, de alguém falando por mim, meus suspiros traduzidos. É uma experiência quase sobrenatural. E você não é mais o mesmo depois de um troço desses. No mínimo, você ganha uma companhia pro resto da vida, em forma de livro. No máximo, domando toda a pretensão e ousadia possível no momento, você quer virar escritor.

Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade provocaram isso em mim. O mineiro de Itabira, cuja morte aconteceu em 17 de agosto de 1987, me mostrou que eu poderia fazer poemas sem rima ou excessiva formalidade. Ah, o Modernismo e suas rupturas... Mas nem de longe ele me disse que seria fácil fazer poemas, quanto mais um poema bom...

Feito isso, minha nada célebre produção poética ficou na adolescência, com o combustível passional de então, correndo atrás de paixõezinhas que não tinham futuro. Respeitemos as descobertas púberes, e todo mérito a Drummond. A partir dali, bebia de seus poemas e a cada estrofe nova (para mim), era uma nova ode, justa, devida.

Assim como Sabino, quis muito conhecer Drummond. Nem teria como, mas eu queria muito, muito. Não posso ver uma entrevista antiga dele que me vem essa vontade que eu sei ser impossível de realizar. Mas vem! E eu fico naquela tristeza de ter uma saudade de alguém que nunca conheci, e que está intimamente ligado a uma das minhas vocações mais certeiras, que é a de escrever.

Não sei se serei um escritor como Drummond ou Sabino. Nem sou eu quem tenho que dizer. Garanto que não almejo ABLs da vida, porém fico um tantinho revoltado quando vejo textos questionáveis fazendo sucesso ou sendo incensados... Mas Drummond era funcionário público, e escrevia por necessidade de alma. Por acaso genial, foi dos maiores do nosso tempo. Não sei quais serão as conseqüências de meus escritos, mas o propósito com o qual escrevo são os mesmos do velhinho.

"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo". E o senhor achava pouco?

4 comentários:

aureliano22 disse...

"Funcionário público que escrevia por necessidade da alma" essa foi a parte que eu mais gostei
abraços

Joice Worm disse...

Também tenho uma grande vontade de ser escritora e não sei por onde começar... Escrever, escrevo... Até já tenho um poema publicado em uma coletânea de poetas em Madid, mas não sou poeta Lessa... nem me julgo. Adoro escrever... sentir e escrever... mas as editoras cobram caro e só aceitam o que está na moda. Tenho que esperar a minha vez. Confomo-me ou pago! O Drummond é um dos melhores e eu adoro!!!

Joice Worm disse...

(Nem sempre o teclado corresponde à rapidez da nossa mente... modernices!... Leia "Madrid" ao invés de Madid e "Conformo-me" no lugar de confomo-me... rs... enfim...)

Marcos André Lessa disse...

Joice, os blogs estão aí pra darmos vazão ao que as editoras não dão conta (ou não querem dar)... Que bom saber que o Lessa27 tem leitores na Espanha! Abs