quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Quando chega a nossa hora...



(Rua do Catete)

Meus caros, devo lhes avisar que a minha hora chegou. Como eu esperei que ela chegasse! Chegou. Sem mais expectativas ansiosas, finalmente consegui morar no Catete. Ok, apenas assinei o contrato de aluguel - mas já estou com as chaves! Pra vocês entenderem o significado de tamanho acontecimento, transcrevo abaixo uma crônica pré-internet, escrita há pelo menos sete anos...


FASCÍNIO

O Catete me conquistou. Se algum dia duvidei da predestinação, tal comportamento mudou ao passar pelo Museu da República e caminhar pelas ruas do histórico bairro, com todas as suas particularidades. Não era concreto nas paredes ou asfalto nas ruas: era espelho. Um tradutor simultâneo de minh’alma ao pisar as calçadas que abrigam sebos de alta qualidade e diversidade, restaurantes carismáticos e opções culturais na medida de quem sempre sonhou uma Canaã do tipo e ainda não havia descoberto em sua própria cidade.

O trânsito das pessoas parece mais civilizado do que em quaisquer Londres e afins. Sem a hipocrisia altiva característica dos que são privilegiados por alguma posse e se julgam superiores. Os que podem andar pelo Catete e desfrutar do que o bairro oferece são privilegiados – mas não parecem! Não que não valorizem. Mas é normal, corriqueiro tudo aquilo. O que me deixa fascinado para eles é rotina, e ninguém despreza tal situação.

Os mais críticos já devem ter elaborado todo o seu raciocínio e condenado minha descrição do Catete e minhas reações ao estar lá. Talvez até alguns moradores estejam me vendo como um sonhador, falando de outro lugar, lunático, doidivanas. Têm esse direito. Assim como eu, de relatar identificação – algo por mim tão ressaltado e valorizado, impossível de ser alvo de indiferença e que senti ao passar pelo Catete.

Para notarem que estou no mundo real: o Museu da República, templo de flashbacks; estar em seu interior é ter de novo na memória a Era Vargas e todos os seus desdobramentos. Passo pela livraria e, por ser uma livraria e marcar seu espaço ali, já merece meu respeito e devido mérito. Ando pelos jardins, respiro ar puro no outrora efervescente coração da antiga capital. Extasio-me ao notar o cinema, sétima arte carimbando ali qualidade cultural de primeira.

Enveredo pela Rua do Catete e avisto do outro lado um sebo humilde até no nome: “Sebo”. Nenhuma propaganda além do acervo chamando os necessitados por leitura a saciarem-se por suas portas. Adiante, outro. Depois, mais outro. Antes do Largo do Machado, na Buarque de Macedo, outro. Sinto-me ébrio, mas é só impressão. Ainda vejo outro cinema, mais moderno e uma videolocadora com filmes para além dos superlançamentos.

A discrição do Catete em relação aos demais bairros traz-me a sensação (tentação) de culto à personalidade. No caso, à minha própria, enlevada por descobrir um lugar tão igual a ela. Raramente está na mídia, não possui orla alardeada, esconde-se atrás do Flamengo, à sombra da Glória... E segue exalando cultura e auto-suficiência por todos os seus estabelecimentos. Não precisa da opinião alheia para ratificar sinceridade e transparência, ser o que é e pronto. Humilde ainda por cima.

Todo esse “delírio real” incontestável é interrompido pelo início de uma depressão que será constante até o fim do dia. Um “banzo” contrário ao vivido pelos escravos. Pois se estes padeciam pela saudade atroz de sua terra natal, eu sofria por antecipação. A certeza de que precisaria deixar o Catete e voltar pra casa na hora devida cortava-me a sangue frio, como vento gélido na ferida aberta. Não, ainda não moro no Catete. Não tenho motivo algum para ali pernoitar. Nada do meu dia-a-dia encontra-se no Catete. São gemidos que se compõem como trilha sonora de minha volta ao ponto de ônibus. Mas tendo a esperança planejada de meu ponto final ser no bairro que me pertence desde que sei que a ele pertenço.

6 comentários:

Eric disse...

Meu caro Lessa, tbm sinto essa estranha fascinação pelo decadente Catete.

Acredito que, ao mesmo tempo q exala uma certa nobreza falecida, possui umas características qse suburbanas q m fazem sentir em casa.

Quem sabe um dia não nos tornamos vizinhos?

Abs,

Marcos André Lessa disse...

E por que não, meu nobre amigo???? Sê bem-vindo... hahahha

GRAÇA TORRES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
GRAÇA TORRES disse...

MINHA EMOÇÃO TB É MUITO GRANDE, PELA ALEGRIA DE VCS E PELA CARINHA DE FELICIDADE DE CAROL DEPOIS QUE SAIMOS DO AP.
QUE DEUS CONTINUE ABENÇOANDO MUITO MUITO MUITO.
SUA FELICIDADE É TV MINHA FELICIDADE

4:16 PM

Anônimo disse...

Eu já tive minhas implicâncias com o Catete... Sempre morei na vizinhança laranjal, e sempre torci o nariz para o Catete, especialmente quando fui assaltado perto da falida Ultralar e quando acabaram com a loja de esportes Juquinha, um dos meus points para comprar botão (leia-se futebol de mesa).

Hoje eu simpatizo com o bairro, até moraria lá, mas você bem sabe que eu fui conquistado para toda a vida pela Lagoa e arredores. E do Catete até a Lagoa é chão bragaray...

Anônimo disse...

Parabéns meu caro! Muitas felicidades nesta tua nova fase (e que seja eterna enquanto vocês quiserem ;-) Forte abraço,