Passamos a vida buscando perguntas - esse é o nosso instinto. Instinto que muitas vezes tentamos sublimar, para isso criamos "ismos" que coloquem nossas entranhas perguntadoras num cercadinho. Aderimos aos "ismos" com tanto afinco, pensando que as perguntas vão se calar em nossa alma. Não vão.
O escritor português José Saramago tem uma pergunta consigo desde sempre e para sempre: “A pergunta que não consigo responder é muito simples: para quê? Para que tudo isso? Vou morrer sem encontrar a resposta. Creio que ninguém nunca encontrou”. Se você achou vago, pare e pense. Tudo isso da vida que começa no nascer e vai terminar no morrer. Entre esses dois momentos, perguntas pululam em nós.
O que nos atormenta é a falta de respostas? Começo a discordar. O que nunca nos deixará em paz é o fato de que as perguntas não cessam. Os questionamentos se qualificam. Os dilemas, as contrariedades, a complexidade das situações com as quais nos deparamos geram mais e mais perguntas. A avalanche de perguntas é o que assusta, não a escassez de respostas.
Pensamos que acalmamos as perguntas diante de qualquer sistema com o qual nos deparamos e pelo qual nos decidimos. É um engano que, cedo ou tarde, será desvelado. Você sentirá que levou uma rasteira de si mesmo. Os "ismos" não dão conta da multiplicação de perguntas que vêm do nosso âmago e não nos deixam sossegados.
Quem decide não se prender aos "ismos" vai lidando "na marra" com as perguntas. Escreve, filosofa, compõe, ouve, grita, chora, fica em silêncio, goza, joga bola... Dá o seu jeito. As perguntas não páram. As perguntas perguntam. As perguntas assolam. As perguntas ameaçam.
Paradoxalmente penso que, no momento em que admitimos esse instinto perguntador, é quando ocorre o desabrochar da maturidade. Julgar alguém maduro ou pensar-se assim é temerário, sempre. Porém a experiência de olhar nos olhos das perguntas e assimilar sua companhia dá-nos a sensação de madureza. De cicatriz pra nos lembrar de que as respostas nunca deveriam ser simplistas.
Mas eu queria falar das perguntas. Elas não páram. Nem no travesseiro - lugar e hora fértil para te levitarem da cama com certa agressividade, exilando o sono. Ou admitimos a voracidade de nosso instinto perguntador, ou estaremos sempre numa vida em suspenso, faltando algo, e o que é pior: sabendo por quê.