
A piada pode surgir de repente (não necessariamente acompanhada da graça). A da vez foi proporcionada pela Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA). Lá estou eu sintonizando o menu principal (mosaico) de canais da SKY e vem o anúncio institucional clamando por Liberdade na TV. Achei estranho e resolvi prestar atenção. O tom do apresentador era grave. O conteúdo, risível e denotando o desespero dos magnatas do cabo.
Explico: a tal campanha por Liberdade na TV (que tem até site e vídeo no YouTube) refere-se ao projeto de lei 29/2007, que obriga que 50% dos canais das TVs por assinatura devam ser nacionais; e que 10% do conteúdo de todos eles, incluindo os estrangeiros, também seja nacional.
Achei o projeto exagerado. Mas antes de chegar nesse mérito, observe o texto do apresentador da ABTA: "Eles decidem o que você deve assistir e no final você pagará mais por isso. Não deixe que eles prejudiquem a sua liberdade de escolha". Rárárá. E o que as TVs por assinatura fazem conosco hoje? É diferente?
A TV a cabo chegou ao Brasil com a promessa de ser a alternativa ao rame-rame baixo nível da TV aberta, com opções melhores e, acima de tudo, opções. Hoje, o horário "nobre" de um canal chama-se "Politicamente Incorreto", com programas que rivalizam nas baixarias com Ratinhos e Datenas da TV aberta, por exemplo. E nenhuma operadora permite que você faça seu pacote e escolha pagar apenas pelos canais que de fato assistirá. Precisamos engolir mil canais inúteis para nossos gostos. Cadê a liberdade?
É o desespero diante de um público que tem encontrado na internet ou noutros meios o conteúdo que desejam (sobre isso, ver excelente artigo de Nelson Hoineff no Observatório da Imprensa). Tão desesperados estão que têm a coragem de acusar os políticos dos mesmos crimes que cometem contra o público. O instinto de sobrevivência é forte mesmo...
Por outro lado, não é por decreto que se criam canais. No momento em que se estrutura uma TV pública, percebe-se que a coisa não é tão simples. Assim como a imposição de cotas para produção regional também é polêmica. No entanto, precisamos reconhecer: agüentamos cotas e mais cotas de seriados rejeitados nos EUA e de filmes perfeitamente classificáveis como B. E não participamos da elaboração dessa grade de programação em nenhum momento. Isto é, só na hora de pagar.
Aí é outra "terra de ninguém": no caso da SKY, se você escolhe pagar em débito automático na conta-corrente, é um preço e você recebe em casa um "extrato de conferência". Se optar por pagar em boleto bancário, são mais 3 reais. Qual a diferença entre o conteúdo do extrato e do boleto? Nenhuma. O custo de emissão de um boleto junto ao banco, claro, é repassado pro cliente. Mais uma vez: não há liberdade de escolha. Diferente de outras concessionárias de serviço, temos que optar por pagar mais e ter mais trabalho ou pagar menos e confiar que os valores sempre virão certos. Porque se não vierem, prepare-se pra bloquear o débito, correr atrás pra contestar os valores etc...
Aprisionaram o significado da palavra "liberdade". Quem vai libertá-la?
2 comentários:
Se nem mesmo quando é pago as pessoas reclamam, o que dizer então quando se trata da tevê aberta - um bem do cidadão do qual ele não toma conhecimento?
Triste, muito triste.
ps. Blog reativado. Sua visita é muito importante para nós. Bip!
já tinha notado a ironia dessa campanha. somos obrigados a engolir um monte de canais que só passam subprodutos de enlatados da tv aberta dos estadozunidos. lá, pelo menos, você assina os canais individualmente.
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