domingo, 7 de setembro de 2008

Há injustiça no mundo (*)

O ano era 2002. Centenário de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, de quem sou grande admirador. Na plenitude de meus 22 anos me desdobrei pra acompanhar todas as comemorações a respeito. Quase fui a Itabira, cidade natal do escritor mineiro.

Assisti a uma peça na qual o ator Marcos França interpretava Drummond. Excelente espetáculo, e ao final, dois livros seriam sorteados entre os presentes. A adrenalina subiu e meus olhinhos brilhavam: já, já, poderia aumentar minha coleção.

O primeiro sorteado estava ao meu lado. O ator ofereceu os dois livros, edição novinha, pro dito cujo escolher. Ele fez aquela cara de "tanto faz" e, aleatoriamente, pegou um. Minha raiva tentava permanecer dentro de mim, pra não causar escândalo.

Ali foi uma das situações em que percebi que há injustiça no mundo. Eu, um ardoroso e fiel fã de Drummond, perdia uma bela edição de seus livros para um sujeito que parecia ter ido forçado à peça e nem fazia questão de levar aquele trambolho pra casa. A poeira já deve ter tomado conta do objeto do sorteio.

O show de João Gilberto, no Teatro Municipal do Rio, foi outra dessas situações. Eu, que sempre gostei de bossa nova - especialmente Tom Jobim e João Gilberto - estava diante de uma ocasião única: o show do baiano era único mesmo, e sabe lá quando ele vai sair da toca pra cantar de novo?

Pois os míseros ingressos acabaram em pouquíssimo tempo (e custavam as córneas!). Sem chance de ver ao vivo outro "Drummond".

Aí é inevitável saber das notícias sobre o show. A penca de convidados (eufemismo pra "penetras da moda") era maioria. E duvido que Naomi Campbell seja uma das admiradoras ferrenhas do criador da bossa nova. Aliás, soube que ela mandou torpedos SMS durante a performance de João e saiu 40 minutos antes de acabar.

Não vou entrar no mérito de quais outros convidados mereciam ou não estar ali, pra não prejulgar. De repente uma dessas "modelatrizes", políticos e artistas obscuros acompanham João Gilberto tanto quanto eu, como vou saber?

Mas que é injusto, é. Vender uma pequena quantidade de ingressos, também. Perder meu lugar pra celebridades, idem. Há injustiça no mundo!

Um dia eu dou o troco.

(*) Publicado tardiamente em virtude da tentativa (bem-sucedida?) de escrever sem ressentimento.

Um comentário:

Na rua com Jeff Bonfim disse...

Consóle-se comigo,meu amigo: ha muitos anos atrás Adriana Calcanhoto esteve em minha cidade,Itabuna(sul da Bahia),para um show e as propagandas estavam à todo o vapor. Uma promoção numa rádio seria a minha salvação,mas o tel da rádio sempre ocupado... tentei à exaustão,sofrí,rezei,não tinha dinheiro,pedí por um milagre que não veio e nunca me esquecí da experiência marcante! Agora depois de muitos anos é a Madona que me dixou literalmente a ver navios,aliás,nem isso rsrs...Começando pelo fato dos ingressos custarem um absurdo eu ainda teria que montar uma barraquinha e dormir na rua pra ver a Diva. Com toda a minha franquêza,como diz o comercial do sabonete lux Luxo "sou uma diva" e que se dane as impossibilidades, dias melhores virão em que elas procurarão saber quem eu sou e onde estou! Estarei lá pra dar o ar da graça. (aproveite a dica e aproveitando o trocadilho de "o ar da graça" peça sua mãe para fazer o mesmo!!! rsrsrs... Um bj pra vc,para minha prima carol, sua mãe Graça e todos da família Lessa. Até a próxima! Jeff Bonfim (orkut: caricaturas do jeff bonfim)