Voz do que clama no deserto
"Existe um conceito infeliz no Brasil de que os direitos humanos só defendem bandidos. Tal conceito é popularizado e utilizado por pessoas que têm interesse em mantê-lo. Isso ajuda na justificação de políticas de comportamento repressivo, como as megaoperações no Rio de Janeiro ou a ideia de que os índios ameaçam os interesses econômicos do Mato Grosso do Sul. Várias ações governamentais no Brasil acabam sendo executadas para satisfazer àqueles que não acreditam nos direitos humanos."
Declaração de algum esquerdista de plantão? Opinião? Palpite?
Não, é um trecho do relatório da Anistia Internacional sobre o Brasil.
Lembrando que o único compromisso da organização, em nível mundial, é fiscalizar se os direitos humanos são respeitados. Não estão vinculadas a nenhum país, ou a algum grupo de pressão política ou partidária. Traduzindo: não tem rabo preso.
Tal iniciativa é um alento para este blogueiro, que agora se sente menos solitário no clamor público.
Leia o contundente relatório completo.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
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segunda-feira, 1 de junho de 2009
Estamos cercados!
No meio da entrevista ao Esporte Espetacular, o jogador Adriano diz à repórter: "Dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a trazer". O atacante, que acaba de voltar ao Flamengo após oito anos na Itália, parece saber do que está falando. Ele saiu da favela de Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão (Rio de Janeiro) para ganhar o apelido de Imperador graças a seu futebol pelo mundo.
Sergio Cabral e Eduardo Paes, com a conivência de boa parte da imprensa carioca e atendendo aos principais anseios da classe média da cidade do Rio, começam a erguer os muros em volta das favelas. A justificativa para a ação, condenada por organismos respeitáveis como a Anistia Internacional, é para conter a devastação ambiental. Uma balela, já que os principais devastadores não são os moradores das comunidades.
Na entrevista, Adriano afirmou que ficou deprimido após a morte do pai e desgostoso pelo futebol. Abandonou seu clube na Itália e sumiu no Brasil por alguns dias. Foi à favela de Vila Cruzeiro, reencontrar família e amigos. A despeito de se acreditar nos motivos que o levaram lá, o atacante não esconde que é na favela onde ele se sente bem e à vontade, a despeito de todo o dinheiro que ganhou na vida.
Sergio Cabral e Eduardo Paes, "somando forças", dão vida a choques de ordem e ocupações de morros pela polícia, para trazer a paz (para o morro ou para a Zona Sul vizinha?). Conseguem emplacar na mídia suas justificativas fascistas, o que se percebe pelo vocabulário das matérias: "comunidades" voltaram a ser "favelas"; "moradores de rua" são de novo "mendigos", e por aí vai. A classe média que já esperava por isso se sacia, a que até então poderia estar indiferente começa a tomar partido do governo.
A provocação das torcidas rivais à torcida flamenguista quando o time rubro-negro leva um gol: "Silêncio na favela", surfando na onda pejorativa. Adriano reestreiou ontem pelo Flamengo, marcando um gol e o Maracanã lotado gritava "Festa na favela", matando na ironia a provocação mordaz.
Sergio Cabral e Eduardo Paes não devem gostar muito da exaltação à favela que Adriano faz (também ressaltada na entrevista ao programa esportivo). Mas deixa estar: é futebol, numa torcida de massa, não vai além disso. Nada que atrapalhe seus planos de "arianizar" a sociedade carioca trajando um impecável cinismo.
Mas o atacante rubro-negro, nas limitações que possui e até onde o espectro esportivo permite, contribui para que o discurso do carioca não ignore o óbvio: a favela não é um antro de marginais que merece ser extirpada (removida?) do mapa. Se outros brasileiros de renome e voz - como os jogadores de futebol, ou digníssimos formadores de opinião - mantivessem essa postura, talvez governantes como Sergio Cabral e Eduardo Paes se constrangessem um pouco antes de proferir seus planos cara-de-pau.
Só que a cooptação pelo discurso dos magnânimos líderes eleitos encontra eco e nenhuma oposição. Ou nenhuma oposição que tenha espaço e voz. Que vergonha de morar no Rio.
VEJA TAMBÉM: Protestos contra os muros
No meio da entrevista ao Esporte Espetacular, o jogador Adriano diz à repórter: "Dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a trazer". O atacante, que acaba de voltar ao Flamengo após oito anos na Itália, parece saber do que está falando. Ele saiu da favela de Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão (Rio de Janeiro) para ganhar o apelido de Imperador graças a seu futebol pelo mundo.
Sergio Cabral e Eduardo Paes, com a conivência de boa parte da imprensa carioca e atendendo aos principais anseios da classe média da cidade do Rio, começam a erguer os muros em volta das favelas. A justificativa para a ação, condenada por organismos respeitáveis como a Anistia Internacional, é para conter a devastação ambiental. Uma balela, já que os principais devastadores não são os moradores das comunidades.
Na entrevista, Adriano afirmou que ficou deprimido após a morte do pai e desgostoso pelo futebol. Abandonou seu clube na Itália e sumiu no Brasil por alguns dias. Foi à favela de Vila Cruzeiro, reencontrar família e amigos. A despeito de se acreditar nos motivos que o levaram lá, o atacante não esconde que é na favela onde ele se sente bem e à vontade, a despeito de todo o dinheiro que ganhou na vida.
Sergio Cabral e Eduardo Paes, "somando forças", dão vida a choques de ordem e ocupações de morros pela polícia, para trazer a paz (para o morro ou para a Zona Sul vizinha?). Conseguem emplacar na mídia suas justificativas fascistas, o que se percebe pelo vocabulário das matérias: "comunidades" voltaram a ser "favelas"; "moradores de rua" são de novo "mendigos", e por aí vai. A classe média que já esperava por isso se sacia, a que até então poderia estar indiferente começa a tomar partido do governo.
A provocação das torcidas rivais à torcida flamenguista quando o time rubro-negro leva um gol: "Silêncio na favela", surfando na onda pejorativa. Adriano reestreiou ontem pelo Flamengo, marcando um gol e o Maracanã lotado gritava "Festa na favela", matando na ironia a provocação mordaz.
Sergio Cabral e Eduardo Paes não devem gostar muito da exaltação à favela que Adriano faz (também ressaltada na entrevista ao programa esportivo). Mas deixa estar: é futebol, numa torcida de massa, não vai além disso. Nada que atrapalhe seus planos de "arianizar" a sociedade carioca trajando um impecável cinismo.
Mas o atacante rubro-negro, nas limitações que possui e até onde o espectro esportivo permite, contribui para que o discurso do carioca não ignore o óbvio: a favela não é um antro de marginais que merece ser extirpada (removida?) do mapa. Se outros brasileiros de renome e voz - como os jogadores de futebol, ou digníssimos formadores de opinião - mantivessem essa postura, talvez governantes como Sergio Cabral e Eduardo Paes se constrangessem um pouco antes de proferir seus planos cara-de-pau.
Só que a cooptação pelo discurso dos magnânimos líderes eleitos encontra eco e nenhuma oposição. Ou nenhuma oposição que tenha espaço e voz. Que vergonha de morar no Rio.
VEJA TAMBÉM: Protestos contra os muros
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