Não é à toa que abaixo da minha foto no perfil deste blog consta que sou jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). A intenção é subsidiar o leitor com informações que colaborem para credibilidade do que escrevo. Assim, ele poderá avaliar a qualidade de meu trabalho enquanto lê os artigos e saber um pouco das minhas origens, de onde estou falando.
Na polêmica decisão do Superior Tribunal Federal (STF), é preciso esclarecer: o diploma de Jornalismo não foi derrubado, como se está dizendo. A obrigatoriedade dos patrões em contratar um diplomado para exercer o jornalismo é que não existe mais.
Vários jornalistas consagrados (e antigos de idade) que têm a vocação confirmada desde sempre não passaram pela faculdade - até porque ela não existia. É o caso de Mino Carta e Elio Gaspari, por exemplo. Ou do baluarte da profissão, Barbosa Lima Sobrinho, por tantos anos presidente da Associação Brasileira de Imprensa.
O que não se pode aceitar é a questão do diploma ser tratada como: 1) mera formalidade burocrática que impede talentos de aflorar; ou 2) como a garantia absoluta da qualidade do profissional. Os que são a favor da decisão do STF utilizam a primeira justificativa, os contrários a segunda. Ambos são extremos que não colaboraram em nada para a discussão da obrigatoriedade antes de Gilmar Mendes ter batido o martelo.
A maior preocupação, antes e agora, deverá ser sempre sobre a qualidade do ensino. Um de meus professores na UFF, que não morria de amores pela obrigatoriedade (mas era extremamente preocupado em nos preocuparmos com o bom ensino), foi defenestrado por colegas e alunos quando expôs tal opinião num debate no campus.
Demostrando a importância desse ponto, o pronunciamento das Organizações Globo sobre a decisão do STF foi: achamos bem-vinda a decisão, mas continuaremos a selecionar profissionais formados em jornalismo. O óbvio ululante ficou exposto no Jornal Nacional, que anunciou as palavras dos Marinho.
E qual seria esse óbvio? Uma corporação de comunicação não pode prescindir de profissionais capacitados, pura e simplesmente. Mas adora uma brecha na lei para vulnerabilizar os postulantes ao cargo, num mercado de trabalho cada vez mais enxuto.
É só lembrar: em todo e qualquer concurso público, um cargo de nível superior possui salários mais altos que um cargo de nível médio. Muitos fazem faculdade pensando nisso. Se o diploma não é mais obrigatório para a contratação de um jornalista, que obrigação eu tenho, como empregador, de tratá-lo como um profissional de nível superior? Não que isso vá automaticamente acontecer, mas a estrada já está pavimentada.
Logo, os donos dos meios de comunicação apóiam a decisão do STF, pois ela lhes dá ainda mais poder. A Federação Nacional de Jornalistas e os sindicatos país afora discordam, pois percebem a artimanha que o Judiciário sacramentou.
E não deixa de ser irônico que o Jornalismo, um ramo profissional que utiliza seus saberes para falar à sociedade de maneira fundamentada, clara e "entendível" (quando não faz isso, perde mercado e é criticado) tenha sido "castrado" pelo Direito, que possui linguagem e descaminhos jurídicos praticamente inacessíveis e ininteligíveis para a maioria da população.
Nem vou perder tempo falando de Gilmar Mendes. Joaquim Barbosa já disse tudo.
Vamos ver o que acontece no vestibular 2009. Jornalismo era um dos cursos mais disputados - continuará a ser? Para quem está na dúvida se entra na briga por uma vaga, recomendo o que sempre disse a respeito de qualquer carreira: não discuta com a sua vocação. E outra: não se contente com o que aprender na universidade (coisa que também vale pra qualquer profissão).
Para os docentes da área, mais do que nunca, é hora de se preocupar com o bom ensino do Jornalismo, mostrando que a não-obrigatoriedade nada tem a ver com os objetivos da formação escolar. E a universidade não pode cair na tentação de encastelar-se academicamente, como o Judiciário faz tão bem.
A comunicação muda cada vez mais rápido, e os profissionais do ramo não estão se reinventando - estão sendo reinventados à força. Cabe a nós, jornalistas, nos darmos conta dessa mudança e perceber que ainda temos papel relevante na sociedade, embora muitas vezes não seja fácil para ela se dar conta disso. Num rápido exercício: como você ficou sabendo das mil mordomias descaradas do Senado Federal? Pois é, pela imprensa.
Mas não cabe, a partir disso, a imprensa assumir um ar esnobe e aristocrático: ela não está sozinha na reverberação das informações. Blogs, twitters, celulares e seus produtores não-jornalistas devem ser encarados como colaboradores, não inimigos. A concorrência desleal é com o STF, pelo visto.
Enfim, tudo isso é pra dizer, sem romantismo, que me orgulho em ser jornalista. Informo minhas origens na UFF sem constrangimento, com todas as dificuldades que passei (como em qualquer lugar). Foi na faculdade que moldei minha vocação e conheci os fundamentos e valores da carreira. Não sou dotô, mas tenho um diploma que não é só decoração.
3 comentários:
Pois é, Lessa. Às vezes tenho medo de manifestar a minha opinião sobre esse tema por medo de ser alvejada pelos colegas diplomados. Mas o fato é que, apesar de todo o sacrifício que fiz para me formar (morava a duas horas e meia do campus da Praia Vermelha, da UFRJ), não acho que o diploma deva ser obrigatório para exercício da profissão.
Pode ser que eu esteja falando bobagem, porque não dou conta de olhar o cenário de uma visão mais distanciada, mas acho que a não obrigatoriedade do diploma, no fim das contas, não vai mudar muita coisa. Empresas que já o exigiam, como é o caso da Petrobras, vão continuar exigindo (vide o fato de que publicitários e analistas de marketing, por exemplo, têm de ter diploma para exercer esses cargos na empresa, embora as profissões, em si, não sejam regulamentadas).
Os setores que nunca se preocuparam com essa exigência simplesmente vão continuar fazendo o mesmo, só que, agora, respaldados pela lei. Cá entre nós, já vi muita gente trabalhando como "consultor" sem ter diploma de nada, nem de jornalismo, sem estar formado em curso algum, mas o currículo foi aceito e pronto. A mudança na lei não trouxe esses cenários, eles já existiam, somente vão continuar existindo com a anuência dos nossos homens de Direito.
Por outro lado, quando escuto alguém dizendo que "desperdiçou" seu tempo fazendo jornalismo porque agora a profissão não é mais regulamentada... sinceramente... acho uma tolice imensa. Se alguém faz uma faculdade de jornalismo porque espera emprego garantido e salário farto, sinceramente, escolheu a profissão errada... toda vez que olho meu contracheque me pergunto "por que não me obrigou fazer Direito, mamãe?"... mas quando penso na alegria que tenho em fazer as coisas que faço, vejo que estou satisfeita com a escolha que eu fiz.
É, Clarissa, tenho o mesmo sentimento que vc quanto a gostar de Jornalismo e ficar revoltado com quem cai de pára-quedas no curso (o que não é incomum. Deborah Secco fez Jornalismo!!!!).
Como eu disse num dos parágrafos, não caio no extremo de ardoroso defensor/detrator do diploma. Fico chateado com o contexto em que isso se deu: a classe nunca debateu nada qto à regulamentação da profissão, por exemplo, que dirá diploma. E os patrões se aproveitam pra levar vantagem, contando com os doutores da lei que vivem em suas ilhas jurídicas.
Se a classe jornalística visse na ABI ou na Fenaj um papel como tem a OAB para os advogados ou o CRM para os médicos - ou se preocupassem com a regulamentação disso por meio de um Conselho específico - não veríamos nossas questões de carreira sendo tratadas ao belprazer de outros interessados, como a questão do diploma.
Tem uma brincadeira lá no meu blog e você é meu convidado! : )
Postar um comentário