quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Até que existe almoço grátis

"Todo mundo é ateu até passar por um grave problema de saúde". A frase de Millôr Fernandes resume bem, como só o bom humor é capaz, um comportamento universal. As divindades podem até variar - o genérico "força superior" vem a calhar, sem exigir muita profissão de fé. Mas é no meio do perrengue que o sobrenatural que pode nos socorrer é levado mais a sério.

Os crentes podem se desarmar da empáfia do "eu já sabia". Nós que cremos no Todo-Poderoso não raro agimos como se tal alcunha fosse um mero adereço de Deus. É fácil cair na tentação de querer ter tudo sob nosso controle, por vezes exigindo até que Papai do Céu nos obedeça, senão eu choro. Faça o que eu digo, mas não faço o que eu digo.

Aí a gente se percebe em situações sem saída e episódios que sublinham nossas óbvias limitações. Flagramo-nos fracos, frouxos, desanimados e derrotados. O monstro varia de tamanho e alcance, mas pode nos acossar simplesmente nos expondo como somos. Nossa majestade nua perante nós mesmos, destacando o ridículo de se pensar autossuficiente.

Lembro das palavras do super-apóstolo Paulo. "Quando sou fraco, então é que sou forte". Em carta à igreja de Corinto,  lista as dificuldades pelas quais passou, incluindo um "espinho na carne" que o levou a pensar no assunto. E, por tabela, mostrando que a soberba é sempre um tiro no pé, e de olhos fechados.

Com a deixa de seus percalços, Paulo fala da graça de Deus. Graça: favor que não merecemos, mas que nos é concedido "de grátis" por Ele. Mas por quê? Ora, não tem explicação. É um favor, de graça, e ainda tem que justificar?

Paulo ao menos expõe um raciocínio: Deus explica o espinho na carne. "A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza". Então o apóstolo diz que sente prazer na fraqueza, para que possa saborear essa graça de Deus na sua vida. Enxergar as limitações significa se dar conta dessa Presença.

Prazer na fraqueza? Não é bem uma fruição, tampouco masoquismo. Porém se dar conta de que ser limitado não é o fim, mas o começo de uma nova perspectiva, tão palpável quanto a fé pode proporcionar... Se não me sentisse fraco, a solidão raivosa seria o meu pior castigo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom o texto. Sempre mentalizo essa frase de Paulo. Pra mim, faz todo sentido e toda a diferença. bjs Ló