segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

Prazer, obrigação, suspiros

Ao passar no vestibular, nos idos de 2000, ouvi a sapiência de um amigo entrado em dias: "Na faculdade temos duas grandes alegrias: quando passamos e quando nos formamos". Preciosas e proféticas palavras. Em meu período pré-calourano, tal afirmação me escandalizava! Hoje, constato ser verdade. Mas por que isso se dá?

Não é apenas pelo fato de estarmos terminando uma etapa de nossa vida. É preciso falar de uma realidade que qualquer graduando com real interesse na qualidade de sua formação se depara: o que poderia ser um aprendizado prazeiroso, muitas vezes transmuta-se em penosas obrigações.

De novo: por que isso se dá? Pode ser pelo professor, pela expectativa que colocamos em determinadas matérias, pelos mitos da profissão que vão caindo pelo caminho... Mas, tratando-se de ensino e de sua apreensão, perdoem-me os docentes, o mestre tem uma extrema dose de responsabilidade quanto ao resultado em forma de decepção.

Como em qualquer ambiente educacional, os alunos estão subjugados ao professor, desde o conteúdo a ser transmitido até as práticas de aula. E não são poucos os casos em que esperamos muito de uma matéria ao ver sua ementa e o dia-a-dia de seu desenvolvimento ser um desejo de que tudo acabe o mais rápido possível. 8 ou 80: se um extremo compõe-se de professores desleixados que adoram uma única avaliação final pra ninguém ser reprovado e ele dar a aula que quiser; outro é a existência de mestres que fazem da aula uma seqüência de pontos a bater, a cada semana um seminário complexo a ser apresentado, um denso trabalho de grupo, testes que parecem querer provar que você nunca saberá nada do que pensa estar aprendendo.

Caros leitores, nào prego aqui a vagabundagem sem peso na consciência. Mas chamo a atenção para o potencial que o professor tem de destruir a sede de saber que necessitamos até o fim dos dias. E logo no pior ambiente para isso: a escola ou a universidade. Se ainda fosse em seu exemplo de vida, isso seria uma questão mais complexa e fora do âmbito da aula. Mas se no ofício para o qual se preparou para exercer ele extermina o foco da sua profissão, ficamos desolados.

A outra face é verdadeira: professores que marcaram nossa vida (positivamente) foram os que encarnaram o bom senso em sua multiplicidade: amizade, cobranças, notas justas e aulas idem, desejo de promoção social discente - não de terrorismo com o mínimo de autoridade. Ou de ofensiva indiferença perante os que dele dependem para aprender.

Portanto, façam valer o 15 de outubro. Não negligenciem a a árdua mas recompensadora tarefa - para uma geração inteira - à qual foram predestinados. Sei que haverá motivos que desmotivam no decorrer da carreira. Porém, outros de igual forma buscam atenuar a contrapartida dos alunos. Estamos no mesmo barco e acreditem, todos queremos ser bem-sucedidos como Noé.

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