2012: fala sério!
O Rio perdeu as Olimpíadas. Serei o único carioca a dizer: "Bem feito!"? Não, não curto ser "do contra", nem dos "já sabia" - essa galera é irritante! Mas quando que se pôde levar a sério os Jogos Olímpicos acontecerem aqui? Ainda custo a acreditar que ganhamos o Pan...
Se algum leitor injuriado já me enquadrou entre os conservadores com opinião de que "o que é de fora", ou seja, o que é estrangeiro é que presta, que brasileiro é uma raça inferior, desista. O problema é que nós, acostumados a muito confete e serpentina - para alegria de muitos políticos - não conseguimos ser realistas quando necessário.
Os jornais republicaram fatos e fotos que todos os cariocas conhecem na pele: violência, polícia que causa desconfiança, caos no transporte, poluição de todo o tipo... Precisava o Comitê Olímpico Internacional (COI) dar nota baixa nesses quesitos pra cairmos na real?
O pior é que não conta apenas a situação de hoje. Isto é, o Rio não foi digno de confiança no sentido de reverter esses quadros até 2012. Alguma novidade? Você acredita que quem governa o Rio hoje está sinceramente empenhado em reabilitar a cidade a longo prazo, ou seja, para além de seus mandatos? Logo, não penso em outra coisa pra dizer senão "Bem feito!". A incompetência e o descompromisso não podem ser recompensados jamais. Principalmente quando usam como mero pretexto a expectativa dos que torciam pelos Jogos.
E o mais angustiante é perceber que determinadas ações de governo só acontecem quando há uma imposição de força maior. Foi só o Rio ser anunciado como sede do Pan 2007 para que a Prefeitura logo iniciasse/anunciasse obras de saneamento, melhoria dos transportes, da segurança. E agora não dá pra voltar atrás, pois já foi feita a escolha da cidade (ao contrário do longínquo 2012). Quer dizer, atribuições que deveriam ser efetivadas por compromisso politico-eleitoral só o são porque há um evento internacional em jogo e não podemos dar vexame. Só isso já é um vexame. (Ou algum político vai dizer pro COI que não há verbas para atender às necessidades? Deixam essa desculpa para os cariocas otários...)
No fundo, creio que a grande torcida pela Rio 2012 foi essa: seria a única maneira de fazer com que compromissos de campanha virassem realidade. Mas parece que o COI alcançou uma maturidade política realista antes dos cariocas. E sem domicílio eleitoral aqui.
quinta-feira, 20 de maio de 2004
segunda-feira, 10 de maio de 2004
Infinitude da Comunicação X Finitude do Desejo
O título acima é de um artigo do filósofo italiano Toni Negri. Não vou me aventurar a comentar ou resenhar o tal artigo, mas o título me chamou a atenção. Conseguiu ser meu sintético porta-voz, vindo no "timing" certinho de meu momento pessoal e profissional, abarcando também minha concepção do universo comunicativo.
Porque assim me sinto em relação às possibilidades da comunicação: infinitas, porém produzidas por personagens finitos. No caso, finito Lessa. Tenho lido bastante a respeito da história dos meios de comunicação, não apenas textos analíticos como também relatos pessoais de marcos da imprensa brasileira. O título de Toni Negri caberia também para o "Minha razão de viver", de Samuel Wainer.
Wainer foi ninguém menos que o criador do jornal "Última Hora", e seu livro é uma coletânea de 53 fitas cassete de depoimento. O mais fascinante é que sua história é História. Ao contar sua trajetória, Wainer é obrigado a narrar períodos políticos do Brasil e do mundo. Ele é o homem que, dentre outras façanhas, "ressuscitou" Getúlio Vargas numa entrevista inédita até então, e foi o único jornalista brasileiro a cobrir o julgamento de Nuremberg - o único do mundo a entrevistar os réus. Pra quem pensa que Wainer valorizou soberbamente sua biografia, é só consultar na Biblioteca Nacional suas reportagens.
Ler as memórias do repórter Samuel Wainer, que era de uma época pré-TV e internet, é adentrar outro mundo, em meus simplórios 23 anos. Porém o livro é um relato auto-crítico em que Wainer ressalta quando estava errado e o que aprendeu com seus sucessos e falhas. Em suma, possuía qualidades atemporais necessárias a qualquer jornalista. Em nosso contexto de hoje, diria urgentes.
Wainer personifica minha percepção atual: as infinitas possibilidades que são inerentes à comunicação e seus meios nas mãos de pessoas finitas e sujeitas a falhas clamorosas. É um poder, sem dúvida. Mas estariam os aspirantes ao jornalismo cientes desse poder - não no sentido ganancioso, mas no potencial que a profissão carrega em sua essência?
Não apenas mitos podem ser construídos e destruídos num piscar de olhos pela imprensa. Vidas também. Literalmente. O estudante de jornalismo de hoje sabe da responsabilidade que possui? E os leitores? Em vez de praguejar contra a "raça dos jornalistas" quando os dissabores acima citados acontecem, sabem distingüir essa responsabilidade para cobrar, em forma de crítica, a presença essencial de jornalistas vocacionados?
Vocação. Essa é a palavra. Isso era Samuel Wainer. E hoje? Há jornalistas vocacionados ocupando as carteiras da universidade? A faculdade de jornalismo "virar moda" é um bom negócio para a sociedade? Ou apenas um bom negócio, sabe-se lá pra quem? Não estranhe a expressão "virar moda". Estranhe que um medíocre ator de Malhação, uma capa de Playboy e a Miss Brasil 2003 queiram ter curso superior em jornalismo. Para quê? Sabem aonde estão se metendo?
Quando Wainer contou sua história, não conseguiu falar de nada além de jornalismo. Estava na veia, o tempo todo. Possuía vida pessoal, mas não pairava dúvidas sobre sua vocação. E suas renomadas reportagens confirmavam isso - "pelos seus frutos os conhecereis". Que frutos os jornalistas não-vocacionados oferecem para o Brasil? Ainda há outro detalhe: vocação é apaixonante, você quer que aquilo dê certo porque, do contrário, sua própria essência estará sendo violentada. Que frutos os jornalistas não-vocacionados oferecerão para o Brasil?
É claro que essa reflexão se aplica a todas as profissões. Mas neste território blogueiro não, meu caro. Senhor Wainer, gostaria que me ouvisse de onde estiver: nasci pra ser jornalista.
O título acima é de um artigo do filósofo italiano Toni Negri. Não vou me aventurar a comentar ou resenhar o tal artigo, mas o título me chamou a atenção. Conseguiu ser meu sintético porta-voz, vindo no "timing" certinho de meu momento pessoal e profissional, abarcando também minha concepção do universo comunicativo.
Porque assim me sinto em relação às possibilidades da comunicação: infinitas, porém produzidas por personagens finitos. No caso, finito Lessa. Tenho lido bastante a respeito da história dos meios de comunicação, não apenas textos analíticos como também relatos pessoais de marcos da imprensa brasileira. O título de Toni Negri caberia também para o "Minha razão de viver", de Samuel Wainer.
Wainer foi ninguém menos que o criador do jornal "Última Hora", e seu livro é uma coletânea de 53 fitas cassete de depoimento. O mais fascinante é que sua história é História. Ao contar sua trajetória, Wainer é obrigado a narrar períodos políticos do Brasil e do mundo. Ele é o homem que, dentre outras façanhas, "ressuscitou" Getúlio Vargas numa entrevista inédita até então, e foi o único jornalista brasileiro a cobrir o julgamento de Nuremberg - o único do mundo a entrevistar os réus. Pra quem pensa que Wainer valorizou soberbamente sua biografia, é só consultar na Biblioteca Nacional suas reportagens.
Ler as memórias do repórter Samuel Wainer, que era de uma época pré-TV e internet, é adentrar outro mundo, em meus simplórios 23 anos. Porém o livro é um relato auto-crítico em que Wainer ressalta quando estava errado e o que aprendeu com seus sucessos e falhas. Em suma, possuía qualidades atemporais necessárias a qualquer jornalista. Em nosso contexto de hoje, diria urgentes.
Wainer personifica minha percepção atual: as infinitas possibilidades que são inerentes à comunicação e seus meios nas mãos de pessoas finitas e sujeitas a falhas clamorosas. É um poder, sem dúvida. Mas estariam os aspirantes ao jornalismo cientes desse poder - não no sentido ganancioso, mas no potencial que a profissão carrega em sua essência?
Não apenas mitos podem ser construídos e destruídos num piscar de olhos pela imprensa. Vidas também. Literalmente. O estudante de jornalismo de hoje sabe da responsabilidade que possui? E os leitores? Em vez de praguejar contra a "raça dos jornalistas" quando os dissabores acima citados acontecem, sabem distingüir essa responsabilidade para cobrar, em forma de crítica, a presença essencial de jornalistas vocacionados?
Vocação. Essa é a palavra. Isso era Samuel Wainer. E hoje? Há jornalistas vocacionados ocupando as carteiras da universidade? A faculdade de jornalismo "virar moda" é um bom negócio para a sociedade? Ou apenas um bom negócio, sabe-se lá pra quem? Não estranhe a expressão "virar moda". Estranhe que um medíocre ator de Malhação, uma capa de Playboy e a Miss Brasil 2003 queiram ter curso superior em jornalismo. Para quê? Sabem aonde estão se metendo?
Quando Wainer contou sua história, não conseguiu falar de nada além de jornalismo. Estava na veia, o tempo todo. Possuía vida pessoal, mas não pairava dúvidas sobre sua vocação. E suas renomadas reportagens confirmavam isso - "pelos seus frutos os conhecereis". Que frutos os jornalistas não-vocacionados oferecem para o Brasil? Ainda há outro detalhe: vocação é apaixonante, você quer que aquilo dê certo porque, do contrário, sua própria essência estará sendo violentada. Que frutos os jornalistas não-vocacionados oferecerão para o Brasil?
É claro que essa reflexão se aplica a todas as profissões. Mas neste território blogueiro não, meu caro. Senhor Wainer, gostaria que me ouvisse de onde estiver: nasci pra ser jornalista.
Assinar:
Postagens (Atom)