Infinitude da Comunicação X Finitude do Desejo
O título acima é de um artigo do filósofo italiano Toni Negri. Não vou me aventurar a comentar ou resenhar o tal artigo, mas o título me chamou a atenção. Conseguiu ser meu sintético porta-voz, vindo no "timing" certinho de meu momento pessoal e profissional, abarcando também minha concepção do universo comunicativo.
Porque assim me sinto em relação às possibilidades da comunicação: infinitas, porém produzidas por personagens finitos. No caso, finito Lessa. Tenho lido bastante a respeito da história dos meios de comunicação, não apenas textos analíticos como também relatos pessoais de marcos da imprensa brasileira. O título de Toni Negri caberia também para o "Minha razão de viver", de Samuel Wainer.
Wainer foi ninguém menos que o criador do jornal "Última Hora", e seu livro é uma coletânea de 53 fitas cassete de depoimento. O mais fascinante é que sua história é História. Ao contar sua trajetória, Wainer é obrigado a narrar períodos políticos do Brasil e do mundo. Ele é o homem que, dentre outras façanhas, "ressuscitou" Getúlio Vargas numa entrevista inédita até então, e foi o único jornalista brasileiro a cobrir o julgamento de Nuremberg - o único do mundo a entrevistar os réus. Pra quem pensa que Wainer valorizou soberbamente sua biografia, é só consultar na Biblioteca Nacional suas reportagens.
Ler as memórias do repórter Samuel Wainer, que era de uma época pré-TV e internet, é adentrar outro mundo, em meus simplórios 23 anos. Porém o livro é um relato auto-crítico em que Wainer ressalta quando estava errado e o que aprendeu com seus sucessos e falhas. Em suma, possuía qualidades atemporais necessárias a qualquer jornalista. Em nosso contexto de hoje, diria urgentes.
Wainer personifica minha percepção atual: as infinitas possibilidades que são inerentes à comunicação e seus meios nas mãos de pessoas finitas e sujeitas a falhas clamorosas. É um poder, sem dúvida. Mas estariam os aspirantes ao jornalismo cientes desse poder - não no sentido ganancioso, mas no potencial que a profissão carrega em sua essência?
Não apenas mitos podem ser construídos e destruídos num piscar de olhos pela imprensa. Vidas também. Literalmente. O estudante de jornalismo de hoje sabe da responsabilidade que possui? E os leitores? Em vez de praguejar contra a "raça dos jornalistas" quando os dissabores acima citados acontecem, sabem distingüir essa responsabilidade para cobrar, em forma de crítica, a presença essencial de jornalistas vocacionados?
Vocação. Essa é a palavra. Isso era Samuel Wainer. E hoje? Há jornalistas vocacionados ocupando as carteiras da universidade? A faculdade de jornalismo "virar moda" é um bom negócio para a sociedade? Ou apenas um bom negócio, sabe-se lá pra quem? Não estranhe a expressão "virar moda". Estranhe que um medíocre ator de Malhação, uma capa de Playboy e a Miss Brasil 2003 queiram ter curso superior em jornalismo. Para quê? Sabem aonde estão se metendo?
Quando Wainer contou sua história, não conseguiu falar de nada além de jornalismo. Estava na veia, o tempo todo. Possuía vida pessoal, mas não pairava dúvidas sobre sua vocação. E suas renomadas reportagens confirmavam isso - "pelos seus frutos os conhecereis". Que frutos os jornalistas não-vocacionados oferecem para o Brasil? Ainda há outro detalhe: vocação é apaixonante, você quer que aquilo dê certo porque, do contrário, sua própria essência estará sendo violentada. Que frutos os jornalistas não-vocacionados oferecerão para o Brasil?
É claro que essa reflexão se aplica a todas as profissões. Mas neste território blogueiro não, meu caro. Senhor Wainer, gostaria que me ouvisse de onde estiver: nasci pra ser jornalista.
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