"Você está aqui!"
A opressão do consumo simbolizada pelo shopping me dava boas-vindas, com sorriso irônico. Que os funcionários não fiquem com a consciência pesada, mas é a cultura do lugar. Para que serve um shopping? Para compra e venda, nada além disso. Diversão? As pessoas se divertem comprando, outras ficam felizes vendendo. Cinemas (que vendem ingressos) são secundários, e o pretexto de encontrar amigos também está permeado pelo espírito consumista. Muitas críticas e apologias já foram feitas nesse aspecto, mas o objetivo aqui é constatar.
Ou melhor: contextualizar. Não vou analisar mentalidades, comportamentos, filosofias de vida. Fato é que estava no shopping, como tantas vezes estive (tanto que nem lembro o que eu fui fazer lá dessa vez. Talvez compras!). Precisei achar uma loja que não sabia onde ficava, e apelei para um objeto típico de shopping: o mapa do piso. Aquele em que as lojas viram centenas de quadradinhos coloridos, e que as portas, escadas rolantes, extintores e demais elementos do lugar viram desenhos achatados. Afinal, é um mapa!
Esses mapas são cada vez mais modernos, com animações em flash e design publicitário, pra ficarmos babando. Encarnam a tendência tecnológica de trazer para a ponta de nossos dedos o que era cinema de ficção científica até ano passado. Não sabia se brincava um pouco ou via logo onde era a loja. Lazer ou pragmatismo? Subjetividade ou objetividade? Estavam ali, piscando e languidamente se oferecendo a mim em forma de mapa de piso de shopping, questões com as quais nos deparamos todo dia.
Mas de tanta informação sobre a intimidade do shopping, qual seria a mais importante? Não só para aquele meu momento, mas de maneira atemporal? Nem pensei muito: era aquele pontinho vermelho com a histórica frase "Você está aqui".
É a informação mais importante de nossas vidas. De nada adianta o performático mapa se aquele pontinho vermelho e sua legenda não estiverem destacados. Se eu não sei onde estou, que referências adiantam? Que adianta saber aonde ir, seguir conselhos e direções, ouvir os mais experientes, conhecer os caminhos? Preciso saber onde estou.
E se me arrancam aquele pontinho? Um mapa flutuante judiando de meu desespero "desinformativo". Estou num limbo. Não quero isso, quero sentido (se possível, direção), quero significado ainda que seja impossível de percebê-lo em primeiro plano. Quero saber onde estou, é um direito tão elementar quanto o de ir e vir. Aliás, sem o primeiro não há o último.
Minha digitadora pessoal e secretária quando há negociação (minha irmã) quase capitulou ao perceber que um pontinho de mapa de shopping vira crônica. "Só você mesmo". Só eu mesmo? Só mesmo o pontinho. A exclamação que não me deixa perdido e me metaforiza todo, ela é a culpada. Exclamação universal, desconcertante de leitores-passantes-comprantes. Suprema ironia do shopping: nenhum dinheiro do mundo substitui a informação vital daquele pontinho. Rendamo-nos à simplicidade que ele insiste em nos ensinar.
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