terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Não!

Quem sabe dizer não? Você sabe? Eu sei? Não sei não. E por que não? Como saber? Apenas três letras, sempre imperiosas e imperativas por si só, por que não? Qual é a dificuldade? Por que tanto vício no aceite, no concordar sem questionar, no "engolir" e só depois perceber que desde o início a resposta devia ser "não"? E agora agüentar as conseqüências, nesse sentimento de vergonha secreta, em que só nós e o espelho nos torturamos mutuamente enquanto os beneficiados por nossa covardia se deleitam?

A comunidade do Orkut "Preciso aprender a dizer NÃO!" já conta com quase 80 mil pessoas! Nada comparado a 6 bilhões de habitantes do planeta. Ainda assim, 80 mil seres como eu que ainda não aprenderam a dizer a palavrinha em tantas situações, para o nosso próprio bem. Eu me pergunto: por que, tendo consciência desse problema, ainda é tão difícil dizer NÃO?

Encontro um fiapo de resposta no shopping.

A opressão do consumo rodeia a nossa vida desde o nascimento. As roupas e lojas de bebês são variadas, e não me venha com o papo de que haver concorrência baixa os preços e ponto final. Pois as vendas e a publicidade deixaram de existir a fim de proporcionar a subsistência de uma vida digna do básico, para exortar com capa de profeta a opulência necessária (a quem?). Precisamos todos consumir, embora quase nunca precisemos consumir tanto. A ideologia do consumo além do necessário, como estilo e proposta de vida, tem levado muitos a suicídios de personalidade por meio do superficial.

Consumir é dizer sim. "Sim, vou levar"; "sim, eu compro"; "sim, eu aceito"; "sim, por que não?". Suspeito que temos tanta dificuldade em dizer não pela extrema lavagem cerebral, corporal e intelectual do consumo, que só existe a partir do nosso "sim". Sem sim não há compra nem venda. Logo, é preciso um pouco de "sim" para não morrermos pelo caminho. Mas viciar em "sim", fazendo da crítica uma herege em cleros capitalistas, é morte em vida.

"Ô garoto 'vermelhinho'! Aposto que não despreza uma Coca-Cola ou um tênis novo!". Estão certos. Não desprezo. Assim como não desprezo o equilíbrio. Dizer sim a todo instante é gangorra enterrada de um lado só, sem movimento nem diversão, tampouco qualidade de vida. E o drama para dizer não (mesmo tendo a consciência total de que é aquilo que preciso dizer naquele momento) é o sintoma dessa situação doente na qual me vejo inserido. Quem ambiciona continuar doente?

Preciso aprender a dizer não. Preciso dizer não. Sem grosseria, mas com firmeza. Sem estupidez, mas com coerência. Sem intolerância, mas com amor. Sim, eu preciso dizer não. Pra mim e por mim.

Enquanto produzia mais essas linhas, o maldito Word recém instalado me perguntava, a cada palavra digitada: "A Auto Correção não está instalada. Deseja instalar agora?". Para continuar a escrever, era preciso clicar infinitamente: não! Refestelo-me na ironia...

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