Carta à redação do jornal Expresso
Os tablóides pioram a vida do povo. Abusam do sensacionalismo e fazem um discurso cujo tom exacerbado desvia a atenção do que realmente importa: os fatos em si, a reflexão sobre eles, e a devida contextualização. Aliás, o mínimo de contextualização só existe até onde convém. A barbárie cometida por ladrões que arrastaram pelas ruas um menino preso no cinto de segurança serve como exemplo.
Abro o Expresso de hoje (08/02/2007), que fala da prisão dos ladrões. Destaco algumas frases:
"Isso não pode ser gente" (manchete);
"Dois desalmados foram presos...";
"Um deles é maior. Se condenado, sai da cadeia em 5 anos. O outro é menor e não fica mais de 3 anos internado. Isso é justiça, meu Deus?";
Depois de narrar novamente o passo-a-passo do episódio, desde o roubo até deixarem o carro com menino pendurado do lado de fora, segue:
"Mesmo assim, devem ficar pouco tempo na cadeia (...) Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor X. poderá pegar no máximo três anos";
Sendo assim, o que nos resta? Pena de morte, claro. Afinal, não têm alma e não são gente. E, além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente é um atraso de vida para o cidadão injustiçado.
Assim é construído o discurso. O Estatuto só é evocado quando "alivia" a pena de bandidos menores de idade. Quase ninguém lembra que ele traz uma legislação que protege filhos que apanham dos pais ou sofrem qualquer tipo de abuso. E que a ressocialização em instituições - onde o menor X. ficará por três anos - é prevista para todo o tipo de menor, não apenas para os bárbaros (que não existem aos milhares. A intensidade de um ato bárbaro é que é explorada de maneira sensacionalista para dar essa impressão).
NÃO ESTOU DEFENDENDO OS LADRÕES. Defendo um jornalismo responsável que trate assuntos sérios de maneira séria, sem reducionismos e desrespeito para com os envolvidos. A violência no Rio de Janeiro foi banalizada por veículos como Expresso, Extra, Meia Hora e outros pelo Brasil. Mas eles revelam a face mais rasteira de uma mentalidade que permeia entre seus "irmãos maiores": os jornalões de classe média encampam o mesmo discurso simplista, que não aborda o contexto da violência, apenas protestam contra o incômodo em volta de seus castelos usando dos meios de comunicação que dispõem.
Com esse tipo de jornalismo, famílias como a de João Hélio continuarão sendo vilipendiadas: pela violência física e pelos por seus "pseudo-porta-vozes" mercantilistas de pautas.
Marcos André Lessa
Jornalista
Os tablóides pioram a vida do povo. Abusam do sensacionalismo e fazem um discurso cujo tom exacerbado desvia a atenção do que realmente importa: os fatos em si, a reflexão sobre eles, e a devida contextualização. Aliás, o mínimo de contextualização só existe até onde convém. A barbárie cometida por ladrões que arrastaram pelas ruas um menino preso no cinto de segurança serve como exemplo.
Abro o Expresso de hoje (08/02/2007), que fala da prisão dos ladrões. Destaco algumas frases:
"Isso não pode ser gente" (manchete);
"Dois desalmados foram presos...";
"Um deles é maior. Se condenado, sai da cadeia em 5 anos. O outro é menor e não fica mais de 3 anos internado. Isso é justiça, meu Deus?";
Depois de narrar novamente o passo-a-passo do episódio, desde o roubo até deixarem o carro com menino pendurado do lado de fora, segue:
"Mesmo assim, devem ficar pouco tempo na cadeia (...) Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor X. poderá pegar no máximo três anos";
Sendo assim, o que nos resta? Pena de morte, claro. Afinal, não têm alma e não são gente. E, além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente é um atraso de vida para o cidadão injustiçado.
Assim é construído o discurso. O Estatuto só é evocado quando "alivia" a pena de bandidos menores de idade. Quase ninguém lembra que ele traz uma legislação que protege filhos que apanham dos pais ou sofrem qualquer tipo de abuso. E que a ressocialização em instituições - onde o menor X. ficará por três anos - é prevista para todo o tipo de menor, não apenas para os bárbaros (que não existem aos milhares. A intensidade de um ato bárbaro é que é explorada de maneira sensacionalista para dar essa impressão).
NÃO ESTOU DEFENDENDO OS LADRÕES. Defendo um jornalismo responsável que trate assuntos sérios de maneira séria, sem reducionismos e desrespeito para com os envolvidos. A violência no Rio de Janeiro foi banalizada por veículos como Expresso, Extra, Meia Hora e outros pelo Brasil. Mas eles revelam a face mais rasteira de uma mentalidade que permeia entre seus "irmãos maiores": os jornalões de classe média encampam o mesmo discurso simplista, que não aborda o contexto da violência, apenas protestam contra o incômodo em volta de seus castelos usando dos meios de comunicação que dispõem.
Com esse tipo de jornalismo, famílias como a de João Hélio continuarão sendo vilipendiadas: pela violência física e pelos por seus "pseudo-porta-vozes" mercantilistas de pautas.
Marcos André Lessa
Jornalista
4 comentários:
Coragem, Lessa. Você tem coragem e discernimento. É sempre bom a gente saber que não está só e que estes espaços alternativos, como o seu blog, snao um lenitivo para os que buscam informação sem manipulação.
Parabéns pelo blog.
Obrigado, Lelê... Fiquemos atentos, via internet. Abs
Oi Marcos,
muito bom o seu texto. Um desabafo. De fato essa atitude mais evidentes nos jornais ditos sensacionalistas é reflexo, dos veículos de grande porte, não só impressos mais dos outros meios também. A violência já era pauta, mas recentemente o espaço para esse tema aumentou consideravelmente, inclusive nos noticiários de tv...
Oi, Carol. Pois é, a gente tem q ficar ligado nesses exageros dos discursos midiáticos. Tenho pena das famílias, que além da perda têm que lidar com uma falta de bom senso de muitos veículos.
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