"A vida é composta como uma partitura musical. O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, escolhe um tema que fará parte da partitura da sua vida. Voltará ao tema, repetindo-o, modificando-o, desenvolvendo-o, transpondo-o, como faz um compositor com os temas de uma sonata. O homem, inconscientemente, compõe sua vida segundo as leis da beleza, mesmo nos instantes do mais profundo desespero" (Milan Kundera)
Essa é a epígrafe de um texto maravilhoso do educador Rubem Alves (foto), onde ele discorre sobre sua relação com o ato de educar - o seu diamante, correspondendo ao texto de Kundera - e como isso o arrebata para a vida. Em seus artigos o tema é recorrente, e ele explica o porquê desse retorno contínuo ao tema:
"Um amigo querido, Hugo Assmann, faz anos, me disse com um sorriso: ‘Rubem, faz anos que você fala sempre sobre a mesma coisa’. É verdade. Não importa sobre o que eu esteja falando: eu falo sobre o tema que enche minha alma de alegria." E ele prossegue numa satisfação empolgada de quem se encontrou, sem volta.
Veio o nó na garganta quando li o artigo. Minha relação com Comunicação e Jornalismo é praticamente a mesma. Até algumas analogias são parecidas. Não sei se você já sentiu isso antes, mas é como se uma espada surgisse na tela do seu computador e subitamente te atravessasse até o encosto da cadeira. Sem chance de reação.
Vem então aquela agonia de estar sendo transpassado pela confirmação do "tema" da "partitura" da sua vida. Paradoxalmente - e cada vez mais eu aprendo que a vida é cheia de paradoxos, e que isso não é necessariamente ruim - é uma boa agonia. É a agonia do encontro, saciando sedes que você nem sabia que possuía.
Desejo a agonia do encontro a meus amigos e inimigos. Que todos sintam o prazer de descobrirem o diamante de sua existência, e não se percam em mesquinharias mundanas que só nos afastam do agonizante divisor de águas. Agonia benfazeja, renovadora. Incômodo bem-vindo, pra que a gente não se distraia do principal.
Como é bom dar as mãos ao principal. No meu caso, as mãos teclam, abraçam a Bic, digladiam-se com a tendinite e rompem as barreiras que a agonia me ajuda a desancar.
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