O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) apresentará no Congresso um anteprojeto de lei que diminui a responsabilidade do jornalista na publicação das matérias. Peraí? Um incentivo ao "vale-tudo"? Não, apenas uma tentativa de colocar as coisas nos seus devidos lugares. Mais do que a mão que escreve, quem dá o veredicto final no que é publicado (e às, vezes, de como é publicado) é a mão que edita, que está na chefia e pertinho dos donos. Isso quando não é a mão do próprio dono que dá o carimbo final.
“O jornalista não é decisivo na escolha da matéria a ser publicada. No mundo real, sabemos que o título e a legenda, criados por outra pessoa, podem alterar o entendimento, não refletir necessariamente o conteúdo da matéria. O jornalista não pode ser responsabilizado por esse tipo de controvérsia”, diz o deputado, em entrevista ao site do Sindicato dos Jornalistas do RJ. "“A responsabilidade sempre recairá sobre a empresa jornalística”, completa.
O leitor pode checar: hoje em dia, muitas matérias são assinadas pelo jornalista. Há algum tempo, isso não era tão comum. Bom, se as matérias não são assinadas, fica ainda mais claro que a responsabilidade final da publicação é do jornal. Ou seja, o fato de ter que assinar vulnerabiliza o profissional - os possivelmente atingidos ou incomodados com determinada matéria resolvem processar o autor do texto. E a empresa jornalística não é tão visada como co-autora.
Um exemplo claro é o da repórter Suely Caldas, veterana do jornalismo econômico. Ela contou, em recente seminário na Uerj, sobre sua experiência na cobertura dos desmandos públicos no Banespa, nas gestões de Luis Antonio Fleury e Orestes Quércia. Fleury processou a repórter, e a justiça deu ganho de causa. Ela foi condenada a pagar 120 mil reais de indenização - para isso, teria que vender seu único apartamento. No caso, o Estadão (onde Suely trabalhava) pagou. Mas se o processo fosse contra Suely apenas, o jornal teria essa obrigação?
Esse é outro ponto do anteprojeto, segundo Miro Teixeira: “É inconcebível que alguém com salário de 7, 8 mil reais seja obrigado a pagar uma indenização de 100 mil reais a alguém que às vezes ganha muito mais do que isso por mês.” E dependendo da realidade do veículo, o deputado foi até generoso ao se referir ao salário do jornalista.
O repórter vai à rua, faz entrevistas, apura as informações, redige. Precisa ser bom nisso e estar bem fundamentado nos dados que levantou. Essa responsabilidade é dele, sem dúvida. Mas quando a matéria é selecionada para publicação, passa por edições finais, vai pra diagramação, gráfica, bancas... Todo esse processo é responsabilidade do jornalista?
O que a sociedade em geral precisa perceber é que essa situação - responsabilizar o jornalista totalmente - não é benéfico para o processo de apuração de informações de interesse público. Os donos do poder sabem flertar com os donos da mídia e o lado mais fraco da corda sempre será o dos jornalistas. Então, é preciso falar de responsabilidade sim, mas proporcionalmente.
2 comentários:
É uma pena que politicagens amputem o que um jornalista escreve... Mas, este é o mundo em que vivemos...
Forte abraço,
Por estas e outras mudei-me de país após 20 anos de amor pela bandeira nacional que afinal, nem era a minha... Pena. Mas está cada vez mais, impossível de acturar certas coisas. Não digo que estou melhor... Mas me encontro cansada de tanto luta inglória.
(Sabias que tenho um linck do meu Blog para o seu??).
Um forte abraço também para ti!
Postar um comentário