Foi um daqueles dias em que eu, despreocupadamente, resolvi alugar um documentário para assistir. Há muitos na minha galeria dos "não-alugados", e o filme sobre a vida do escritor José Lins do Rêgo foi o escolhido da vez. Para quem nunca leu nada de sua obra é uma convocação a mergulhar no mundo do menino de engenho.
Vladimir Carvalho, um dos melhores documentaristas brasileiros, é do estilo em que o entrevistador (no caso, ele) aparece no filme, fazendo com que cada entrevista seja automaticamente convertida em conversa fraterna e espontânea. Até o ambiente do lugar Vladimir consegue captar nas filmagens, sem prejudicar os objetivos de sua pesquisa sobre Zé Lins.
As alterações de humor, a relação com a memória pessoal e familiar, a desenvoltura nas letras a partir do encontro com Gilberto Freyre e a obsessão pelo Flamengo estão relatadas. E muitas histórias e observações de seus amigos e contemporâneos, demonstrando como a obra de Zé Lins é melancolicamente autobiográfica.
Nada se compara ao depoimento longo de Thiago de Melo, grande amigo do escritor e que esteve com ele nas horas finais, no hospital. A capacidade do poeta em descrever os acontecimentos, alternando tragédia e comédia, e sempre deixando à tona sua sensibilidade perante o drama de Zé Lins é de comover qualquer um.
O engenho de Zé Lins é da galeria dos documentários nacionais que revela parte da história e da cultura brasileiras por meio de seu objeto de pesquisa - no caso, sujeito de pesquisa: José Lins do Rêgo, paraibano, flamenguista, romancista que marcou a literatura. Méritos a Vladimir Carvalho por nos permitir o acesso a tanto conhecimento sobre nosso Brasil.
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