Antonio Palocci, ex-Ministro da Fazenda do atual governo, foi absolvido no STF da acusação de quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, ocorrido em 2006. Marcelo Netto, seu assessor de imprensa que vazou o extrato para a revista Época, também foi inocentado. Sobrou pro então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, que à época assumiu sozinho a culpa.
Ano passado a revista Piauí publicou uma contundente matéria sobre o caso. João Moreira Salles apurou as informações por um ano, entrevistando (ou tentando entrevistar) todos os envolvidos no caso. Sua vocação documentarista é crucial para a credibilidade de seu texto, do qual saímos com a certeza de que Palocci foi, no mínimo, mentor da quebra de sigilo.
Se assim não fosse, por que ele deixou o cargo duas semanas após as denúncias de Francenildo?
Palocci e seu assessor foram absolvidos por falta de provas. E esse parece ser o "xis" da questão sobre o parecer do Supremo Tribunal Federal, que nunca apareceu tanto na mídia (o que não deixa de ser algo positivo: quanto mais holofotes, mais obrigação de transparência e fiscalização pública).
Não bastaram os depoimentos contundentes do caseiro e do motorista, nem as coincidências de horário em que o sigilo era quebrado (com velocidade absurda para a burocracia brasileira) e reuniões do então ministro e de seus subordinados. Segundo a análise dos ministros do STF, não houve provas que o condenassem. Até porque todos são inocentes, até que se prove o contrário.
E aí parece se localizar um dos maiores entraves da democracia brasileira, quanto à responsabilidade dos parlamentares em fazer um bom trabalho. De que vale tanto alarde, tantas denúncias, tantas CPIs mais políticas do que de apuração de fatos, se o principal - as provas - não conseguem ser reunidas para atingir o principal objetivo, a punição dos desvios de conduta?
O que só demonstra como o principal objetivo de muitos alardes que vemos em Brasília quase nunca é o anunciado.
Tal constatação acaba respingando na responsabilidade social do jornalismo: fiscalizar o poder sempre, mas prendendo-se aos fatos. Sair da redação querendo encaixar a realidade nas suas versões não contribui para a sociedade. Ser porta-voz da situação ou da oposição somente abrindo aspas, idem.
Pois em toda CPI é isso: saímos mais informados sobre os humores e pitacos dos congressistas (mesmo que não façam sentido) do que com o entendimento do que acontece, na prática, por trás das declarações mil daqui e dali.
Voltando a Palocci: a imprensa fazia o ping-pong entre o caseiro e o ministro. Mas alguém se preocupou em perguntar aos envolvidos onde estava a prova do crime? E a CPI, quis fazer isso algum dia?
Só nos resta assistir ao homem que preferiu sair do ministério - mesmo diante de uma acusação sem provas - agora querer se candidatar ao Governo de São Paulo.