terça-feira, 11 de agosto de 2009

Essa Marina

Quando eu pensava que a cena política brasileira tinha fechado as portas para as novidades (sejam elas boas ou más), surge o convite do PV para que Marina Silva dispute a presidência da república pelo partido em 2010.

Não tenho a (compreensível) ingenuidade que tive à época da eleição de Lula em 2002. Fiquei tão empolgado com aquele acontecimento inédito que só depois a ficha foi caindo de que, para governar, as contingências de sempre apareceriam. A tal governabilidade (o que é o PMDB, minha gente?), as grandes estruturas de poder brasileiras, o arrefecimento da ideologia petista etc.

Mas eu já cogitava fazer voto útil em 2010 ainda no primeiro turno, ou seja, escolher o candidato menos-pior-de-ruim-Deus-me-livre!, já que não estou tão disposto a anular como em outros pleitos.

Ok, votei em Cristovam Buarque e tive aquela leveza na consciência de que não desperdicei o meu voto - a não ser que eu almejasse ganhar a eleição. Mas Marina Silva, que nunca escondeu do governo, de seu chefe e da sociedade o quão difícil era ser Ministra do Meio-Ambiente no Brasil, surge como nova opção de candidata digna. Até de voto.

A candidatura de Marina assusta tanto o Planalto (e a oposição, não duvide) que Dilma Roussef já tentou convencê-la a não deixar o PT. Mas por que esse medo todo?

Primeiro, porque Marina Silva é Lula de saias: veio das classes baixas, ex-seringueira (o torneiro mecânico do Acre) e ainda tem uma história de luta política coerente. Além disso, é a encarnação da defesa do meio-ambiente e do desenvolvimento sustentável, vocação reconhecida internacionalmente. Quer bandeira mais na moda do que essa?

E ficou claro para a sociedade brasileira (ao menos, para a parcela que ainda se importa com os caminhos do país) que Marina incomodava o governo atual sendo fiel a seus princípios, a ponto de ter sido praticamente escorraçada em público da pasta do Meio-Ambiente. Lula acusou tanto o golpe que chamou o espalhafatoso Carlos Minc para sucedê-la.

Logo, a percepção dos eleitores é que Marina Silva saiu porque quis fazer um trabalho sério - e não porque era incompetente ou criou inimigos baseada em mesquinharia política. Ah, e a candidatura seria pelo Partido Verde - mais coerência, impossível. E é um partido com presença internacional pelo mundo, o que pode ajudar a ex-ministra.

Finalmente, Marina pode ser a (boa) novidade que bagunçaria o pré-determinado cenário das eleições 2010, com Serra x Dilma polarizando os extremistas atuais pró e anti-Lula, ambos os lados com a faca nos dentes sempre. Afinal, os decepcionados encontrariam uma nova esperança; os neutros poderiam ser simpáticos à causa "salve o planeta", ainda que não pensem muito a respeito; e a parcela oposicionista que quer o expurgo de Lula e sua herança ficaria satisfeita.

É claro que Marina não poderia governar se preocupando apenas com as questões ambientais, e teria que ter pulso firme pra ser chefe de governo. Além de gerenciar o relacionamento com o Congresso e suas bancadas. Será que ela tem perfil pra isso?

Entretanto, para um povo que carece de líderes que não só melhore suas condições de vida mas também ajude a combater males éticos, e ainda ser um exemplo nas causas globais...

E ainda é Silva.

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