As questões esportiva e administrativa estão misturadas
quando o assunto é Copa do Mundo 2014 ou Olimpíadas 2016. O problema é que nem os
empolgados nem os críticos separam as duas coisas na hora de cobrir, opinar,
torcer ou fazer oposição. E além disso patrulham uns aos outros, acusando-se
mutuamente de estarem do lado errado. Minha proposta é fazer uma abordagem
separada, sustentando que Copa e Olimpíadas vão ser um grande sucesso
esportivo, mas que administrativamente já começamos a pagar um alto preço, em
muitos sentidos.
Esportivamente
falando
O Brasil é o maior campeão de copas, é a terra do Rei do
Futebol e o único país que esteve presente em todas as edições do torneio. Tudo
a ver realizar uma Copa aqui, ainda mais no momento econômico em que vivemos.
Gerações se passaram até termos a chance de ver a Seleção exorcizando o trauma
de 1950.
Quanto às Olimpíadas, pela primeira vez na História nossos
atletas vão competir no seu próprio país. Quem acompanhou o desempenho da Grã-Bretanha
nos Jogos de Londres sabe como foi emocionante, e como isso fez diferença até
pro desempenho.
Não tenho dúvida que os brasileiros serão extremamente
receptivos e farão de tudo para acolher delegações e turistas. O número de
voluntários pra Copa bateu recordes já na primeira semana. Seremos o centro do
mundo por um mês (ou dois, se levarmos em conta a chegada das seleções ao
país). Só isso já mexe com nossa autoestima.
Não há outra opção senão apoiar nossa Seleção e nossos
atletas olímpicos, a despeito de quem estiver vestindo a camisa. Estaremos em
casa, e mesmo os mais indiferentes em acompanhar futebol ou demais esportes vão
se inflamar na hora em que começar tudo. Todos nós vamos parar nossas vidas
para torcer pelo Brasil. Não vai ajudar nada deixarmos nossos atletas
sentindo-se em território inimigo. Se existe uma ocasião em que o ufanismo deve
ser encampado, é numa Copa do Mundo e numa Olimpíada dentro de casa.
Toda a organização do evento no âmbito esportivo estará a
cargo da FIFA e do Comitê Olímpico Internacional, e não do Brasil. Os árbitros
e bandeirinhas serão escalados por ela, a transmissão televisiva seguirá suas
coordenadas. O ônus de qualquer decisão sobre o que acontecerá nas competições
será da Federação Internacional de Futebol ou do COI.
Ou seja, da nossa parte temos tudo pra fazer da Copa e das
Olimpíadas grandes acontecimentos esportivos inesquecíveis – para nós e para o
mundo. Hei de torcer, torcer, torcer! Ninguém é (nem deve ser, na minha
opinião) contra o Brasil ser o primeiro lugar no esporte. Nesse ponto, será um
sucesso.
Administrativamente
falando
A questão administrativa corre em paralelo, e se resume em
duas perguntas: 1) Que preço estamos pagando por todas essas emoções?; e 2) Esse
preço é justo?
Pra galera que critica os críticos, achando que eles são “do
contra” ou “azedos”, eu deixo ainda mais perguntas:
- Por que todos os gastos saem dos cofres públicos? Por que
não há transparência na composição desses custos? Por que os orçamentos
triplicam, quadricuplicam, decuplicam?
- Por que fazer estádios em praças que não têm futebol,
gerando os “elefantes brancos” que vão torrar mais dinheiro público na
manutenção?
- Por que o legado dos eventos não é levado em conta? Por
que melhorias urbanas, principalmente as de infraestrutura e transporte, são
minimizadas ou abandonadas?
- Por que toda e qualquer “revitalização” significa “limpar”
o perímetro ao redor dos estádios sem levar em conta as características do
entorno? Por que os projetos dos eventos não prevêem a integração com a
comunidade e a geografia do local?
Todas essas perguntas estão até hoje sem resposta. E não têm
relação alguma com o aspecto esportivo dos eventos, trata-se tão somente da prestação de
contas e do respeito ao país-sede e à sua população.
As críticas não podem virar um mau-humor crônico que exija a
morte do torcedor que há em
nós. Por outro lado, torcer não significa ser autista e
submisso a tudo o que estiver sendo feito conosco em nome dos eventos. De olho
nesse equilíbrio, podemos chegar no ápice das comemorações: pelos títulos e por
heranças benditas que Copa e Olimpíadas trouxeram. Imagina...
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