terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mais do mesmo

Tirinha de Adão Iturrusgarai

Semana passada li uma boa reflexão de Renato Janine Ribeiro sobre o mundo que o Facebook criou. Uma das coisas que o professor cita é o algoritmo criado por Mark Zuckerberg para que recebamos atualizações de pessoas que têm os mesmos interesses que nós. Mecanismo que nos impede de ouvir o contraditório, pontos de vista diferentes, e o reflexo disso na sociedade. Então me dei conta de que sigo e acompanho majoritariamente quem pensa como eu, e percebi o quão danoso isso pode ser. Principalmente nos tempos atuais, em que precisamos aprender a dialogar e conviver com as diferenças.


Também não faz muito tempo respondi a uma pesquisa para uma tese de mestrado na área de Comunicação e Política. Algumas perguntas giravam em torno disso: você segue pessoas com posições políticas diferentes das suas? Percebi que eram raros os casos.

Notei também que, nesse mundo estressadinho das redes sociais, discordar é quase como xingar a mãe do interlocutor. Sem contar a valentia repentina para comentar ou dar reply com atitudes e palavras que dificilmente seriam vistas no cara a cara. Mesmo sem grosseria, é fácil não gostarmos de alguém que se manifesta pensando diferente. Fazendo coro com Renato Janine Ribeiro, as redes sociais criaram (ou reforçaram) visões isolacionistas e uma impaciência constante com discordâncias, inviabilizando o diálogo.

Olhando por aí, é triste perceber que as características que permitiriam à internet ser a nova Ágora não foram suficientes para evitar que ela seja um meio para novas Inquisições. Em vez de aproveitarmos a possibilidade de nos expressarmos e termos acesso a todo tipo de informação, opinião e conhecimento, viramos intolerantes de sofá (ou celular). Incapazes de entender o que a internet evidencia, que o mundo não se resume ao nosso mundinho, e que para continuarmos vivendo em sociedade precisamos aceitar isso.

Ao contrário, o que se vê são os mesmos interesses e opiniões sendo reforçados, um patrulhamento constante (como se ninguém mudasse de opinião e todos fossem 100% coerentes em seu pensar durante a vida) e uma raiva de plantão, pronta para destruir quem pensa diferente de nós.

Desaprendemos a ouvir justamente no momento em que o diálogo e a "arte do encontro" (citando Vinicius de Moraes) nunca foram tão necessários. Ainda mais agora, que as ferramentas para que eles aconteçam estão, literalmente, na palma da mão (pra começar).

Olhando pro meu umbigo e pra minha responsabilidade pessoal, me condicionei a seguir no Twitter pessoas que eu sei que não pensam como eu. Para exercitar cidadania e democracia, pra tentar entender de onde estão falando e até mesmo a agenda envolvida. Mas não pretendo perder (ou pretendo recuperar, sei lá) a capacidade de ouvir e não jogar a toalha do diálogo. Sem irritações nem preconceitos.

É como se eu estivesse me alfabetizando novamente. São novos tempos, um novo mundo, novas linguagens, novas ferramentas, novos atores. E estamos todos no mesmo barco, até que a morte nos separe.


Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Marcos , boa noite
Desculpe-me fazer contato pelo post, mas não encontrei seu e-mail aqui no Blog. Você é parente do Orígenes Lessa, não é? Poderia me dar uma referência com quem devo entrar em contato para negociar direitos autorais para utilização de um texto?
no aguardo.
obrigada.
Bárbara
babinapoleao@yahoo.com.br