sexta-feira, 21 de março de 2014

Roma e o nosso espelho

Graças à diligência de um casal de amigos, finalmente consegui assistir a aclamada série "Roma", da HBO, exibida em 2005. Como em outras representações audiovisuais do Império, vemos uma narrativa da política e seus protagonistas, porém dessa vez mesclando-se com tramas paralelas que são pura licença poética. Pela qualidade cênica fiel, lembrei muito da minha visita à capital italiana. E novamente senti a certeza da finitude que me veio enquanto pisava naquele chão milenar.


O chocante (e em alguma medida frustrante) é ver que os resquícios do poderoso Império Romano são literalmente ruínas. Mesmo o imponente Coliseu (ou Anfiteatro Flavio, que é o seu nome oficial) está pela metade devido a um terremoto e aos saques pós-decadência - roubaram-lhe desde estátuas que o adornavam até as pedras que o constituíam.

Há diversos pontos que pouco ou quase nada se parecem com o que originalmente foram. Pedaços de pilares, templos arrasados, prédios ocos, estátuas sem cabeça... Se não quisermos usar a imaginação ou consultar a internet, em todo lugar vende-se um livro com o "antes e depois" de cada local. Ao sobrepor a foto do presente com a ilustração do passado, a sensação é de perplexidade. Como tudo aquilo pôde ter um fim tão melancólico e devastador?

A gente cresce aprendendo como o Império Romano foi um dos mais poderosos de todos os tempos. Como cristão, eu tinha uma noção ainda mais intensa do que foi o poderio dos Césares. Sem contar minhas leituras dos quadrinhos de Asterix e Obelix, que além de divertidos eram muito instrutivos sobre a região e a época.

Enquanto passeava pelo sítio arqueológico aonde era o Fórum Romano - o centro do poder, com seus prédios políticos e administrativos, e os principais templos, uma Brasília de então - me veio a sensação de finitude. Que todos nós um dia morreremos é lembrança que vem à mente todos os dias. Mas é um impacto ver que a Roma tão temida e majestosamente potente acabou um dia. Diferente das pirâmides do Egito, na Itália nada ficou perfeitamente em pé como era, a imponência se esvaiu apesar de todos os feitos.

Fórum Romano

A cena da série que me despertou este texto foi quando Caio Júlio César, antes de seu triunfo (o desfile em praça pública "tomando posse", com um Arco e tudo) pede que tragam Vercingetórix, rei da Gália, feito prisioneiro após a batalha que consagrou o imperador romano e que se encontra em estado lastimável, parecendo um mendigo. "Rei dos gauleses", suspira César. "Faz você pensar, não é?", completa Marco Antônio. Quem é rei um dia pode perder a majestade.

Em breve aquele César morreria nas mãos de Brutus e em seguida viriam outros Césares, para mais tarde não vir nenhum, o Império Romano definhar e... qual a relevância mundial da Itália hoje?

Tudo passa, meus amigos. Nem precisava a NASA fazer o dever de casa e nos alertar. É inevitável. O que destaco é que a didática de uma visita a Roma é pujante, precisa, inescapável. Nessa hora lembrava também do túmulo de Napoleão em Paris (que ao menos ainda exibe seus troféus de outrora).

E se eles, com todo o seu poder, passaram e voltaram ao pó - bem como suas orgulhosas demonstrações de força e conquista material - quem somos nós, homens de pequena fé, para imaginar diferente? Se esquecer dessa lição e de tudo que ela proporciona, dobre uma esquina romana e sinta o gosto da humildade descendo pela goela.

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