Penny Lane é uma rua de Liverpool e a canção, uma crônica de Paul e John sobre sua rotina suburbana em calçadas nas quais sempre passavam. Falam da barbearia, do banqueiro (agiota?) na esquina, das pessoas cumprimentando-se, crianças brincando. No refrão que nos eleva, os compositores dizem que “Penny Lane está em meus ouvidos e em meus olhos”.
Mesmo quem não curte Beatles ou rock n’roll tem sua Penny Lane no coração. Um local (ou mais) cheio de significados, lembranças e sentidos que nos acompanham até o fim dos dias. Casa, bairro, cidade, quintal, sítio, vila, condomínio ou rua que ao serem descritos trazem coisas tão banais quanto universais para quem escuta e assente com a cabeça dizendo “sei bem como é”, mesmo sem nunca ter pisado no lugar relatado.
Para que estabelecimentos de concreto, asfalto e desconhecidos (ou conhecidos de longe, ainda que estando perto) não saiam de olhos e ouvidos, muito se houve naquele perímetro. Primeiros ou últimos amores, amizades inquestionáveis até segunda ordem da maturidade, pedacinhos de emoções em caráter de realidade e promessa. Se a memória é seletiva, sua alma não é de gelo.
O ritmo da canção é o de alguém narrando com alegria o que viveu. A harmonia musical, em certo momento, exige que se aumente o volume da voz durante os refrões. Os então garotos de Liverpool deixam claro, em alto e bom (muito bom!) som, que ninguém vai tirar Penny Lane deles, jamais.
E nos empolgamos com essa alegria, revisitando nossa história como quem aparece de repente num asilo longínquo e escondido. E sorrimos como quaisquer dos seus habitantes o fariam, até esquecermos se acabamos de chegar ou se já estávamos ali e recebemos uma visita inesperada.