domingo, 12 de abril de 2020

Passagem

Há alegria no pesadelo. Muita. Emerge concentrada ao percebermos que ele acabou. A taquicardia, a ansiedade, o medo de se ver encarcerado naquele simulacro sinistro ainda ressoam no ambiente do quarto. Mas o processo de alívio já se inicia. Era apenas um sonho ruim.

Durante o pesadelo vivemos uma realidade esquisita. Sentimos tudo aquilo sem a certeza de onde veio e pra onde vai. Um real pastoso cuja tônica é o mal-estar. A sensação de ser parte, sabe-se lá até quando, do elenco de Caverna do Dragão. E sem avistar Mestre dos Magos.

Há quem lembre em detalhes de seus pesadelos. Há quem dê graças por esquecerem a trama ao acordar. Porém tanto aqueles como estes mantêm comunhão quanto à recente experiência ruim no trem do sono, que parecia nunca chegar à estação final.

Ninguém deseja ter pesadelos, ou se planeja para tal. Flagramo-nos  inconscientemente neles, e mesmo nesse estado é possível maldizer a hora em que pegamos no sono. Somente o final da incômoda caça ao tesouro ativará o controle remoto interno das pálpebras, enfim.

A única certeza que se tem durante um pesadelo é que ele tem que acabar. Seja o que for que tenha causado aquilo, bem como a dúvida do que virá depois, nada tira de nós a vontade máxima de passar logo por tudo e despertar.

Que acabe. Logo. A manhã, essa esfuziante redentora, não se cansa de nos esperar.

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