quarta-feira, 8 de novembro de 2006



Não é outro

Você caminha pelo centro da cidade do Rio de Janeiro e olha pra cima. Como em toda grande metrópole, lá estão os altos prédios, na avassaladora maioria locais de trabalho. Você volta o seu olhar para o horizonte e, qualquer que seja a sua altura, ali estão pessoas e mais pessoas indo e vindo, na avassaladora maioria em busca de comida, isto é, almoço (você olha ao meio-dia, ok?).

Você sai mais cedo, às 11:45, também em busca de comida - fresca, quentinha - e de um ambiente necessário para uma paz gastronômica - sem estar abarrotado, para não haver engarrafamento de pratos e Visa Electron no serve-te a ti mesmo (self-service).

Você normalmente andaria rápido, com reflexos acurados para desviar de um possível encontrão ou morte enquanto atravessa a larga rua apinhada. Mas você resolve fazer diferente: já saiu mais cedo mesmo, resolve andar como gente normal (na sua avassaladora maioria, pessoas que trabalham no centro e almoçam todas na mesma hora não parecem normais). Para os demais, você anda devagar e é obstáculo aos esfomeados. Para você, é um rompante da rotina que muitas vezes você teve vontade de viver e, sem saber direito por que cargas culturais d'água, você nunca conseguiu.

Aliás, se assim não fosse, você não olharia como olhou no primeiro parágrafo.

Você come e estranha a calmaria de sua hora de almoço. Você termina, estranha que terminou e que ainda tem meia hora antes de voltar ao seu alto prédio. Você se dá o direito de ter uma sobremesa entre livros na Travessa do Ouvidor, sentir o aroma dos papéis e de um perfume que aquele estabelecimento coloca (talvez numa estratégia de deixar cada visitante à vontade até correr sério risco de virar clientela).

Você olha novamente para cima, para o horizonte, para as pessoas, para o mundo corriqueiro de cada hora de almoço e se espanta. A surpresa vem pelo fato de que, quando você olha pra tudo isso, inevitavelmente você se vê olhando pra si. Olha pra você. Olha pra isso! Olha pra esse, ou pra essa. Pra ti.

Olha como você deixa de ser você se você se enreda pelo ritmo imposto. Pelas imposições que não se justificam e sequer se explicam. Você se olha e não se reconhece. Você precisa parar com isso. Você precisa parar. Você precisa de você de volta.

Você precisa estar novamente - e tão somente - a vossa mercê.

2 comentários:

Anônimo disse...

Primeiro gostaria de perguntar! Apagas os comentarios? por que pergunto isso. Porque é muito bom seu blog, e ninguem ao menos deixou um elogio? que absurdo.

Por conta de meus "poderes" mentais, ou atraves de uma amiga em comum, fiquei sabendo que é leitor da revista Caros amigos, otima leitura, fora do regime elitista ditatoral manipulador. Caso nao conheça, indico também, a revista Piauí, Carta Capital e o site Brasil de Fato (pois ainda nao achei para comprar exemplar de tal).

Venho através deste lhe parabenizar pelo blog.

E garanto outras visitas.

Abraços

Marcos André Lessa disse...

Caro David, não apago não. Seu comentário aqui é uma prova disso. Recentemente configurei novo template pro blog, e todos os comentários antigos se perderam. Uma pena, mas fazer o q?

Obrigado pela presença neste humilde porém pretensioso blog. Leio essas outras revistas também (assino a CC), ms o Brasil de Fato é um jornal que não gosto muito.

E quem é a amiga em comum, só por curiosidade?

Abs, Lessa