quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Uma impotência nacional

O que dizer? Pegaram Renan Calheiros pra ser o pária da vez, elencando seus podres (comuns a muitos senadores) e o empurrando na parede: renúncia ou cassação. O Governo hesitou ou acusou a imprensa, a oposição também não achou nada demais a princípio, mas a pressão pública e dos meios de comunicação fez ambos sairem (oficialmente) de cima do muro. Vieram as representações, uma atrás da outra, a possibilidade do voto aberto e enfim decidiu-se: voto ultra-secreto.

Renan, com tudo quanto é prova de improbidade, é absolvido. Ficou escancarado para todo o país as negociatas espúrias para o arranjo final. Não se sabe até onde vão as demais representações contra o presidente do Senado, mas algo inédito ocorreu: um parlamentar denunciado de múltiplas formas e pressionado pela mídia a cair fora, continuará no cargo. E continuará presidente da casa.

Se nem a pressão da mídia deu jeito, o que fazer? Protestos, abaixo-assinados? Isso já vinha sendo feito. Denúncias na Comissão de Ética? Também. Ainda assim, Renan foi absolvido.

Não sei se você concorda, mas o Brasil brochou legal depois dessa. Ao contrário de Renan (que o diga Mônica Veloso), que seguirá com aquele sorrisinho que ele encarava as manifestações de seus pares no plenário pedindo que renunciasse.

Porque ficou mais claro ainda que a profissão de fé irredutível da maioria do Congresso é dar as costas para o povo. Todo mundo contra, de tudo quanto é matiz ideológica, com indícios suficientes para tirar o mandato... E eles dão um jeito de se esconder, na cara de todo mundo, pra votar contra. Foi a prova cabal de que eles não estão nem aí pra cada um de nós aqui.

Não quero parecer pessimista, nem dar margens para os oportunistas de plantão dizerem que o jeito é a ditadura voltar. Congressistas cínicos são um problema de cultura moral da sociedade, que resvala na democracia. Portanto, nada de dizer que o problema é o sistema democrático.

No entanto, levanto a reflexão: o que fazer? Além do espírito brochante da nação, como fazer para essa situação mudar? Renovar o Congresso nas próximas eleições? Mas muitos repetem a mesma coisa!

A absolvição de Renan Calheiros assim, na cara dura, pode nos fazer pensar sobre que país temos construído em nosso cotidiano. Se acharmos que, já que eles roubam, dá cá o meu, a tendência é que outros episódios como o atual brochante se repitam. Afinal, não haverá mais espanto, apenas banalização cínica. Renan faz o que muitos de nós fazem no seu dia-a-dia. Com a diferença da imunidade parlamentar e da possibilidade de legislar sobre tudo e todos.

Por que é possível Renans e absolvições assim, com tanta facilidade, em nosso país? Deixo a pergunta e o espaço de comentários abaixo pra tentarmos encontrar uma resposta. Acredito que a auto-crítica pra perceber a nossa responsabilidade é necessária, e não somente malhar o Congresso (embora faça parte, por contribuição dos próprios).

E outra: que tal escrever ou ligar para o senador do seu Estado e perguntar no que ele votou? Ele absolveu ou puniu Renan? Ou pior, se absteve covardemente? Se são nossos representantes, devem nos prestar contas. Se não prestam (sem trocadilho), devemos no mínimo perguntar a eles.

Disque Senado: 0800 612211

Um comentário:

Anônimo disse...

Já esperava esse resultado quando resolveram fazer uma sessão secreta, mas lá no fundinho ainda tinha uma pontinha de esperança de que, DESSA VEZ, haveria algum senso de justiça que sobrepujasse o coleguismo dos senadores.

Após esse sentimento de brochada que permeia o inconsciente coletivo nacional, deveríamos todos fazer um esforço máximo para que um cara desses (bem como os que o apoiam) NUNCA MAIS se elegessem para nada, nem mesmo pra síndico de edifício. Mas, já não tenho lá muita esperança...