O pânico que "não" existiu
É aterrorizante ler o relato da leitora Claudia Freitas sobre a pane no metrô do Rio de Janeiro, na segunda dia 19. Em alguns momentos, parece que estamos diante de cenas do livro "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago.
Mas a parte mais chocante do relato (pra mim, que não estava no metrô) é a atitude da concessionária do Metrô Rio em negar que os fatos aconteceram. Se alguém é tratado assim após narrar fatos que viveu, imediatamente começa a duvidar de sua própria sanidade mental.
O Metrô Rio está afirmando que tudo não passou de uma alucinação coletiva?
A incompetência na prestação do serviço de forma adequada não é mais novidade. Já acontece nas Barcas S.A., na SuperVia, e agora no superlotado Metrô, que inventa integrações das quais não pode dar conta com o número de vagões que possui.
Mas negar descaradamente que a pane aconteceu dá indícios de vilania e mau-caratismo.
Agetransp, secretarias de Transporte, Governo do Estado... quem vai dar um jeito nisso? Sergio Cabral parece preocupado apenas em criar novos meios de transporte pra continuar enchendo os cofres da iniciativa privada.
PS: o presente post (com as necessárias adaptações de texto) foi encaminhado para a Agetransp, para a Secretaria Estadual de Transporte, para a secretária de Sergio Cabral e para o SAC do Metrô Rio.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Meu encontro com o Rei
Eu era recém-concursado da Prefeitura do Rio de Janeiro, como profissional de nível médio de informática. Estava no início da faculdade de Jornalismo, e pensava: como conciliar o que estava estudando e meu trabalho?
Pensei logo na assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Cultura - tudo a ver comigo. Pensei mais ainda quando soube que Artur da Távola tinha acabado de ser escolhido o secretário de lá.
Eu já conhecia as crônicas dele, mas fiquei fascinado mesmo quando assisti a uma entrevista na TV Cultura, com o então senador analisando a existência e os impactos da televisão. Fiquei impressionado com o profundo e perspicaz conhecimento sobre o assunto, e sendo comunicado de maneira tão simples e singular.
Já imaginou trabalhar com esse cara? Ou, ao menos, pra alguém que pensa daquele jeito?
Enquanto sonhava, trabalhava no 5º andar do prédio da Prefeitura, na Secretaria de Desenvolvimento Social. Um dia precisei ir ao 3º andar - na Secretaria de Cultura. Em determinado momento, foi necessária uma providencial ida ao banheiro.
Eu era recém-concursado da Prefeitura do Rio de Janeiro, como profissional de nível médio de informática. Estava no início da faculdade de Jornalismo, e pensava: como conciliar o que estava estudando e meu trabalho?
Pensei logo na assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Cultura - tudo a ver comigo. Pensei mais ainda quando soube que Artur da Távola tinha acabado de ser escolhido o secretário de lá.
Eu já conhecia as crônicas dele, mas fiquei fascinado mesmo quando assisti a uma entrevista na TV Cultura, com o então senador analisando a existência e os impactos da televisão. Fiquei impressionado com o profundo e perspicaz conhecimento sobre o assunto, e sendo comunicado de maneira tão simples e singular.
Já imaginou trabalhar com esse cara? Ou, ao menos, pra alguém que pensa daquele jeito?
Enquanto sonhava, trabalhava no 5º andar do prédio da Prefeitura, na Secretaria de Desenvolvimento Social. Um dia precisei ir ao 3º andar - na Secretaria de Cultura. Em determinado momento, foi necessária uma providencial ida ao banheiro.
Por sarcasmo sacana do destino, quem está a dois mictórios de mim? Obviamente, pra que ninguém duvide de minha masculinidade, fiquei na minha.
Mas na hora de lavar as mãos, pias paralelas, o fã desejoso de um emprego melhor não resistiu, naif:
- O senhor é o Artur da Távola, não é?
- Sim, sou eu.
- Eu vi sua entrevista na TV Cultura. Muito boa.
- Obrigado.
(O DIÁLOGO A SEGUIR CORRESPONDE À VERDADE FACTUAL FIEL)
- Eu faço jornalismo na UFF...
- Ah, estamos precisando alguém lá na assessoria pra ajudar a fazer os informativos, a divulgação... Fala com o Jorge Roberto, meu assessor de imprensa, pra ver como faz.
- Ah, legal! Obrigado. Vou falar com ele.
Ele se despediu e eu ainda aguardei alguns eternos meses até conseguir ser lotado na Secretaria de Cultura, na assessoria de imprensa. Lá conheci o Geraldo Lopes, a Anna Paula (designer e até hoje minha grande amiga) e ganhei uma significativa experiência de vida e de trabalho.
Não tinha contato com Artur da Távola nos 11 meses que fiquei por lá, mas desde então acompanhei ainda mais sua carreira e suas análises de comunicação (caminho acadêmico que pretendo seguir).
O telefone existe
Concentrado no trabalho numa terça entre feriados. O dia tinha tudo pra ser calmo, mas pega fogo. Só depois das 17h volta à normalidade. De olha na tela do computador (da minha "máquina", diria portentosamente o pessoal da TI), o telefone de um colega toca.
Toca sem parar, pois o colega não está na mesa no momento. Os ringues prosseguem, ininterruptamente, irritantemente. A pessoa do outro lado ainda não sacou que ali não há ninguém? Ou colocou na discagem automática e se distraiu, deixando o inferno reverberar?
Releio os parágrafos acima e pareço exagerado. Mas é o reflexo de um telefone que toca sem parar enquanto quero tocar meu fim de dia de labor. O trim-trim eterno revela a indiferença que pode reinar num ambiente de trabalho.
Todos ouvem o telefone. Ninguém atende (nem eu). Todos sabem que é do outro, problemas e informações destinados ao outro, no máximo arranjaremos o ofício de garoto de recados. Ninguém quer isso. Ignoram a campainha incessante. Quanto tempo vão resistir?
Vez por outra sucumbo. Atendo, anoto recado, tento ser educado, informo obviedades - "fulano não está" - e desligo, aliviado. Em breve tornam a ligar, o telefone existe e torna a tocar, a maioria prefere deixar pra lá.
Assim como aquele toque sonoro incessante, muitas outras situações - e pessoas - são alvos da indiferença constante que somos capazes de cometer. Dia desses me dei conta de que nunca lembrava do rosto dos profissionais da limpeza. Como lembraria, se sequer olhava-os nos olhos?
Aprendi que é tão fácil ignorar um aparelho telefônico quanto uma pessoa. Ambos podem ser igualmente irritantes - mas nem sempre. Há quem vire paisagem pra gente, e penso se merecem tal tratamento.
Aqui, no meu silêncio, posso ser tão infernal quanto um telefone que toca, toca, toca.
Concentrado no trabalho numa terça entre feriados. O dia tinha tudo pra ser calmo, mas pega fogo. Só depois das 17h volta à normalidade. De olha na tela do computador (da minha "máquina", diria portentosamente o pessoal da TI), o telefone de um colega toca.
Toca sem parar, pois o colega não está na mesa no momento. Os ringues prosseguem, ininterruptamente, irritantemente. A pessoa do outro lado ainda não sacou que ali não há ninguém? Ou colocou na discagem automática e se distraiu, deixando o inferno reverberar?
Releio os parágrafos acima e pareço exagerado. Mas é o reflexo de um telefone que toca sem parar enquanto quero tocar meu fim de dia de labor. O trim-trim eterno revela a indiferença que pode reinar num ambiente de trabalho.
Todos ouvem o telefone. Ninguém atende (nem eu). Todos sabem que é do outro, problemas e informações destinados ao outro, no máximo arranjaremos o ofício de garoto de recados. Ninguém quer isso. Ignoram a campainha incessante. Quanto tempo vão resistir?
Vez por outra sucumbo. Atendo, anoto recado, tento ser educado, informo obviedades - "fulano não está" - e desligo, aliviado. Em breve tornam a ligar, o telefone existe e torna a tocar, a maioria prefere deixar pra lá.
Assim como aquele toque sonoro incessante, muitas outras situações - e pessoas - são alvos da indiferença constante que somos capazes de cometer. Dia desses me dei conta de que nunca lembrava do rosto dos profissionais da limpeza. Como lembraria, se sequer olhava-os nos olhos?
Aprendi que é tão fácil ignorar um aparelho telefônico quanto uma pessoa. Ambos podem ser igualmente irritantes - mas nem sempre. Há quem vire paisagem pra gente, e penso se merecem tal tratamento.
Aqui, no meu silêncio, posso ser tão infernal quanto um telefone que toca, toca, toca.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Complexo
As manifestações midiáticas e seus conteúdos não estão descoladas de seu tempo. Nada do que é produzido no ramo do entretenimento está absolutamente dissociado da realidade, e do que ela inspira nos roteiros.
O seriado House enquadra-se perfeitamente nessa definição. Em vez de um protagonista clássico com nobres valores, o médico diagnosticista é um anti-herói assumido, imanente, anti-social e extremamente competente.
No mundo de hoje, exacerbado de celebridades artificiais sem conteúdo e ídolos fabricados que não convencem ninguém, nós (a audiência) buscamos autenticidade. Pensaram que os reality shows dariam conta dessa demanda, mas até ali o jogo de máscaras se impôs.
Assim, Dr. Gregory House é autêntico canalha, porém excelente médico. E sua personalidade o ajuda a descobrir curas até então improváveis, salvando vidas - chega-se ao mesmo happy end romântico, sem romantismo.
São dez roteiristas para dar conta de uma rede complexa de argumentos e relações interpessoais, éticas e médicas onde House é a linha narrativa condutora. Quem assiste a um episódio dificilmente imagina qual será a próxima frase de qualquer personagem.
Bom, não fui pago pela TV a cabo para promover o seriado, mas ele serve de trampolim para este artigo. Assim como serve de espelho para quem está do lado de fora da telinha.
O desenrolar da rede mencionada acima é bem mais enigmático que os sintomas que vão surgindo nos pacientes de House. O seriado mostra o que sabemos e tentamos sublimar dia após dia: nosso mundo, nossa vida, nossas relações são extremamente complexas.
Quando imaginamos ter chegado a algum cais de estabilidade, percebemos (?) que o tempo virou e de nada vai adiantar encarar o que surge de maneira simplória, simplista.
É tudo ricamente complexo, fascinantemente maior que nós, que nos matamos pra ir descobrindo como matar as charadas da vida, que aparecem em nosso caminho como minas terrestres. Sempre estiveram ali, mas descobrimos quando pisamos...
Assistir House é testemunhar a própria vida de camarote, pois em algum momento do episódio (qualquer episódio) vem aquele riso nervoso, fruto do toque em algum fundo de verdade a nós relacionado. Ou o sentimento de dúvida perante certezas acumuladas em prateleiras emocionais, ou mesmo o nó na garganta de uma imobilidade inescapável perante as complexas situações que assistimos e vivemos.
E a canalhice do médico não nos permite subterfúgios: é conosco tudo aquilo, mesmo se não formos médicos, atores, roteiristas, porém todos potencialmente pacientes.
Ao contrário de muito do que se encontra na TV atual, House combate o entorpecimento via entretenimento. É a originalidade que precisamos.
As manifestações midiáticas e seus conteúdos não estão descoladas de seu tempo. Nada do que é produzido no ramo do entretenimento está absolutamente dissociado da realidade, e do que ela inspira nos roteiros.
O seriado House enquadra-se perfeitamente nessa definição. Em vez de um protagonista clássico com nobres valores, o médico diagnosticista é um anti-herói assumido, imanente, anti-social e extremamente competente.
No mundo de hoje, exacerbado de celebridades artificiais sem conteúdo e ídolos fabricados que não convencem ninguém, nós (a audiência) buscamos autenticidade. Pensaram que os reality shows dariam conta dessa demanda, mas até ali o jogo de máscaras se impôs.
Assim, Dr. Gregory House é autêntico canalha, porém excelente médico. E sua personalidade o ajuda a descobrir curas até então improváveis, salvando vidas - chega-se ao mesmo happy end romântico, sem romantismo.
São dez roteiristas para dar conta de uma rede complexa de argumentos e relações interpessoais, éticas e médicas onde House é a linha narrativa condutora. Quem assiste a um episódio dificilmente imagina qual será a próxima frase de qualquer personagem.
Bom, não fui pago pela TV a cabo para promover o seriado, mas ele serve de trampolim para este artigo. Assim como serve de espelho para quem está do lado de fora da telinha.
O desenrolar da rede mencionada acima é bem mais enigmático que os sintomas que vão surgindo nos pacientes de House. O seriado mostra o que sabemos e tentamos sublimar dia após dia: nosso mundo, nossa vida, nossas relações são extremamente complexas.
Quando imaginamos ter chegado a algum cais de estabilidade, percebemos (?) que o tempo virou e de nada vai adiantar encarar o que surge de maneira simplória, simplista.
É tudo ricamente complexo, fascinantemente maior que nós, que nos matamos pra ir descobrindo como matar as charadas da vida, que aparecem em nosso caminho como minas terrestres. Sempre estiveram ali, mas descobrimos quando pisamos...
Assistir House é testemunhar a própria vida de camarote, pois em algum momento do episódio (qualquer episódio) vem aquele riso nervoso, fruto do toque em algum fundo de verdade a nós relacionado. Ou o sentimento de dúvida perante certezas acumuladas em prateleiras emocionais, ou mesmo o nó na garganta de uma imobilidade inescapável perante as complexas situações que assistimos e vivemos.
E a canalhice do médico não nos permite subterfúgios: é conosco tudo aquilo, mesmo se não formos médicos, atores, roteiristas, porém todos potencialmente pacientes.
Ao contrário de muito do que se encontra na TV atual, House combate o entorpecimento via entretenimento. É a originalidade que precisamos.
Revolução dos trouxas
É o título de excelente artigo de Fausto Wolff (foto), publicado no Jornal do Brasil de 29/04. Imprensa e teatro, instituições e cidadãos, tá tudo ali, bem resumido e bem incisivo.
Como faz falta essa assertividade aos colunistas atuais...
É o título de excelente artigo de Fausto Wolff (foto), publicado no Jornal do Brasil de 29/04. Imprensa e teatro, instituições e cidadãos, tá tudo ali, bem resumido e bem incisivo.
Como faz falta essa assertividade aos colunistas atuais...
Assinar:
Postagens (Atom)