quinta-feira, 1 de maio de 2008

Complexo

As manifestações midiáticas e seus conteúdos não estão descoladas de seu tempo. Nada do que é produzido no ramo do entretenimento está absolutamente dissociado da realidade, e do que ela inspira nos roteiros.

O seriado House enquadra-se perfeitamente nessa definição. Em vez de um protagonista clássico com nobres valores, o médico diagnosticista é um anti-herói assumido, imanente, anti-social e extremamente competente.

No mundo de hoje, exacerbado de celebridades artificiais sem conteúdo e ídolos fabricados que não convencem ninguém, nós (a audiência) buscamos autenticidade. Pensaram que os reality shows dariam conta dessa demanda, mas até ali o jogo de máscaras se impôs.

Assim, Dr. Gregory House é autêntico canalha, porém excelente médico. E sua personalidade o ajuda a descobrir curas até então improváveis, salvando vidas - chega-se ao mesmo happy end romântico, sem romantismo.

São dez roteiristas para dar conta de uma rede complexa de argumentos e relações interpessoais, éticas e médicas onde House é a linha narrativa condutora. Quem assiste a um episódio dificilmente imagina qual será a próxima frase de qualquer personagem.

Bom, não fui pago pela TV a cabo para promover o seriado, mas ele serve de trampolim para este artigo. Assim como serve de espelho para quem está do lado de fora da telinha.

O desenrolar da rede mencionada acima é bem mais enigmático que os sintomas que vão surgindo nos pacientes de House. O seriado mostra o que sabemos e tentamos sublimar dia após dia: nosso mundo, nossa vida, nossas relações são extremamente complexas.

Quando imaginamos ter chegado a algum cais de estabilidade, percebemos (?) que o tempo virou e de nada vai adiantar encarar o que surge de maneira simplória, simplista.

É tudo ricamente complexo, fascinantemente maior que nós, que nos matamos pra ir descobrindo como matar as charadas da vida, que aparecem em nosso caminho como minas terrestres. Sempre estiveram ali, mas descobrimos quando pisamos...

Assistir House é testemunhar a própria vida de camarote, pois em algum momento do episódio (qualquer episódio) vem aquele riso nervoso, fruto do toque em algum fundo de verdade a nós relacionado. Ou o sentimento de dúvida perante certezas acumuladas em prateleiras emocionais, ou mesmo o nó na garganta de uma imobilidade inescapável perante as complexas situações que assistimos e vivemos.

E a canalhice do médico não nos permite subterfúgios: é conosco tudo aquilo, mesmo se não formos médicos, atores, roteiristas, porém todos potencialmente pacientes.

Ao contrário de muito do que se encontra na TV atual, House combate o entorpecimento via entretenimento. É a originalidade que precisamos.

Um comentário:

Joice Worm disse...
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