Diego Hipólito, favorito para vencer a medalha de ouro na ginástica olímpica, caiu no final da série de exercícios e ficou em sexto lugar. Cabisbaixo e muito decepcionado, o atleta balbuciou para os repórteres:
- Peço desculpas aos brasileiros que acreditaram em mim.
Diego não deve pedir desculpas a nós: assim como muitos esportes amadores, a ginástica não tem um planejamento nem grandes incentivos do Comitê Olímpico ou do Ministério do Esporte.
De onde vem a pressão sobre o atleta na hora de representar o país? Os brasileiros torcem, mas diferentemente do futebol, não há uma cobrança por expressivos resultados nos esportes olímpicos. Ficamos frustrados por Diego, pois ele era favorito. Mas não se pode dizer que a torcida colocou um enorme peso nas costas do atleta.
No entanto, observe a cobertura e a transmissão dos Jogos: quantas vezes você já ouviu ou leu o adjetivo "histórico"? Se o ginasta foi à final pela primeira vez, foi uma classificação "histórica"; se o bronze feminino no iatismo era inédito, então é uma medalha "histórica". Mesmo se um atleta fica em décimo lugar no geral, e essa for a melhor classificação em todos os Jogos, é um desempenho "histórico".
A banalização dos adjetivos para os feitos olímpicos cria falsas expectativas e coloca sobre os atletas uma pressão que, na verdade, é muito menor. Mas a partir do momento que uma rede como a Globo compra os direitos de transmissão, ela torna-se "parceira" do evento. Ou seja, o evento tem que ser um sucesso. E os espectadores precisam ter essa sensação de sucesso.
Só que apenas ufanismo não basta. O Brasil leva quase 300 atletas em cada delegação e o maior número de medalhas conquistadas numa Olimpíada foi... 15. Há algo errado aí, e é só olhar para o descaso de escolas e alunos pelas aulas de Educação Física para entender. Ou checar o orçamento do Ministério do Esporte.
Fora isso, por mais que a Globo (ou a Record, em 2012, vai dar no mesmo) exija dos atletas uma alta performance, ela não age da mesma forma. Por exemplo: pode-se dizer que Galvão Bueno sabe de Fórmula 1 e, vá lá, de futebol. Mas ele também narra natação, ginástica olímpica, basquete... É a lógica do ufanismo acima de tudo.
O brasileiro não é ufanista, e isso não quer dizer que ele não goste do Brasil ou não torça por seus representantes.
Queremos ver o sucesso de nossos atletas - e para isso eles precisam de uma preocupação séria das autoridades esportivas. E nós precisamos de uma transmissão fiel à realidade, seja ela qual for.
Queremos ver o sucesso de nossos atletas - e para isso eles precisam de uma preocupação séria das autoridades esportivas. E nós precisamos de uma transmissão fiel à realidade, seja ela qual for.