sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Os candidatos a prefeito do Rio

Quem é Eduardo Paes?

Eduardo Paes começou sua carreira política com o nome de Duda Paes. Foi subprefeito da Barra da Tijuca e Jacarepaguá na primeira gestão de Cesar Maia na Prefeitura do Rio. Era um dos jovens treinados pelo prefeito para seguir no mesmo estilo do chefe: essencialmente técnicos, com os partidos servindo apenas para conseguirem se eleger. Seu perfil administrativo e sem ideologia definida conquistou muitos eleitores.

Paes tem a mesma expressão ao abordar qualquer assunto (quem viu os debates na TV reparou). Seu sorriso ao falar de alguma boa notícia da campanha é o mesmo da foto das propagandas e do dia de seu casamento (conforme foto publicada no Globo). O tom de voz não muda.

Seria apoiado por Cesar Maia nas eleições de agora, mas viu que o futuro estava em Sergio Cabral, que começava a ascender na política ao virar senador e favorito para o governo do Estado. Paes se desfiliou do PSDB debaixo de guerra interna e entrou no PMDB com clima igual, pois Cabral queria combater a influência de Garotinho.

Agora, Paes tem o discurso de que é aliado dos governos estadual e federal, e que assim a população teria mais chance de ser atendida nos serviços públicos. Ora, os governos têm obrigação de servir à população. Aceitar o raciocínio de Paes é chancelar uma maneira de administrar nada técnica, pois favorece o personalismo. Chega a ser chantagem eleitoral - "não votem no outro, pois vocês serão culpados de sua própria desgraça mais tarde".

Se Paes assumiu e desfez compromissos com vários partidos sem nunca dar explicações à população, por que confiar que não fará o mesmo após assumir a Prefeitura? Nem mesmo a carta de desculpas a Lula (que, há 2 anos, foi chamado por Paes de "chefe da quadrilha") foi exposta ao público. Se não há transparência antes, por que haveria depois?

Logo, não voto em Paes por uma questão muito simples, dadas as circunstâncias: falta de confiança, por mais capacitado que o candidato seja.


Quem é Fernando Gabeira?

Gabeira participou da luta armada contra a ditadura (embora tenha exagerado muito o seu papel no seqüestro do embaixador americano), já defendeu a legalização da maconha e tem fama de homossexual, embora casado. Esses argumentos estão sempre nas entrelinhas da rejeição do eleitor a Gabeira.

Bom, a ditadura acabou, ele já foi condecorado por ter evoluído na discussão sobre a maconha (inclusive desconsiderando a legalização) pelo Governo Lula, que apóia Paes. E escolhas pessoais só cabem a Gabeira, desde que elas não interfiram na sua vida política (pois o mandato é público). Além do mais, nenhuma dessas questões podem ser levadas em conta, pois o cargo a ser disputado é de prefeito, que precisa administrar uma cidade.

Aos 67 anos e com uma vida política consolidada, por que arriscar tudo isso num incerto futuro como prefeito do Rio? Se ele não se preocupasse com a cidade, não valeria a pena correr esse risco para sua biografia, no caso de má administração. Além disso, ao contrário de Paes, Gabeira não tem como almejar outros cargos públicos maiores - seu nome não é viável para governador ou presidente, por exemplo.

Já Eduardo Paes é o típico político profissional: um carreirista (como Cesar Maia, como Sergio Cabral) que está sempre visando o próximo degrau, enquanto garante funções com visibilidade - como a presidência da Suderj, que administra o Maracanã, ou a prefeitura do Rio. Que relação com a cidade um sujeito desses teria?

Gabeira saiu do PV e foi para o PT. Depois, voltou para o PV. No entanto, foi para o partido de Lula antes da eleição e saiu enquanto era governo (Paes nunca mudou para ficar na oposição), e explicou isso no Congresso Nacional, com transmissão ao vivo pela TV. Ou seja, prestou contas ao público de sua mudança.

Gabeira tinha causas e se viu com a necessidade de entrar na política para defendê-las. Paes primeiro entrou na política para depois ter causas (e interesses) a defender.

Gabeira recebeu o apoio de Cesar Maia, é fato. Mas se um poste se candidatasse contra Paes receberia apoio do prefeito, devido ao narrado no terceiro parágrafo. Além do mais, desde 1992 o Rio de Janeiro tem uma prefeitura essencialmente técnica - que é o perfil de Paes! A cultura, o esporte, o turismo, o serviço público: para os técnicos, tudo isso é estatística e custos. Será que uma cidade como o Rio, capital cultural, referência mundial do Brasil, merece uma gestão tão apequenada e simplista?

Gabeira colocou no programa de governo não aceitar indicações políticas para sua administração, enquanto Paes só mencionou o assunto após o sexto debate. O candidato do Partido Verde disse que não ia sujar as ruas, o que é um revés e tanto: sua cara e seu número não estariam o tempo todo aparecendo para o eleitor. Cumpriu sua promessa, mesmo assim. Pra que cumprir promessas antes mesmo da eleição, com o risco de estar em desvantagem na disputa?

Logo, voto em Gabeira por uma questão muito simples, dadas as circunstâncias: confiança. E o sentimento de que a minha cidade merece muito mais do que um mero síndico.

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