terça-feira, 8 de setembro de 2009

Questões existenciais

Um professor do curso de Psicologia de minha esposa levantou uma questão inédita (ou quase): como terá sido a primeira fome de um bebê? O pequeno ser, que sempre viveu em simbiose com a mãe enquanto dentro do ventre, até então nunca tinha passado necessidade para se alimentar. Nem sabia o que era isso. Mas após sair do recanto ideal, vem aquela sensação estranha e desconhecida... Vamos ouvir o relato do sujeitinho:

"Que frio! Esses paninhos aqui nem dão pro gasto. Pra piorar, não consigo abrir o olho direito - nem o esquerdo. Haha, meu primeiro chiste. Quanta luz! Pra que isso tudo, seus gigantes? É isso a vida, a existência cá fora? Aceito devoluções. Como se não bastasse sair todo melecado... Peraí. Queísso, meu Deus? Tá doendo aqui dentro. Não, não é dor. O que que eu tô falando, eu lá sei o que é dor? Bom, dor de frio sim. E eu lá sei o que é frio? Empiricamente, sim. Mas isso de agora é diferente. Eu preciso, preciso... de quê? De alguma coisa! Que eu não sei o quê! Mas eu preciso! Ai, ai, ai, que sensação estranha, diferente de absolutamente tudo que conheço... Me dá alguma coisa pra passar isso que eu não faço a menor ideia do que seja mas que já não aguento em minhas parcas horas de surgimento!! Ser gigante perto de mim, me ajuda! Faz alguma coisa! Estou em suas mãos! Literalmente, o que é pior! Ai... O que é isso? Isso vai durar pra sempre? Quanto é sempre????"

É claro que todo o parágrafo acima foi dito num sonoro e contínuo "unhé". Até que a mãe tira o peito pra fora e vai levando em direção ao bebê:

"Ser gigante, você está me oferecendo um pedaço de você? O que que eu vou fazer com isso? Canibalismo, a essa altura da vida? (peito encaixa na boca. A partir daqui, a narrativa descreve o pensar "bebênico") Hummm... isso é bom. Era disso que eu precisava... Pele e líquido. Já não estou sentindo tanto o que eu sentia antes. O que terá sido? Só sei que está passando... Ô delícia. Quando eu ia imaginar que a protuberância do ser gigante traria o manjar dos deuses? (mãe tira um pouco o peito, achando que já está bom) Ei, aonde vai com isso? Me dá! É minha propriedade! Eu quero! Eu exijo! Eu demando! Freud me explica E me justifica! Volta! A sensação estranha ainda permanece, ainda que menor... Rejeito essa sensação estranha! Ser gigante, não ouse me rejeitar! Plebe!"

Até o peito voltar à boca do bebê, os protestos também foram evocados no idioma "unhé". Após nova investida e aí sim o saciar, o bebê sossega e ouve a mãe dizer:

- Ele estava com fome!

"Estava com fome. Fome. Esse troço estranho chama-se fome? Fome. Nunca mais quero sentir isso na vida. Fome. Fo-me. F-o-m-e. Nascendo e aprendendo. Nada pode ser pior do que sentir fome."

Em seguida, o bebê começou a aprender que não era bem assim. Ele voltaria a sentir fome, e para exterminá-la teria sempre a companhia dos gases (e constrangimentos) de toda sorte.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fofo, Lessa!
Versão brasileira e suscinta de "olha quem está falando".
Hehehehe

Bia B.

Marcos André Lessa disse...

Hahahaha
Foi o q eu falei pra Carol!!!
Bjs