quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lei de Luciano



Decreto de Sergio Cabral favoreceu construções irregulares em Angra dos Reis.

Um dos beneficiados é Luciano Huck, dono de uma casa na Ilha das Palmeiras.

Ambientalistas movem uma ação civil pública contra o apresentador de TV.

O escritório da esposa de Sergio Cabral (já mencionado aqui antes) defende Huck na ação.

Elementar.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Elementar, meu caro Watson...


As coisas são muito mais simples do que pensamos. Enquanto nós, usuários do metrô carioca, somos obrigados a aturar desinformação e péssimos serviços prestados, ainda temos a pergunta que não quer calar: por que nada (absolutamente nada) acontece com a concessionária? Nenhuma multa, nenhuma ameaça de perda da concessão... E ainda temos que ouvir um "Pedimos desculpas pelos transtornos causados" do departamento de marketing da Metrô Rio.

Aí vejo o Globo resolve despertar de sua inoperância na fiscalização do poder público e crava: Escritório de advocacia da primeira-dama do Estado defende a concessionária Metrô Rio, numa ação movida pelo Ministério Público.

(Depois vi que quem deu a notícia foi a Folha de São Paulo. É preciso um jornal de outro estado pra fiscalizar o governador do Rio???)

A matéria está restrita a quem tem cadastro no Globo, mas diz, resumidamente, que a ação diz respeito à obrigatoriedade dos passageiros de utilizar o bilhete de integração apenas nas estações determinadas pela concessionária. Por que não em qualquer estação, de acordo com a necessidade do usuário?

O sócio da primeira-dama não vê problema, já que o escritório é um dos 20 que assessoram a empresa.  Mas vendo a situação do metrô e a pusilanimidade de Cabralzinho (que indica os titulares da Agência Reguladora de Transportes Públicos, responsável por fiscalizar e punir os concessionários quando couber), fico com a sensação de que mais um mistério foi resolvido.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


A culpa é do Fidel

Os franceses sabem fazer um bom filme (não podia ser diferente, já que o cinema foi inventado pelos irmãos Lumière). Um exemplo é “A culpa é do Fidel”, que consegue arrumar num ritmo ágil e sem correria um roteiro muito legal. As atuações, principalmente das crianças, valem o aluguel do DVD.

A história se passa em 1970 quando Anne-Marie, uma menina de aproximadamente 8 anos, filha de comunistas recém-engajados, percebe a polarização ideológica do mundo de então afetar o seu cotidiano. Não vou contar como isso se dá, pra não estragar as surpresas. Mas o filme nunca se afasta do ponto de vista da criança, e como ela tenta interpretar aquela realidade para sentir-se mais confortável.

O que posso dizer – e é um dos pontos que mais me chamou a atenção – é o modo de ver (e viver) o mundo que os pais de Anne-Marie encarnam. Se você olhar para 1971, em plena Guerra Fria, com os comunistas esperançosos e os capitalistas temerosos e prontos para destruir os inimigos, até se compreende. No entanto, o comportamento em questão perdura até os dias de hoje, inexplicavelmente.

Anne-Marie é repreendida pelo pai ao ser flagrada lendo quadrinhos da Disney. “Já não falei pra você não ler esse Mickey fascista?”. É forçada a participar de uma passeata para entender o que é solidariedade – e em determinado momento, a menina pensa que isso significa sempre ir com a maioria.

Ela também não compreende por que, no momento em que a mãe é solidária publicamente com as mulheres que abortaram contra a lei, o pai a condena por fazer isso em momento nada propício para o “movimento”. “Mas isso não é solidariedade?”, pergunta Anne-Marie, sem obter resposta convincente.

Anne-Marie coloca a mentalidade simplista dos pais sempre em xeque. Eles tentavam fazer uma criança entender realidades tipicamente adultas, sem sucesso. Hoje em dia, há que ainda pense como os pais de Anne-Marie, tentando encaixar numa lógica simplista as complexidades de nosso mundo.

Esses tipos, largamente encontrados em faculdades de ciências humanas, sindicatos e na classe política, enxerga (ou diz que enxerga) o mundo preto-no-branco, ignorando todo e qualquer contraste óbvio que a vida nos apresenta. Escolhem sempre a polarização – qualquer uma –, abdicam de pensar, de ouvir, de rever suas antigas opiniões, por mais desconexas que possam parecer. Nem tentam perceber as nuances do dia a dia, apenas censuram em nome da "causa".

A sorte deles é que não lidam com crianças como Anne-Marie. Ao contrário dela, os adultos não vão perturbar esses tipos com perguntas a torto e a direito, fiéis à demanda infantil dos infindáveis “por quês”. Mas nem por isso eles ficam quietos. Fazem questão de publicizar para o mundo ao redor que são superficialmente radicais e profundamente binários por opção – por mais ignorante que isso possa parecer.

Se em 1970 isso ainda se explicava, em pleno século XXI, com tantas certezas derrubadas por várias razões, esses tipos protagonizam o ridículo no cotidiano. Seus discursos e suas bandeiras parecem tão imbecis quanto ter a expectativa de que uma menina de 8 anos compreenda o que é fascismo.

Não obstante, esses tipos falam com suas audiências (forçadas ou não) como se estas fossem crianças. Constrangendo-as se pensam diferente deles, condenando-as pela ousadia em tomar outros rumos, rotulando-as pelas costas da forma mais covarde que puder. Só falta botar de castigo no cantinho ideológico.

Ver Anne-Marie expondo as incoerências da atitude desses tipos, personificados em seus pais, nos traz duas sensações: uma de vingança, se já fomos vítimas deles; outra, de contentamento, por estarmos cada vez mais certos que as certezas vão muito além da nossa vã racionalidade. E que é necessário a humildade de uma criança para viver sem maiores pesadelos, tampouco cinismo.

A vida de Anne-Marie sofre grandes e pequenas mudanças durante o filme, assim como seu modo de pensar e de se relacionar com quem está a seu alcance. Estranhos tornam-se próximos, raiva se transmuta em afeto, vergonha vira orgulho. E tudo da forma mais sincera e natural.

Certo estava o escritor Fernando Sabino, que escreveu seu epitáfio décadas antes de falecer: “Aqui jaz Fernando Sabino: nasceu homem, morreu menino.” Como a gente demora a perceber a importância desse processo! E enquanto não percebemos, como esses tipos teimam e se aproveitam da gente!

Sorte que os franceses ainda sabem fazer cinema, e me dão a chance de conhecer Anne-Marie.

domingo, 10 de janeiro de 2010

As cinco camisas do time do coração (*)

Simbiose e cumplicidade não são coisas automáticas, que o dinheiro adquira ou se encontre assim, fácil, fácil. Gente com isso, entre si, independente da genética, é coisa rara. Raro é valioso – veja só o ouro e os diamantes. Então, é coisa boa demais, tal e qual o time do coração. Pode ganhar, pode perder, mas time do coração não se move do coração.

Nem avô.

O avô chegou no coração do neto tempos depois de já ter nascido o time do coração. O coração do avô estava distante da mãe, mas o neto inventou de nascer e tudo se ajeitou. O time vivia uma fase de ouro, cansava de cansar de vencer e ser campeoníssimo, e no meio disso tudo chega o neto e cai no colo do coração do avô.

Pois as cores daquele time foram desbaratadas na frente do neto desde que ele começou a virar gente, e ele só se via feito gente se pudesse torcer pro time do coração. Culpa do avô. E como esse avô idolatrava sua própria culpa! Anunciava aos quatro ventos esse “crime” cometido. Mas se ele mesmo era “vítima” do neto...

As cores se repetiam, os títulos também, e a primeira pisada da planta do pé do neto num estádio, quem proporcionou? Quem levou os olhinhos maravilhados do garoto junto a seus ídolos de TV, bem de pertinho, descerrando a beleza do significado da palavra “autógrafo”? Esse avô que vivia no colo do neto não perdia tempo, nem oportunidade, mesmo beirando os setenta.

Avô é bom, mas acaba.

Se o neto vivia imaginando como ia ser esse mundo sem o avô, nunca chegaria ao sentimento acometido em novembro de um ano qualquer. O time do coração seria o mesmo? O futebol seria o mesmo? O neto seria o mesmo, já que agora não podia mais ser assim classificado?

O time do coração já não vivia grandes glórias. O neto vivia grandes saudades. E via na grandeza de sua saudade a certificação – óbvia – de como aquele avô era especial. A felicidade do neto era tamanha só por causa disso, e engoliu a dor de olhar pro lado, durante o jogo do time do coração, e não contemplar cabelos brancos.

Depois do fim, vem o seguro. E ele seguiu pra quem de direito. Não era muito.

O neto ficou com o cheque na mão.

E dali o cheque não saía.

Vontade de rasgar.

Vontade de não existir o sistema financeiro internacional, ou a seguridade social. Sem isso, não receberia aquele benefício. Aquele malefício.

O cheque seguiu pra conta, o valor sumiu com algumas dívidas pendentes, foi-se de vez. Melhor assim.

A camisa do time do coração era bonita – sempre foi. O avô adoraria dar camisas ao neto. Mas as oficiais, bonitonas e históricas, não tinham preços condizentes. O neto guardou com carinho as camisas do time do coração que o avô tinha comprado numa lojinha de esportes do bairro, que não vendia as oficiais, mas as “oficiosas”.

O avô não deu as melhores camisas do time do coração. Ele quis. Não deu.

Neto é bom, mas envelhece. E parece que quanto mais velho, menos neto ele parece ser, ainda mais quando o avô já não pode mais aparecer pra tomar a bênção.

Neto envelhece, amadurece, faz faculdade.

Faz prova pra um milhão de concursos, namora firme, rompe os ligamentos do tornozelo, ajuda nas despesas de casa.

Nesse cotidiano brasileiro junta um décimo-terceiro aqui, parcela um pouquinho acolá, e vai conseguindo as oficiais. Vem edição especial pra colecionador do time do coração e ele cai na armadilha (implicitamente desejada).

O armário vai ficando bonito. São cinco camisas do time do coração, que orgulho.

Orgulho do avô. Cadê o avô pra ver esse armário bonito?

A memória pode ser traiçoeira, mas também é oportunista, graças a Deus.

A memória olha as camisas e lembra do avô.

A memória lembra do avô e lembra do cheque.

A memória lembra do cheque e do seu valor.

A memória recapitula os preços das cinco camisas do time do coração.

A memória faz a graça matemática de somar o que já estava predestinado.

A memória mostra pro neto que o avô não se foi sem fazer o que queria.

(*) Texto escrito faz um tempinho. A foto é de 1984, conforme minha idade na palma da mão.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tiger e seus arranhões

O mundo ficou chocado com as revelações da vida íntima do superastro do golfe Tiger Woods. Concordo que o planeta poderia estar em choque por coisas muito mais importantes para a humanidade do que isso, mas...

Mas o que reverberou da (ainda suposta) compulsão sexual do atleta foi não só a fuga como a decepção dos seus patrocinadores. Sim, grandes empresas do mundo corporativo como AT&T, Gillete e Nike tiveram seus desapontamentos bem definidos na afirmação da diretora de uma agência de publicidade européia:

"Tiger Woods simplesmente não se comportou como uma marca de US$ 1 bilhão."

Cumequié?

Pessoas que devem se comportar como uma marca. Assim como Michael Jordan, Ronaldo Fofômeno e tantos outros, Woods chegou a esse limiar: deixou de ser gente, virou marca. Associar sua empresa à marca Tiger Woods era lucro certo, por todos os atributos que o golfista apresentava.

Só que não mataram a pessoa... E ela veio à tona quebrando todos os valores que a marca já tinha garantido. Traição, luxúria, destruição da família não estavam nos planos das grandes empresas que surfavam na onda de credibilidade que Woods apresentava. Tão logo essa onda cessou, não houve nenhum constrangimento para encerrarem os patrocínios. Afinal, Tiger "rompeu o contrato": não era isso que ele deveria oferecer a seus "patrões-parceiros" hematófagos.

Até onde a imagem vai ditar o ritmo da realidade?

Até a realidade falar mais alto e calar as pretensões da imagem.

Em marketing aprendemos que "imagem é percepção". Ou seja, é a velha máxima da mulher de César, pela metade: o negócio é parecer honesto. Se por acaso você for, ajuda.

Porém no momento em que um episódio de sua vida privada é amplificado pelas tecnologias de comunicação mundiais... Automaticamente, todo o mundo terá a mesma percepção sobre você, e sua contra-argumentação nunca será na intensidade suficiente para equilibrar as coisas. A imagem de Tiger Woods foi corroída em tempo real.

Se chegamos a um ponto em que devemos nos comportar como uma marca, talvez os grandes patrocinadores esperem que sejamos como a personagem de Laura Linney em "O show de Truman". Ela é a mulher do protagonista e, dentro de casa, está sempre a postos para fazer um merchandising, portando-se artificialmente em sua vida conjugal.

Era isso que esperavam de Tiger Woods? Ou simplesmente que não deixasse seus demônios "vazarem" para o mundo real? De um jeito ou de outro, é hipocrisia legitimada.

No Brasil, Ronaldo. Nos EUA, Tiger Woods. Quantas personalidades-marca terão que se imolar na vida pessoal para destruir a bolha ilusória do marketing? Porque após isso, o que fica é o real, pronto para ser realisticamente avaliado: se o goleador e o golfista têm o talento anunciado. Se têm, continuemos a acompanhá-los, a despeito de serem ou não uma marca.