O mundo ficou chocado com as revelações da vida íntima do superastro do golfe Tiger Woods. Concordo que o planeta poderia estar em choque por coisas muito mais importantes para a humanidade do que isso, mas...
Mas o que reverberou da (ainda suposta) compulsão sexual do atleta foi não só a fuga como a decepção dos seus patrocinadores. Sim, grandes empresas do mundo corporativo como AT&T, Gillete e Nike tiveram seus desapontamentos bem definidos na afirmação da diretora de uma agência de publicidade européia:
"Tiger Woods simplesmente não se comportou como uma marca de US$ 1 bilhão."
Cumequié?
Pessoas que devem se comportar como uma marca. Assim como Michael Jordan, Ronaldo Fofômeno e tantos outros, Woods chegou a esse limiar: deixou de ser gente, virou marca. Associar sua empresa à marca Tiger Woods era lucro certo, por todos os atributos que o golfista apresentava.
Só que não mataram a pessoa... E ela veio à tona quebrando todos os valores que a marca já tinha garantido. Traição, luxúria, destruição da família não estavam nos planos das grandes empresas que surfavam na onda de credibilidade que Woods apresentava. Tão logo essa onda cessou, não houve nenhum constrangimento para encerrarem os patrocínios. Afinal, Tiger "rompeu o contrato": não era isso que ele deveria oferecer a seus "patrões-parceiros" hematófagos.
Até onde a imagem vai ditar o ritmo da realidade?
Até a realidade falar mais alto e calar as pretensões da imagem.
Em marketing aprendemos que "imagem é percepção". Ou seja, é a velha máxima da mulher de César, pela metade: o negócio é parecer honesto. Se por acaso você for, ajuda.
Porém no momento em que um episódio de sua vida privada é amplificado pelas tecnologias de comunicação mundiais... Automaticamente, todo o mundo terá a mesma percepção sobre você, e sua contra-argumentação nunca será na intensidade suficiente para equilibrar as coisas. A imagem de Tiger Woods foi corroída em tempo real.
Se chegamos a um ponto em que devemos nos comportar como uma marca, talvez os grandes patrocinadores esperem que sejamos como a personagem de Laura Linney em "O show de Truman". Ela é a mulher do protagonista e, dentro de casa, está sempre a postos para fazer um merchandising, portando-se artificialmente em sua vida conjugal.
Era isso que esperavam de Tiger Woods? Ou simplesmente que não deixasse seus demônios "vazarem" para o mundo real? De um jeito ou de outro, é hipocrisia legitimada.
No Brasil, Ronaldo. Nos EUA, Tiger Woods. Quantas personalidades-marca terão que se imolar na vida pessoal para destruir a bolha ilusória do marketing? Porque após isso, o que fica é o real, pronto para ser realisticamente avaliado: se o goleador e o golfista têm o talento anunciado. Se têm, continuemos a acompanhá-los, a despeito de serem ou não uma marca.
2 comentários:
Adorei o texto, adorei a leitura diferente em cima de um fato que já deve ter sido para lá de debatido. Mas... ajude a sua coleguinha que não tem TV em casa e não leu o jornal nos últimos dias: que diabos o Tiger Woods fez? Eu sei que uma simples busca no google me traria a resposta, mas bateu uma preguiça de pesquisar...
É melhor procurar, pq a história é meio longa...
Postar um comentário