UP!
Quando estamos acostumados com animações digitais recheadas de referências e piadas para adultos, surge uma em que o lirismo é a principal característica. UP até possui o humor que já é famoso no gênero, mas em menor medida. O que cativa no filme são aspectos dramáticos em alta qualidade.
Um de seus grandes méritos é conseguir essa empatia a partir de um argumento quase estapafúrdio: um velhinho resolve se embrenhar na Amazônia voando com sua casa sustentada por milhares de balões. Tudo para cumprir uma promessa feita à esposa.
O velhinho terá a companhia forçada de um pequeno escoteiro cuja única medalha de honra que lhe falta é a de ajuda a um idoso. Além de ser a antítese das rabugices do velhinho, o guri é a encarnação da inocência desconcertante em vários momentos da história.
Como em toda boa animação, os dois protagonistas da história apresentam características que rompem com a tradição politicamente correta de Hollywood. O escoteiro é filho de pais divorciados, por exemplo. E o velhinho vira herói sem deixar de ser idoso, ainda que sua agilidade sexagenária possa ser questionável em algumas cenas (mas é um desenho de ficção, ora!).
Porém o melhor de UP são os momentos poéticos que ele apresenta. Seja no voo da casa, na trilha sonora muito bem colocada (Michael Giacchino, de Lost), nas conversas do velhinho com o garoto, nos objetivos que cada um deles (e também o vilão da história) possuem. Em tudo se percebe uma sensibilidade quase em 3D.
O fato do filme se passar quase sempre nos céus também nos deixa em suspenso (principalmente pra quem tem medo de altura, como eu), e é um recurso que se transforma num componente imprescindível ao roteiro. A já citada sensibilidade é tamanha que até mesmo a moral da história é passada de forma sutil.
E essa moral me tocou bastante. A ideia de que altas aventuras podem ser vividas no seu cotidiano, e que elas podem compor um mosaico tão impressionante quanto a biografia dos grandes exploradores universais. É muito difícil olharmos pra nossa vida sob esse viés, mas é exatamente isso que o roteiro fantástico (não como adjetivo, mas como gênero) me provocou.
Fora a reflexão, o filme é bonito. Bonito de ver, de acompanhar, de sentir. Um filmaço. As animações digitais estão cravando seu lugar na história do cinema, tanto nas bilheterias quanto na crítica. E UP mostra como a delicadeza na narrativa consegue desarmar qualquer um.
Trailer aqui.
3 comentários:
Maninho, vi este filme pela primeira vez no último sábado e ainda me encontro extremamente tocada pela história. Parabéns pela crítica perfeita, vou recomendar! bjs
Valeu, maninha! Olha só, vi pela primeira vez na sexta-feira... E é primeira mesmo, pq verei de novo com certeza!
Oi, Lessa! Fiquei com muita vontade de ver essa filme depois que a DeGenaro contou a história, com essa descrição então, tornou-se parada obrigatória. Já está disponível na Macedônia? Vou dar um pulinho lá e alguar para ver com a Gabi assim que ela estiver de volta. Sds, C.
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