terça-feira, 1 de março de 2011

Shakespeare tem razão



Estou cansado da marcação cerrada em cima do deputado federal e palhaço Tiririca. Ótimas capas de jornal são feitas, a revolta popular é requentada, mas acredito que somos palhaços (no mau sentido) por outros motivos.

O bode expiatório é conveniente, sempre foi, e agora não está sendo diferente. Bater no lado mais fraco idem. Ou seja, culpemos (e malhemos) Tiririca e seus eleitores a torto e a direito, esquecendo-nos (?) dos reais orquestradores de todo esse novo circo.

Que tal falarmos do sistema de votação, que permite a um candidato eleger outros tantos, mesmo que tenham conseguido míseros votos? É justo isso, esse tal de quociente eleitoral? Se um cara não consegue votos nem pra vereador por quem o quis, por que meu voto em outro deve arregimentá-lo a um mandato contra a minha vontade? Tiririca, com seu milhão de votos, levou mais quatro do Partido da República (PR).

A reforma política é entoada por tudo que é postulante ao cargo de presidente e de parlamentar. Está na pauta da reforma a questão do quociente eleitoral?

Isso nos leva a outra questão: por que o PR aceitou Tiririca como candidato? Obviamente, pensando no quociente eleitoral e em ter mais um joguete nada questionador nas votações do Congresso. Se o palhaço conseguiu ser eleito, precisou de uma legenda para isso. Qual o programa que rege os ideais do PR? Seus candidatos identificam-se com ele para se filiarem?

Agora perseguem Tiririca porque ele vai participar da Comissão de Educação e Cultura. Sendo artista de circo, imagino que vá lutar pelos interesses da classe. Logo, tem que participar da Comissão que trata do tema. Logo, Comissão de Educação e Cultura. Ele não está lá pela Educação, embora esse seja o gancho tentador de todos os jornais.

Por que não aplicar a mesma revolta com outros parlamentares? Vamos olhar a Comissão de Constituição e Justiça: há deputados com (no mínimo) ficha limpa para legislar sobre a questão? Nas discussões sobre concessão de rádio e TV, que não podem ser destinadas a parlamentares:  estão legislando em causa própria? Podem fazer isso?

Na fiscalização dos gastos com a Copa 2014: vão ser benevolentes com os desmandos da falta de licitação, da chantagem dos doadores de suas milionárias campanhas a parlamentares, como as todo-poderosas empreiteiras?

Se nada disso acontece, se estamos gastando a nossa indignação com um palhaço semi-analfabeto que vai ser só mais um, e não com os manda-chuvas que se perpetuam no poder espertamente... Então Shakespeare tem razão: "há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia". Ou a nossa vã (e conveniente) ingenuidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aliás, cá entre nós, bate-se muito nos políticos porque, no fundo, são também a parte mais fácil de bater. Se empenhassem a mesma energia para criticar certos empresários, certas multinacionais...