terça-feira, 23 de julho de 2013

Decretado o AI-5 no Rio de Janeiro

 
Se as atitudes do governador Sergio Cabral durante todo o seu mandato e as ações da Polícia Militar já indicavam que a democracia andava mal das pernas no Rio, ontem o quadro ficou grave. Depois da cerimônia com o papa, quem acompanhava as redes sociais testemunhou não só conflitos, como abusos de autoridade etc. Mas o pior foi ver o perfil oficial da PM no Twitter dizendo que filmar era crime e depois saber do decreto de Cabral que cria a "Comissão Especial de Investigação de Vandalismo", com poderes acima da lei. Voltamos a dezembro de 1968.


São muitos os vídeos que mostram policiais prendendo pessoas sem sequer dizer o motivo, encurralando outras dentro de um carro e até mesmo atacando médicos voluntários que assistiam manifestantes dentro de um prédio. As evidências estão à disposição, feitas pelos próprios moradores de Laranjeiras, ou por qualquer um que tivesse um celular em meio aos protests.

Até que o perfil oficial da PM anunciou que filmar cenas de violência e disponibilizar na internet era crime. Poder Executivo legislando, e praticamente em causa própria, pois foi através das filmagens amadoras que soubemos dos abusos policiais.

Não satisfeitos, em seguida o mesmo perfil publicou que a OAB-RJ estava prejudicando o trabalho da polícia. Nessa hora a semântica se inverteu pra mim: ainda bem que estão prejudicando. Imagine se não estivessem?

Logo em seguida, me correu o frio na espinha: Sergio Cabral publicou decreto que cria a Comissão Especial de Investigação de Vandalismo. O ato foi bem analisado por Bernardo Santoro, mas destaco que ele é publicado dois dias depois que a polícia teve ordem de não conter os vândalos no Leblon. Com a bárbarie liberada (e provocada?), Cabral tinha o pretexto ideal para criar um estado de exceção oficioso.

Pra se ter uma ideia, segundo o decreto as operadoras terão que fornecer em 24h dados telefônicos e de navegação de quem for classificado como "vândalo". Algo que só é possível com ordem judicial. E que as investigações de vandalismo serão prioridade - à frente da resolução de casos de homicídio ou estupro, por exemplo.

E agora? O Poder Executivo legisla, intimida manifestantes, constrange quem pode defendê-los e o Jornal Nacional diz que "a polícia já tem a situação sob controle". Alguma coisa tem que ser feita. Ou então estaremos de volta a 1968 pelas mãos do governador que teve seu pai preso pela ditadura - sob os mesmos motivos que o filho evoca atualmente para agir.

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